Os sintomas caracterizam-se por serem uma forma de expressão do inconsciente
As transformações hormonais do início da gravidez podem explicar, em parte, a presença de sintomas neste período.
Visto que toda gestante passa por elas e nem todas manifestam os mesmos sintomas e que estes apresentam variações quanto à ocorrência, severidade e persistência, os sintomas caracterizam-se por serem uma forma de expressão do inconsciente.
Sendo assim, estão em relação direta com a história pessoal da mulher, história do casal, momento que estão vivenciando, bem como o tipo de personalidade da gestante.
Por ser a gravidez um período emocionalmente riquíssimo e fecundo e que propicia a regressão a uma infância mais precoce, os conflitos infantis, conscientes e inconscientes mal elaborados, reatualizam-se.
Assim, a formação dos sintomas seriam uma forma do corpo expressar uma palavra “em sofrimento”. O significado de cada um torna-se, então, específico a cada gestante e assim deve ser compreendido e interpretado.
Muitas mulheres percebem-se grávidas antes mesmo da confirmação de qualquer exame clínico e ou laboratorial, outras muito mais tarde. Nestes casos, poder-se-ia pensar que está em jogo um auto-conhecimento profundo, uma sintonia com o próprio corpo, quando qualquer alteração é perfeitamente percebida pela mulher, ou então, uma negação da futura maternidade, como se com isto pudesse evitar a gravidez ou suas preocupações frente a ela.
Um dos primeiros sintomas a surgir é a hiperinsônia, uma sonolência tão intensa durante o dia, que as horas costumeiramente dormidas já não se fazem suficientes. A mulher passa a ficar mais introvertida, afasta-se dos demais, como se precisasse evitar os estímulos internos e externos através do repouso, numa preparação para o trabalho que se inicia. Durante a noite, entretanto, pode surgir a insônia, que deve ser compreendida como uma ansiedade frente à gravidez, já que o atraso menstrual começa a suscitar dúvidas.
Com o estado regressivo, a mulher revive inconscientemente seu próprio nascimento e, identificando-se com o bebê, passa a funcionar como se fosse ele, dormindo durante o dia para acordar durante à noite.
Isto porque à noite, com o corpo reagindo contra as queimações estomacais, má digestão, azia, pernas pesadas e o fato de se levantar várias vezes para ir ao banheiro, a gestante não para de se mexer, e isto poderia explicar o fato de o recém-nascido ficar com o ritmo de sono invertido. Náuseas e vômitos são outros sintomas comumente passíveis de ocorrer no primeiro trimestre, quando ainda a mulher não tem a confirmação da gravidez ou simplesmente pelo fato de não ver-se grávida, uma vez que seu corpo não apresenta alterações visíveis.
Geralmente ocorrem pela manhã, ao despertar, e necessariamente também funcionam como uma clara evidência desta gravidez, ao mesmo tempo que são uma válvula de escape ante a ansiedade da dúvida.
Estudos realizados quanto à severidade desta ocorrência demonstraram que a presença destes sintomas de forma moderada, podem ser explicados como sendo originários das transformações biológicas que acometem a mulher.
Desta forma, quando da manifestação severa de náuseas e vômitos e que se constituem na hiperemese gravídica, os mesmos estudos revelaram profunda e forte influência da ambivalência materna com relação ao seu estado.
A hiperemese gravídica é um distúrbio que coloca em risco a gestação, pela frequência contínua dos vômitos e náuseas, muitas vezes sendo necessária a hospitalização da gestante, seja pelo perigo de desidratação como pela possibilidade de aborto.
Assim, as mães que rejeitaram ou aceitaram claramente a gravidez, não foram as que manifestaram tais sintomas, porém, as que mais oscilaram entre aceitá-la e rejeitá-la. Como se através dos vômitos pudessem eliminar os sentimentos negativos de rejeição, ficando apenas com os positivos que se referem à aceitação, dissociando o bom e o mau dentro de si.
Se entendemos que a mulher encontra-se em estado regressivo, de intensa identificação com o seu bebê, podemos relacionar tais sintomas também como uma forma de expressão desta identificação, ou seja, até os três primeiros meses de vida extra-uterina, o bebê também apresenta vômitos e náuseas. A mulher estaria antecipando o que vivenciaria com ele.
Outra manifestação típica deste período é a presença dos desejos e das aversões. Houve um tempo em que estes sintomas eram muito mais intensos e frequentes e que coincidiam com a incapacidade de encontrar o objeto dos desejos para satisfação da mulher, bem como a relação altamente dependente desta com seu parceiro.
