Quando alguém me pergunta se eu acho necessário uma doula em um parto domiciliar, eu respondo: SIM!
Sou doula há três anos e nesse tempo acompanhei 150 partos hospitalares e cinco domiciliares. Acho a doula uma peça super importante (para não dizer fundamental) em qualquer situação. Em todos esses partos hospitalares, os rápidos, os longos, os com médicos humanizados, os com plantonistas, em maternidades particulares, e nas públicas, sempre senti que fui necessária.Toda mulher merece uma doula, em qualquer situação, em qualquer local.
O primeiro foi um domiciliar planejado, um trabalho de parto longo, com muita gente (eu, médica, marido, sogra, mãe e mais 3 ou 4 enfermeiras da mesma equipe). Conheci o casal logo no início da gestação deles, acompanhei vários meses dessa fase maravilhosa, e no final da gestação eles decidiram que o melhor lugar para eles receberem seu bebê era a sua casa. Deixei-os livres para decidirem se queriam ter o meu acompanhamento no parto, ou não, e eles fizeram questão de manter. No dia do trabalho de parto cheguei junto da primeira enfermeira e fui embora quando eles iam dormir, enfim, tudo pronto. Recebi um feedback carinhoso de toda a família agradecendo o meu apoio e, segundo a nova mãe, cada um teve uma função no parto e ela não se arrependeu de nada.
O segundo parto foi um domiciliar planejado e o casal queria que eu chegasse antes de todos. Também me contrataram no início da gestação e decidiram pelo parto domiciliar mais pro final. No dia do parto faziam questão que eu estivesse lá, pois sabiam que no dia chegariam as enfermeiras disponíveis que eles não tinham vínculo nenhum. Acompanhei todo o processo que virou uma cesariana, e mesmo na cirurgia, eles me escolheram para continuar o acompanhamento no hospital.
O terceiro parto não foi planejado, eu estava sozinha, sem ninguém capacitado e com materiais de emergência (que é fundamental). Fui acompanhar uma parturiente em sua casa e quando as contrações ficassem mais intensas e próximas, iríamos para a maternidade pública a 10 minutos do local em que eles moravam. Mas o bebê não quis esperar e nasceu no quarto dos pais. Mesmo sendo emergencial, foi um parto lindo e muito tranquilo. O bebê foi para o colo da mãe, o pai abraçado da esposa, amamentação de imediato, contato pele-a-pele, tudo como deve ser. Depois que saiu a placenta, a puérpera tomou banho, eu vesti o bebê, e fomos para a maternidade.
O quarto parto foi um domiciliar planejado, com a mesma equipe dos dois primeiros partos. Também já acompanhava o casal desde o início da gestação, e no dia do parto acompanhei todo o processo, junto do marido, mãe e duas enfermeiras. Novamente me senti totalmente encaixada, como se todos formassem um quebra-cabeças. Cada pessoa ali tinha uma função e soube ajudar de uma maneira, nem mais nem menos do que ninguém. Após o nascimento houve uma intercorrência, a puérpera teve uma hemorragia e posso afirmar que ninguém ficou parado um segundo, sem algo importante para fazer.
O quinto também não foi planejado e eu cheguei a tempo do parto da placenta. Comecei a acompanhar o casal no segundo trimestre, como voluntária. No dia a bolsa rompeu e em 30 minutos, 30 minutos de trabalho de parto, o bebê nasceu no banheiro de casa e nas mãos de seu pai. No telefone ouvi o choro do bebê e fiquei tranquila e feliz. Eu e a médica decidimos então ir ao local e ajudar para que eles pudessem seguir para maternidade tranquilamente. Foi ótimo. A médica fez os procedimentos necessários e ajudou a puérpera a se vestir. Eu ajudei o pai com o bebê e fomos juntos de carro para a maternidade. Mesmo estando presente apenas na gestação e pós-parto, me senti super feliz e senti que pude ajudar.
E agora estou aqui, rumo a mais um parto domiciliar, onde a única dúvida da gestante era: “Cris, se eu quiser em casa, você vai me acompanhar? É só isso que preciso saber”.
Então, quando alguém me pergunta se eu acho necessário uma doula em um parto domiciliar, eu respondo: SIM!
Porque ao contrário da parteira, a doula tem como foco “APENAS” o bem estar emocional da parturiente e de se companheiro. Ela não tem a responsabilidade de monitorar ninguém, nem de se preocupar com o andamento do parto, de preencher papelada. Ela está ali para fornecer apoio físico e emocional, para ajudar o casal da maneira que for necessário. Ela acompanha a gestação, prepara para o parto, acompanha o parto e pós-parto, criando um laço e vínculo que o casal não tem com qualquer outro profissional.
É importante deixar claro que você não precisa de uma parteira para parir, nem de um médico, nem de uma doula, nem de uma banheira, nem de um hospital! Seu corpo é programado para fazer isso, com ou sem ajuda. Mas facilita e muito ter esses profissionais ao seu lado, e tudo mais que VOCÊ achar necessário.
O parto é SEU! Informe-se e escolha onde e quem estará presente no seu parto.
Cristina Melo
Doula, Mãe da Sofia, que planeja um parto domiciliar no futuro, e que certamente terá uma doula.