Ao avaliar risco do uso de óvulos congelados, que poderiam levar a embriões com malformações, em comparação aos óvulos frescos, estudo brasileiro mostrou maior taxa de alteração do número de cromossomos no material criopreservado.
O congelamento de óvulos é uma excelente estratégia para preservar a fertilidade, mas o ideal é que o teste genético pré-implantacional (PGT-A) seja realizado após a Fertilização In Vitro. Essa é a conclusão de um estudo brasileiro que mostrou que óvulos congelados podem ter risco maior de levar a embriões alterados quando comparados com os óvulos a fresco. O indicado, então, é fazer biópsia nos embriões no futuro, quando forem ser utilizados. O teste PGT-A examina embriões quanto às mutações cromossômicas e doenças genéticas, de forma que apenas embriões livres de doenças são implantados na mãe.
O estudo incluiu 919 pacientes que procuraram tratamento de reprodução assistida entre 2020 e 2022. Os autores separaram os pacientes em dois grupos: os que optaram pela transferência de óvulos criopreservados (223) e o controle, com pacientes que utilizaram óvulos frescos (696). No primeiro caso, as mulheres congelaram óvulos para usarem em outro momento. No segundo, a fertilização in vitro foi feita imediatamente após a coleta dos óvulos. Todos os embriões foram submetidos a teste genético pré-implantacional para aneuploidias (PGT-A).
Os testes possuem uma margem de acerto muito alta, mais de 99%. Quando é detectada uma alteração, realmente ela existe e o embrião tem mesmo aquele defeito no cromossomo ou no gene. Os resultados para as alterações estruturais, que são aquelas nos cromossomos, costumam sair bem rápido, geralmente em algumas horas ou no máximo em cinco dias.
A idade das pacientes e o número de óvulos coletados foram semelhantes entre os dois grupos. O grupo que usou óvulos criopreservados teve um número maior de folículos aspirados e maior taxa de aneuploidia embrionária (alteração do número de cromossomos). Esse tipo de embrião com alteração cromossômica tem mais dificuldade de se implantar no endométrio e, quando isso ocorre, há um risco de aborto espontâneo. Já o grupo que utilizou óvulos frescos apresentou uma taxa significativamente maior de desenvolvimento de blastocistos (estágio do quinto dia de desenvolvimento do embrião).
Nosso estudo mostra que o congelamento de óvulos não melhora a qualidade genética dos embriões. No entanto, a seleção de óvulos para a criopreservação pode ser a chave para prevenir aneuploidias embrionárias durante a fertilização in vitro. Mais pesquisas são necessárias para identificar as características do óvulo e fatores para aneuploidia embrionária, que poderão ser aplicados na rotina dos laboratórios de fertilização in vitro.
Fonte: Colunista – Dr. Fernando Prado – Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres – Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE). Whatsapp Neo Vita: 11 5052-1000 / Instagram: @neovita.br