Baseadas em norma do CFM e pelo direito ao atendimento humanizado, especialistas em saúde da mulher trabalham para que mais mulheres tenham conhecimento de seus direitos na hora do parto
Até um tempo atrás sobreposta pelo desconhecimento, a violência obstétrica agora ganha projeção diante de denúncias, que crescem cada vez mais, à medida que mulheres tomam conhecimento dos seus direitos ao parir. Profissionais especializadas em obstetrícia lutam pela humanização para mãe e bebê para que mais mulheres tenham conhecimento de seus direitos na hora do parto, baseadas principalmente no empoderamento por meio da informação, o que já é definido pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) há alguns anos, mas muitas vezes ignorado. “Mulheres sofrem violência obstétrica e nem se dão conta disso, porque acreditam que a postura do médico é soberana durante o procedimento”, explica a fisioterapeuta especializada em saúde da mulher, doula e master coaching, Cláudia Loureiro.
A violência obstétrica ocorre quando mulheres sobre abusos quando procuram serviços de saúde na hora do parto. Os maus tratos podem acontecer como violência física ou psicológica, provocando múltiplos traumas às mulheres. A situação não é caracterizada apenas ao trabalho de profissionais de saúde, mas também às falhas estruturais de clínicas e hospitais públicos ou particulares. Uma resolução do Conselho Federal de Medicina, de 2019, regula a recusa terapêutica, que é um direito do paciente a ser respeitado pelo médico em recusar práticas indicadas por ele. No entanto o profissional tem obrigação de informar a gestante sobre riscos e as consequências possíveis da decisão dela e desde que esse paciente seja maior de idade, capaz, lúcido, orientado e consciente.
Para Cláudia, a norma é clara em definir que cabe à mulher a decisão sobre o que ela quer que seja feito com seu corpo, se vai haver intervenção, se o parto será natural ou cesáreo; aos profissionais da área obstétrica cabe o fornecimento de toda a informação necessária e a ingerência deve ocorrer se houver risco para a mãe e ou bebê, constado, mas ainda assim, tudo deve ocorrer de forma humanizada, ou seja, respeitosa, garantindo dignidade física, emocional e social à mãe e a bebê. “O profissional médico é figura extremamente importante no cenário do pré-natal, parto e pós-parto, mas a decisão da mulher, baseada em informação de qualidade, é soberana e precisa ser levada e conta, além é claro do tratamento humanizado, que é indispensável no momento em que a mulher, ao mesmo tempo em que se encontra fragilizada, precisa usar todas as suas forças para trazer seu filho ao mundo”, explica a especialista e saúde da mulher.
Realidade x expectativa
A luta das profissionais de obstetrícia é que a maior quantidade de mulheres possíveis possa ter seus partos de forma respeitosa. O trabalho de Cláudia começa com a gestante desde as primeiras 16 semanas com fisioterapia para preparar o corpo e músculos pélvicos, processo de coaching para organizar o emocional e eliminar crenças limitantes para a nova fase de vida, e acompanhamento no parto e pós-parto (Fisio e doula). De acordo com a fisioterapeuta, a junção dessas três áreas proporciona um empoderamento à mulher para que seu parto seja o mais próximo possível do ideal sonhado. Cláudia explica que todas as etapas são diferentes e complementares e a mais importante é aquela que vai trazer segurança para a gestante. “Quando a mulher está com a musculatura preparada para gestar e parir seu bebê, livre de crenças que trarão preocupação antes, durante e depois do parto e ainda contam com um tratamento respeitoso e carinhoso na hora de dar à luz, além de ser confortante, gera uma experiência muito mais segura para a mãe e uma recepção digna para o bebê, que pode se refletir durante toda a vida”, explica.
A meta da fisioterapeuta é que toda mulher tenha seu direito de parir amparada com toda informação necessária para proporcionar uma chegada segura e confortável para seus bebês e, desta forma, prevenir diversas doenças físicas e emocionais nas futuras gerações. “Parto e segurança devem ser olhados tanto para a gestante quanto para o bebê, crianças que são recebidas no mundo de forma respeitosa, na hora escolhida por elas para nascer, tendem a apresentar uma vida mais saudável”, orienta. Ela explica que, para isso, em primeiro lugar é preciso um pré-natal de qualidade, a fim de evitar comorbidades; durante o processo do parto é preciso que a equipe esteja atenta aos sinais que o corpo da mulher apresenta, do monitoramento constante dos batimentos do bebê. Além da equipe que deve levar segurança para a mulher durante todo o processo. “Em uma dupla de mãe e bebê devidamente cuidados e monitorados, o risco do parto normal é extremamente baixo, em relação à cesárea que é uma cirurgia de grande porte”, finaliza.
Plano de parto
Uma ferramenta importante para a segurança de que as escolhas da gestante serão respeitadas e que auxilia para um parto mais seguro é o Plano de Parto. Na definição da ANS (Agência Nacional de Saúde) trata-se de uma forma de comunicação entre o casal e os profissionais de saúde, incluindo obstetrizes e médicos, que irão assistir a gestante durante o trabalho de parto. O Plano deve seguir os conceitos da bioética baseados em autonomia, beneficência, não maleficência e justiça e deve levar em conta o trabalho de parto e o parto que a gestante gostaria de ter e situações durante o trabalho de parto e parto que a gestante gostaria de evitar. Entre as condições apresentadas pela ANS que devem conter no Plano de Parto estão, acompanhante de parto; posições para o trabalho de parto e nascimento; alívio da dor – farmacológicos e não farmacológicos, banhos e utilização de piscina; música, monitoramento do coração do feto; posição para o nascimento; nascimento assistido; quarto período (placenta); alimentação da mãe e do bebê e situações inesperadas – mãe e feto/RN.