Estudos mostram que pessoas com apoio e segurança em períodos de desenvolvimento tendem tornar-se adultos mais seguros e autoconfiantes
A relação entre mãe (ou qualquer pessoa que exerça a função da maternagem) e filho é uma das mais importantes na vida do indivíduo. É o primeiro vínculo que a criança estabelece com o mundo e serve como base para seu desenvolvimento emocional e social. Nesse sentido, é necessário olhar com mais atenção para o tema, a fim de compreender melhor o importante papel exercido pela mãe na vida (presente e futura) do filho, logo nessa fase inicial, como as mães podem fortalecer os vínculos com seus filhos, quais os principais desafios enfrentados por ela neste processo e como as pessoas próximas podem ajudá-la na tarefa.
A psicóloga, arteterapeuta e autora do livro “A Casa de Pedro”, Cecília Rocha, explica que, nessa primeira etapa de desenvolvimento da criança, a mãe faz o papel do “eu” para ela. “A criança não diz ainda ‘eu estou com fome ou estou com frio’, pois não tem um centro ao qual ela referencie aquilo que vive. Então, a mãe é a grande referência de quem ela é”, explica. Assim, destaca a psicóloga, fica evidente a importância do vínculo inicial estabelecido com a mãe para o desenvolvimento emocional do filho. “Se a mãe olha para esta criança como alguém que atrapalha a vida, por exemplo, ela pode se sentir, no decorrer da vida, como quem atrapalha a vida das pessoas”, diz.
Para que haja uma compreensão mais aprofundada sobre como este vínculo inicial entre mãe e filho afeta a forma como a criança se relaciona com o mundo, Cecília lança mão da Teoria do Apego criada pelo psiquiatra e psicanalista John Bowbly. “O pressuposto básico da teoria é de que as primeiras relações de apego, estabelecidas na infância, afetam o estilo de apego do indivíduo ao longo de sua vida, sendo as condições para o seu desenvolvimento a sensibilidade de mãe para responder aos sinais do bebê e a quantidade e a natureza da interação do par (mãe e filho)”, explica.
Assim, de acordo com a psicóloga, tendo em vista a Teoria do Apego, uma criança desprezada tende não apenas a sentir-se não querida pelos pais, mas crê que é essencialmente indesejada, ou seja, amplifica este sentimento. “E, claro, isso compromete o desenvolvimento emocional e social dessa criança, que, por já esperar a rejeição dos outros, muitas vezes acaba repelindo-os antecipadamente e sendo realmente rejeitada, por agir de maneira não muito amistosa. Cria-se um ciclo que reforça essa situação”, diz.
Por outro lado, comenta Cecília, uma criança muito amada tende a crescer não apenas confiando no afeto dos pais, como também acreditando que todas as pessoas a sua volta a acharão dignas de confiança e afeição. É de se esperar, assim, que o desenvolvimento social e emocional dessa criança seja estimulado. “Aliás, estudos mostram que pessoas com apoio e segurança em períodos de desenvolvimento tendem tornar-se adultos mais seguros e autoconfiantes, enfrentando mais habilmente as situações difíceis e saindo-se melhor em suas relações afetivas”, declara.
Haja visto a importância do vínculo afetivo para o desenvolvimento da criança, a arteterapeuta orienta as mães a fortalecer esses laços com seus filhos desde o nascimento até a adolescência. “Sabemos que o apego é um impulso inicial, mas não é uma garantia para toda a vida, por isso a vinculação precisa ser nutrida e fortalecida dia a dia”, diz.
A melhor maneira de uma mãe fazer isso, segundo Cecília, é perguntar-se como seu filho se sentirá seguro, protegido, visto e considerado ao seu lado. “Gosto de pensar no vínculo como uma ponte. Só caminharemos para o outro lado se nos sentirmos acolhidos naquele lugar. Ter a sensibilidade para compreender isso e indagar-se sobre a melhor forma de ajudar seu filho nesse sentido é manter a ponte firme, vinculando seus mundos, tornando-os melhores”, diz.
Neste processo de construção de um vínculo sólido e saudável com o filho, diversos obstáculos precisam ser ultrapassados pela mãe. A psicóloga destaca que a maternidade é um momento em que a mulher se atenta para as feridas emocionais profundas de sua vida e precisa cuidar delas. “Isso já é um grande desafio, mas além dele, há outro, de dimensões maiores, que é construir um vínculo afetivo nas condições atuais da sociedade”, diz. Isto porque, segundo Cecília, o papel materno hoje inclui, além dos cuidados com o bebê, a realização das tarefas domésticas e o trabalhar fora, para sustentar financeiramente a família. “Tudo isso torna a rotina exaustiva e diminui a qualidade no cuidar do filho”, comenta.
Adquire elevada importância, então, uma rede de apoio, que cuide das questões práticas do dia a dia, propiciando à mãe dedicar-se ao bebê com tranquilidade. Esse sistema de apoio pode ser composto por babá, professora, avós, amigos, vizinhos etc. Cecília afirma que o pai pode ajudar muito nesse sentido, para que a mãe esteja mais disponível e tenha mais condições de fornecer o que a criança precisa, mas ressalta que ele não se inclui na rede de apoio, já que também é responsável pelo cuidado de seu filho, sendo seu vínculo também essencial para o desenvolvimento emocional da criança. Por fim, caso a mãe perceba que a relação com seu filho não está caminhando para um lugar de encontro e diálogo, a arterapeuta aconselha que ela procure orientação profissional. “Na adolescência, por exemplo, é comum que o convívio diminua, pois é natural que nesta fase o jovem se volte para os amigos e para a busca de sua autonomia e identidade. Mas precisamos sempre identificar se há vínculo, encontro, ponte”, diz. Se houver, comenta Cecília
Fonte: Minibio Cecília Rocha – Psicóloga – Especialista em TCC (terapia cognitiva comportamental) pela FMUSP – Arteterapeuta – Mediadora de conflitos