Médico ortopedista alerta que, tanto o sedentarismo quanto o excesso de atividades físicas representam as maiores causas de inflamação nos tendões; No entanto, entre os sedentários, excesso de telas leva a inflamações no punhos e nas mãos
A inflamação nos tendões, conhecida como tendinite, tem crescido entre crianças e adolescentes nos últimos anos. Segundo o médico ortopedista e membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), Cleber Furlan, é possível dividir esses casos em dois grupos: jovens que praticam atividades físicas com mais intensidade, ao nível de sobrecarga, e sedentários.
O primeiro grupo corresponde a crianças e adolescentes que praticam esportes com alta frequência, às vezes por uma necessidade de preencher os horários do seu dia ou por incentivo ao excesso de atividades em razão do acúmulo de energia. Por qualquer que sejam os motivos, essa intensidade pode acarretar tendinites, principalmente de ombro e de cotovelo – para quem joga tênis ou o famoso beach tennis, por exemplo -, de quadril, joelho e também no tornozelo – em especial para esportes com bola, balé, ginástica, dança.
O outro grupo se refere às crianças e adolescentes que se enquadram como sedentários, ou seja, não cumprem atividades físicas suficientes para resultar em um gasto calórico saudável. É comum, nesses casos, que o uso excessivo de telas de computador, tablet ou celular leve a uma postura inadequada que contrai tendinites, como processos inflamatórios no cotovelo, nos punhos e nas mãos.
Estudos da UFMG, a partir de uma amostragem de 6 mil pais de crianças e adolescentes, apontaram que o uso excessivo de celulares aumentou durante e após a pandemia. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, o recomendado para crianças pequenas (2 a 5 anos) é até uma hora por dia, podendo chegar ao máximo de 3 horas diárias para jovens entre 11 e 18 anos. Diante disso, Furlan notificou uma maior incidência de tendinite em pacientes mais jovens, como crianças e adolescentes, em seu consultório nos últimos anos. Em razão da pandemia, o tempo de uso de telas cresceu de forma prejudicial a esses grupos, que ainda estão em sua fase de crescimento e desenvolvimento cognitivo.
De forma geral, a alteração que essas novas tecnologias, como tablets e telas de celulares, trazem é uma justificativa para esse aumento de casos. Isso porque nas décadas de 1970 e 1980, eram comuns as máquinas de escrever com datilografia, em que se usavam todos os dedos e havia melhor postura de uso. Na época, existiam inclusive cursos para aprender a equilibrar as mãos durante a datilografia, usando de forma correta todos os dedos, os tendões e a musculatura.
Hoje, o dedo mais utilizado para digitar nos tablets e telas é o polegar, que não tem uma estrutura de apoio tão adequada, pensando em anatomia, quanto os outros dedos, o que leva a tendinites e a desgastes nas articulações – conhecidas como artroses.
Os principais sintomas de toda tendinite são dor e limitação da mobilidade. No começo, a rigidez, dificuldades de mobilização, de apoio e de fazer força podem ser indicativos para uma inflamação dos tendões. É uma condição frequente para grupos de 7 a 15 anos, que estão mais frequentemente associados ao mau uso de tablet (no que se refere à postura) e ao excesso de práticas esportivas.
Uma vez identificado o fator de causa, é necessário conversar com a criança, com os pais, e buscar atividades que possam mitigar a inflamação e não piorar as dores. Nos casos de pacientes sedentários, o mais indicado é o método RPG (Reeducação Postural Global), que orienta uma postura melhor para adequar às atividades do dia a dia.
Além disso, a fisioterapia e exercícios de alongamento antes e depois de atividades físicas intensas são boas alternativas de tratamento para o sedentarismo. No caso de pacientes ativos em excesso, o ideal é justamente regular as atividades da semana a uma frequência que previna lesões e a aceleração do desgaste das articulações.
Fonte: Médico ortopedista há mais de 20 anos, o Dr. Cleber Furlan é também Mestre em Ciências da Saúde pela FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) e Doutorando em Cirurgia pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). Furlan é especialista em Cirurgia do Quadril, bem como membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Quadril.