35% dos casos de infertilidade estão relacionados à mulher e especialista responde as principais dúvidas sobre como a ovodoação pode ajudar
Ao cogitar e sonhar com a chegada de um filho inicia-se o desejo de uma vida totalmente nova. Mas nem sempre é possível realizá-lo já que, de acordo com estatísticas da OMS, 50 a 80 milhões de pessoas em todo o mundo podem ser inférteis e estimam que em média 35% dos casos são pertinentes à mulher. Contudo, a maior parte é tratável e entre as opções de procedimentos existe a ovodoação ou a doação compartilhada. Esse ato alimenta uma rede de afeto e solidariedade que ocorre quando uma mulher (doadora) cede seu óvulo para que ele seja fecundado e implantado de forma anônima para outra mulher que por algum motivo, não possa utilizar seus óvulos próprios. (receptora). Já parou para pensar quantas pessoas estão esperando por esse momento?
“Quando uma mulher encontra outra com dificuldade para realizar o sonho da maternidade e se comove com a situação decidindo doar seus óvulos para ajudar, ela está agindo de maneira afetuosa. Porém, a doação de óvulos ainda é considerada um tabu em nossa sociedade”, analisa Ana Paula Aquino, ginecologista pela Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), e médica especializada em reprodução assistida na Huntington Medicina Reprodutiva. “Nós defendemos a ideia de que, nós mulheres, juntas somos mais fortes e que precisamos umas das outras para buscarmos a liberdade e os direitos que reivindicamos. Essas alianças são importantes para que estigmas e preconceitos enraizados sejam enfraquecidos”, conta a médica que também é a responsável pela doação de óvulos no Grupo Huntington.
“O esclarecimento sobre o tema é extremamente relevante, já que atualmente as notícias falsas são constantemente disseminadas por meio de aplicativos e redes sociais. Por isso, reforçamos a importância de sempre buscar fontes seguras antes de propagar as informações recebidas e preparamos uma lista de esclarecimentos”, enfatiza a Dra. Ana Paula. “Além disso, vale ressaltar que sempre devemos buscar uma clínica especializada e com processos seguros, pois sabemos que muitas não possuem excelência em seu trabalho dando margem a boatos sobre o assunto”, finaliza a médica.
O que é a ovodoação e em quais casos é necessário utilizar óvulos doados?
O procedimento é uma alternativa para casais heterossexuais ou homoafetivos que não conseguem engravidar e a causa está relacionada à baixa reserva ovariana ou em qualidade ruim. Então ela recebe os óvulos de uma mulher mais jovem, de maneira anônima e com o apoio da clínica para que haja a melhor escolha do óvulo doado. O tratamento também é indicado para pacientes que realizaram vários ciclos de FIV sem sucesso, menopausa precoce, falência ovariana prematura, ausência de ovários devido a cirurgias e perda da capacidade de produzir óvulos devido a quimioterapias.
Como funciona a ovodoação no Brasil?
A doação de óvulos, sêmen e embriões é regulamentada no Brasil pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) por meio da resolução 2.168 / 2017, mas tiveram algumas atualizações após a publicação da nova resolução 2.294 / 2021. Trata-se de um processo voluntário, anônimo e sem caráter lucrativo ou comercial.
A doação é anônima ou preciso me identificar?
O programa tem caráter anônimo, respeitando as exigências do Conselho Federal de Medicina (CFM), que também proíbe a comercialização de óvulos. Dessa forma, sigilo e anonimato são fundamentais nos tratamentos que envolvem a doação de gametas.
O que é a doação compartilhada?
Esse processo acontece quando a paciente doa parte dos óvulos para custear o próprio tratamento e a mulher possui uma boa reserva ovariana.
O que é a barriga solidária?
Também conhecida como útero de substituição, acontece quando a paciente não tem o útero ou para casais homoafetivos masculinos. No Brasil precisa ser parente de até 4° grau, caso não seja é preciso autorização do CFM. “Alguns chamam de barriga de aluguel, porém é importante frisar que esse termo não é correto já que não é aceita a remuneração desse tipo de tratamento no Brasil”, explica a Dra. Ana Paula.
Qualquer mulher pode ser doadora?
Para que a doação aconteça, a mulher passa por uma triagem onde são realizados exames dentro da clínica, levantamento de histórico de doenças familiares, infectocontagiosas e até avaliação genética. Se a saúde estiver dentro dos padrões e atender a todos os pré-requisitos, ela estará apta a doar seus óvulos. Também existe a preferência por mulheres com menos de 35 anos. Vale ressaltar que todos os procedimentos necessários são realizados sem custos para doadora.
A idade influencia nesses casos?
Neste tipo de tratamento é a idade do óvulo que importa, preferencialmente até os 34 anos, pois a doadora “repassa” sua chance para a receptora, que independentemente da idade terá mais chances de engravidar.
A receptora pode escolher a doadora? Como acontece esse processo?
Segundo a dra. Ana Paula, esse processo pode depender da clínica. “Na Huntington Medicina Reprodutiva temos duas etapas complementares de seleção dos óvulos. A primeira é baseada na experiência das enfermeiras responsáveis, que são profissionais que realizam uma minuciosa seleção para identificar as semelhanças físicas e diferenças da doadora com a receptora. Isso só é possível devido ao vasto conhecimento das profissionais que conseguem trazer precisão e assertividade para a escolha. A segunda maneira para realizar a seleção dos óvulos é por meio de um software (Fenomatch), que realiza a análise da biometria facial das receptoras e busca doadoras compatíveis. Esse programa analisa o banco de dados da Huntington para encontrar quem tenha as características mais parecidas possíveis com a da mulher que irá receber os óvulos”.