Resultado de uma pesquisa recente pode fazer as pessoas acreditarem que o uso de drogas e obesidade não têm relação com a infertilidade masculina.
Em junho, visitando um portal importante na internet, o título de uma matéria chamou minha atenção: Fumar e beber tem “pouco efeito” sobre fertilidade masculina, diz estudo. Ao ler o texto descobri que foi publicado originalmente no site da BBC Brasil e reproduzido naquele e em vários outros veículos de comunicação que têm esse direito. A matéria divulgava recente trabalho realizado por pesquisadores do Reino Unido, e publicado na revista Human Reproduction, afirmando que tabagismo, obesidade, álcool e “drogas recreativas” têm pouco efeito sobre a fertilidade masculina e a qualidade do sêmen. Porém, friso que é necessário se tomar muito cuidado com essa afirmação, pois, ao se avaliar o estudo em questão, vemos que isso não é bem verdade e pode levar o leitor a ter ideias erradas. É preciso ler cuidadosamente o texto para entender que não é bem assim.
O estudo, realizado pelo Dr. Andrew Povey e colaboradores da Universidade de Manchester, compara homens com diminuição na concentração de espermatozoides móveis com homens com concentração normal e analisa vários aspectos de estilo de vida. Na pesquisa, não houve diferença entre os grupos em relação a tabagismo, obesidade, consumo de álcool e “drogas recreativas”. Assim, concluíram que esses hábitos alteram pouco a concentração e motilidade dos espermatozoides, porém, isso não significa que não interfiram na fertilidade. Como o próprio artigo ressalta, não foram avaliados outros parâmetros do espermograma muito importantes como a morfologia (forma dos espermatozoides) e a integridade do DNA dos espermatozoides.
É sabido que a morfologia alterada está relacionada às menores taxas de fertilização e gravidez obtidas com tratamentos de fertilização in vitro. Além disso, outros estudos, também recentes, têm mostrado que a avaliação da fragmentação do DNA também é importante. Taxas altas estão relacionadas a menores chances de gravidez espontânea ou com tratamento, além de um maior número de abortos. Entre as causas mais comuns desta alteração estão dieta inadequada, fumo, álcool e drogas. Além disso, vários estudos demonstram uma associação de obesidade, tabaco, álcool e drogas com menores taxas de gravidez e de sucesso nos tratamentos de infertilidade, independente da concentração seminal.
É válida a ressalva feita pelos autores do estudo inglês que não se deve esperar a mudança de hábitos para se iniciar um tratamento. Adiar procedimentos, esperando que, com alterações no estilo de vida consiga-se melhorar a qualidade do sêmen e se alcançar uma gravidez não é adequado, uma vez que o fator idade ainda é o mais importante no sucesso dos tratamentos de reprodução assistida. Entretanto, diminuir ou abolir o álcool, cigarros, drogas, assim como estar no peso ideal, será benéfico na obtenção de gravidez, enquanto sua manutenção realmente pode prejudicar a fertilidade.
Estou fazendo este alerta, pois, alguém ao ler uma matéria com o chamativo título afirmando que consumir álcool e cigarro afeta pouco a fertilidade pode ter a errônea ideia de que essas substâncias não influenciam na preservação da fertilidade e sucesso nos tratamentos de reprodução, o que não é verdade. Orientar a mudança de hábitos continua sendo muito importante como medida adjuvante aos tratamentos de reprodução assistida.
E vamos ser sinceros, fumar, usar drogas, estar acima do peso ou consumir álcool em excesso sempre trarão consequências negativas ao corpo humano e não estamos falando só de fertilidade. Quanto mais preservarmos nosso corpo, mais e melhor ele funcionará.