Práticas desrespeitosas e mitos ainda prejudicam o início da amamentação, impactando mães e bebês em um momento crucial de vínculo e saúde
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A violência obstétrica é um tema amplamente discutido em relação ao parto, mas pouco se fala sobre como ela também pode se manifestar durante a amamentação. Alessandra Paula, fisioterapeuta e especialista em amamentação, alerta que, nas primeiras horas de vida, mães e bebês podem ser submetidos a práticas desrespeitosas e invasivas, que impactam profundamente o início do processo de amamentação e a saúde física e emocional de ambos.
Esse tipo de violência ocorre quando a mãe é tratada de forma desrespeitosa ou negligente no momento de iniciar a amamentação. Entre as práticas mais comuns estão:
- Introdução de fórmula artificial sem justificativa médica, mesmo quando a mãe tem leite disponível;
- Manejo grosseiro por parte da equipe para encaixar o bebê no seio, causando dor e desconforto;
- Massagens dolorosas para “alívio”, que muitas vezes são desnecessárias;
- Orientações inflexíveis, como a imposição de horários fixos para amamentar, ignorando a demanda natural do bebê.
Alessandra enfatiza que essas situações podem desencorajar a mãe e dificultar a criação de um vínculo afetivo e físico essencial para o sucesso da amamentação.
O contato pele a pele entre a mãe e o bebê imediatamente após o nascimento é um dos fatores mais importantes para o sucesso da amamentação. Esse momento, conhecido como Hora Dourada, promove a liberação de ocitocina, hormônio responsável pela ejeção do leite. Apesar disso, em algumas maternidades, o bebê é separado da mãe logo após o nascimento para exames e procedimentos que poderiam ser realizados posteriormente.
Ainda é comum que profissionais despreparados ou crenças ultrapassadas prejudiquem o início da amamentação. Alessandra destaca alguns mitos que impactam negativamente as mulheres:
- A ideia de que mamilos curtos, planos ou invertidos dificultam a pega do bebê;
- A crença de que mamas pequenas produzem pouco leite;
- Afirmações como “seu leite é fraco”, feitas por familiares ou até por profissionais.
“Esses julgamentos, muitas vezes vindos de familiares ou amigos, aumentam o estresse e a ansiedade da mãe, o que pode impactar diretamente na produção de leite”, explica Alessandra.
A falta de suporte adequado e as práticas inadequadas podem levar ao desmame precoce, interferindo na amamentação exclusiva nos primeiros seis meses, recomendada pela Organização Mundial da Saúde. Isso também está associado ao aumento do risco de doenças infecciosas e a dificuldades no desenvolvimento emocional da criança.
Como combater a violência obstétrica na amamentação?
Para Alessandra, a chave está na preparação e acolhimento desde a gestação. “É essencial que os profissionais de saúde sejam treinados para oferecer um suporte técnico e emocional respeitoso, garantindo que a mãe seja a protagonista do processo”, afirma.
Outro ponto importante é incluir a rede de apoio da mãe nesse processo. Consultas e treinamentos que envolvam familiares ajudam a construir um ambiente de suporte, reduzindo a pressão e os julgamentos.
Fonte: Alessandra Paula Santos Fisioterapeuta – CREFITO 392075-F Fundadora da Clínica Cria, única clínica do país dedicada ao aleitamento humano e cuidados com recém-nascidos. Fisioterapeuta formada pela Universidade de Santo Amaro – Especialista em Amamentação pelo Hospital Albert Einstein.