Pacientes com Síndrome de Down apresentam características específicas e devem ser acompanhados durante toda a vida por uma equipe multidisciplinar que contemple o atendimento por um cirurgião-dentista.
Em atenção ao Dia Internacional da Síndrome de Down, celebrado em 21 de março, o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) aborda aspectos importantes da condição e do atendimento odontológico.
A cirurgiã-dentista mestre em Ciências da Saúde e especialista em Odontologia para pacientes com necessidades especiais Dra. Adriana Zink lembra que a Síndrome de Down não se trata de uma doença, mas de uma condição do indivíduo na qual não se fala em cura ou tratamento, mas sim em controle das condições decorrentes dessa anomalia genética, apresentadas de forma sistêmica ou local.
A especialista informa que pessoas com Síndrome de Down geralmente apresentam alterações nos dentes e estruturas envolvidas na mastigação, deglutição e respiração, as quais devem ser acompanhadas e tratadas, preferencialmente, de forma precoce.
“São comuns alterações como o nascimento tardio dos dentes de leite (dentes decíduos) e frouxidão muscular (hipotonia), o que interfere na amamentação, na respiração e na mastigação. Isso contribuirá para a ocorrência de alterações no desenvolvimento dos ossos maxilares e no posicionamento dos dentes, levando a problemas de oclusão”.
Entre as anomalias dentárias mais frequentes, Dra. Adriana destaca a oligodontia, microdontia, hipodontia nas duas dentições, fusão, taurodontia e alterações dentárias de desenvolvimento de coronárias e radiculares, entre outras menos frequentes.
“Podemos acrescentar, ainda, o retardo de erupções, as alterações de estruturas dentárias, a doença periodontal, a presença de candidíase, a respiração bucal e as alterações nas vias respiratórias (apresentam maior prevalência na garganta, ouvido, nariz e vias aéreas, devido à deficiência imune associada à hipotonia muscular e anatomia alterada).”
Higiene bucal
A higiene bucal do paciente também requer atenção especial. Devido à deficiência motora, neurológica e diminuição do tônus muscular generalizada, característicos de pessoas com a Síndrome de Down, a dificuldade de realizar uma higienização bucal eficiente é algo recorrente – o que, segundo a especialista, ocasiona maior acúmulo de biofilme bacteriano e, por consequência, a suscetibilidade de manifestação da doença periodontal.
“O ideal seria o acompanhamento desde o nascimento com orientações sobre amamentação, posicionamento de língua, indicação de aparelhos ortopédicos e reposicionadores de língua, entre outros. Devemos incentivar e proporcionar capacitações em cuidados odontológicos específicos para pais, mães e cuidadores de pessoas com Síndrome de Down”.
Dra. Adriana acrescenta que as complexidades sistêmica, neurológica e funcional poderão auxiliar na elaboração de um plano de retorno individual do paciente ao consultório odontológico de acordo com sua necessidade específica.
Momento do atendimento também é ideal para orientar
A abordagem precoce é sempre a melhor opção. As técnicas de manejo, juntamente com a ajuda dos pais, vão proporcionar a essa criança um vínculo entre profissional e paciente, gerando conforto e confiança mesmo com sua deficiência neurológica, o que facilita o trabalho do cirurgião-dentista e, também, o aceite da família e dos cuidadores.
Dentre os métodos utilizados, os principais para pacientes com Síndrome de Down são: comunicação verbal e não verbal, dizer-mostrar-fazer, controle de voz, reforço positivo, distração e dessensibilização, ludoterapia (forma de terapia voltada principalmente para crianças) e, caso necessário e pré-estabelecido com os responsáveis e aceito, as estabilizações, as sedações ou até mesmo a indicação do tratamento sob anestesia geral em ambiente hospitalar.
“Se trabalharmos processos preventivos precocemente, muito provavelmente não serão necessários tratamentos mais invasivos e com necessidade de estabilizações, sedações ou hospitalizações”, pondera a especialista.
As orientações de como cuidar da alimentação também são bem-vindas no momento do atendimento, especialmente se forem acompanhadas por dicas específicas sobre a dieta e controle de açúcares, pois irão auxiliar tanto no controle da obesidade comum a esse grupo de pacientes como na saúde oral.
Durante o atendimento, a demonstração do método de higienização da boca deve ser repassada com o apoio da família, criando hábitos precoces por meio do acompanhamento de profissionais adequados e habilitados.
A cirurgiã-dentista observa, também, que as famílias devem receber orientações individualizadas sobre tipos de escovas, fio dental, dentifrícios, a importância do flúor e a quantidade ideal para uso com segurança dentro de cada idade, além da orientação de abertura de boca para conquista da higiene bucal diária.
O trabalho do cirurgião-dentista com o paciente com Síndrome de Down, segundo a Dra. Adriana, deve estar voltado para a promoção de saúde, já que sabe-se que a cárie e a doença periodontal têm grande relação com a presença do biofilme frequente nesta população e devem ser acompanhadas de forma individualizada. Existem pacientes que necessitam de retorno mensal e outros, semestral. “Lembre-se de procurar um especialista em Odontologia para pacientes com necessidades especiais no site do Conselho Regional de Odontologia de seu Estado. Este profissional está apto a acompanhar a pessoa com Síndrome de Down durante toda a vida e promover a saúde bucal”, finaliza a especialista.
Fonte:
Cirurgiã-dentista mestre em Ciências da Saúde e especialista em Odontologia para pacientes com necessidades especiais Dra. Adriana Zink
Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) é uma autarquia federal dotada de personalidade jurídica e de direito público com a finalidade de fiscalizar e supervisionar a ética profissional em todo o Estado de São Paulo, cabendo-lhe zelar pelo perfeito desempenho ético da Odontologia e pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exercem legalmente.