Especialista do Hospital Paulista explica como ocorre a surdez congênita
A deficiência auditiva está entre os principais problemas em recém-nascidos no mundo todo. Conforme a Academia Americana de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço, uma a cada mil crianças nasce surda ou com algum grau severo de perda auditiva, considerada como congênita.
Conforme o Dr. José Ricardo Gurgel Testa, otorrinolaringologista do Hospital Paulista, ao contrário da surdez adquirida, que surge quando o indivíduo ouvinte perde a capacidade auditiva por alguma questão, seja por doença ou exposição a grandes ruídos, a congênita ocorre quando a criança já nasce surda.
“É uma deficiência adquirida durante a gestação, que tem como origem eventos antes do nascimento. Estes, por sua vez, podem ter causa genética, infecciosa, tóxica, intercorrências do parto e má formações”, explica.
Segundo o médico, indivíduos com surdez congênita podem ter graus variados de perda auditiva, além de ocorrerem de forma uni ou bilateral.
Dr. Testa ressalta ainda que o problema pode ser dividido em causas pré-natal (antes do nascimento), perinatal (durante o nascimento) ou pós-natal (após o nascimento).
Em causas pré-natal, a surdez ocorre por fatores genéticos e/ou hereditários, por doenças adquiridas pela mãe durante a gestação. Meningite, toxoplasmose e rubéola estão entre elas, além de infecções sexualmente transmissíveis, como HIV/Aids, herpes e sífilis, e uso de drogas pela mãe na gravidez, informa o especialista.
Durante o nascimento, em causas perinatal, o problema pode acontecer em partos prematuros, por anóxia — ausência ou diminuição da oxigenação no cérebro. “Demora para a realização do parto ou uso indevido de fórceps também podem levar à surdez.”
Bastante comum, a surdez por causas pós-natal também pode acontecer por diversos motivos. Dr. Testa alerta a doenças como caxumba, meningite e sarampo. “Essa, talvez, seja a categoria com mais causas identificáveis. Desde infecções de ouvido (otites), uso de medicamentos ototóxicos, presença de líquido, secreções e cera no ouvido, traumatismo por acidente com objetos introduzidos no conduto auditivo e exposições a ruídos sonoros, as possibilidades são diversas.”
Diagnóstico e tratamento
Para detectar possíveis problemas auditivos em recém-nascidos, ainda nos primeiros dias, é realizado o exame de emissões otoacústicas ou “teste da orelhinha”, como é popularmente conhecido. Trata-se de uma triagem neonatal auditiva que, obrigatoriamente, deve ser realizada na maternidade ou no primeiro mês de vida — nos casos de bebês que não nascem em um ambiente hospitalar.
O médico explica que a execução é importante para que, caso a criança apresente alguma suspeita de deficiência auditiva, o problema seja diagnosticado e tratado o mais precocemente possível. “Geralmente, a criança nasce com perda auditiva de graus variáveis, podendo haver uma perda total. Por isso, é muito importante que todos realizem a triagem auditiva neonatal. Além do exame de otoemissões acústicas, o exame de potencial evocado auditivo de tronco encefálico pode ser recomendado”, reitera.
Segundo o especialista, em alguns casos infecciosos, que não foram identificados nos exames pré-natais, pode ser necessário o tratamento da causa com medicamentos. “Alguns pacientes podem se beneficiar de aparelhos de amplificação sonora individual e outros podem necessitar de implantes cocleares ou outros tipos de próteses auditivas ancoradas ao osso”, finaliza o médico.