Atualmente, com a disponibilidade dos alimentos congelados, mesmo fora de época, é possível encontrá-los em supermercados e casas do gênero e a mulher não se encontra mais na mesma relação de dependência, podendo ela mesma satisfazer seus desejos sem a participação do parceiro.
Refletindo sobre este aspecto, poder-se-ia deduzir que, através dos desejos incontroláveis, a mulher estaria expressando outra coisa, talvez chamar a atenção do pai do bebê, pressioná-lo inconscientemente, a se ocupar deste filho que estava sendo gerado. Seria uma forma, também, de o homem começar a exercitar seu papel de futuro pai, já que naquela época, muito mais que agora, a criação do filho era tida como função exclusivamente da mulher.
Hoje em dia, com todos os estudos elaborados, nossa cultura insistindo na importância da presença paterna desde o início da gravidez, com a conscientização do homem que o tornou mais participativo, podemos crer que os desejos incontroláveis começar a perder a razão de ser.
Mas os desejos também podem ser vistos como um primeiro discurso deste filho que está sendo gerado, ou seja, expressão de uma necessidade nutritiva. Assim, a mãe já estaria captando seus desejos e satisfazendo-os, numa relação de troca, de sintonia com as necessidades dele.
As crises de choro incontroláveis por que passam algumas gestantes, seguidas ou não de atitudes mais depressivas, são outros sintomas comuns à gravidez e que independe do o fato de ter sido desejada ou não.
Muitas mulheres se chocam ante tais sensações, pois não condizem com a felicidade de estar esperando um filho. Desta forma, qualquer coisa pode levar a mulher às lágrimas, sem compreensão aparente. Poder-se-ia dizer que tais manifestações têm relação com a hipersensibilidade materna, porém não bastaria.
Novamente podemos relacionar tais sintomas com o estado regressivo em que se situa a gestante e que encontra eco com a primeira expressão do recém-nascido: o choro.
Poder-se-ia, também, relacioná-lo com uma maneira inconsciente de fazer lugar ao filho. Como se a mulher precisasse, através das lágrimas, elaborar a perda do próprio lugar de filha para assumir seu novo papel de futura mãe. Uma necessidade inconsciente de deprimir-se, fragilizar-se, para permitir que o filho adquira forças para ocupar seu próprio lugar.
As oscilações de humor seriam compreendidas, então, como o próprio esforço da gestante em se adaptar a uma nova realidade de vida e que acarreta novas responsabilidades, funções e aprendizagens.
Assim também, a presença de maior apetite e que, consequentemente, leva ao aumento exagerado de peso da gestante. Pode-se pensar que é devido à ansiedade frente à nova situação ou mesmo pela ansiedade da dúvida de uma gravidez ainda não confirmada ou até mesmo pela necessidade de fazer um lugar na sociedade, já que seu corpo ainda não está visivelmente grávido.
Muitas vezes o ambiente social imediato, aqui incluindo o futuro papai, não compreende e critica a gestante por sua instabilidade emocional, por não se cuidar ou pela indisposição em executar as tarefas do cotidiano, o que reforça a culpa da mulher.
Tais reações fazem-na sentir-se mais só e abandonada, desprovida do apoio e atenção que tanto necessita e a faz sofrer intensamente.
Mas o homem também se encontra fragilizado, desestabilizado, tentando transpor suas próprias dificuldades e angústias, com grande esforço. Assim, as reações do ambiente nem sempre são as esperadas pela gestante, decepcionando-a sobretudo.
Concluindo, poderíamos compreender que, pelo fato de a mulher inconscientemente se perceber remetida à sua própria origem, numa identificação maciça com o bebê que espera, repete sua própria história na gravidez, antecipando a história do bebê.
Assim, os sintomas iniciais do primeiro trimestre da gravidez seriam uma repetição antecipada do que a espera em relação ao recém-nascido, neste mesmo período de vivência extra-uterina.
Até o terceiro mês de gestação, o embrião encontra-se em estado fusional, numa dependência total com a mãe. Os sintomas, então, podem ser compreendidos como uma palavra em sofrimento tanto no que concerne à mulher como ao filho que espera. Poderiam ser explicados como uma reatualização do próprio início de vida da gestante, como se vivenciando novamente esta fase pudesse adquirir maior compreensão das necessidades do recém-nascido, podendo, desta forma, satisfazê-lo com maior chance de sucesso.
Vale ressaltar, mais uma vez, que os sintomas, por serem inconscientes, não devem ser interpretados igualmente a todas as gestantes, pois dependem do contexto em que foi gerado o bebê, da história de vida da mulher, do casal e do tipo de personalidade dela. Assim, cada sintoma terá um significado próprio para cada gestante e será diferente, também, na mesma mulher porém em outra gestação.
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