Médica alerta para os perigos de negligenciar esgotamento mental materno e enumera cinco ações básicas para evitá-lo
Esses últimos meses foram intensos com a presença de um novo vírus que obrigou as famílias a se fecharem em si mesmas: trabalhar de casa, estudar em casa e evitar contatos sociais. Familiares que passavam parte do dia longe, foram obrigados a conviver em poucos metros quadrados e a se adaptar ao que se usa chamar de “novo normal”.
Por um lado, essa foi oportunidade para fortalecer laços familiares, por passarem mais tempo de qualidade com seus filhos, mas, por outro, principalmente durante o teletrabalho/homeoffice e homeschooling, conciliar todas as demandas trouxe à tona um tema novo para muitos: Burnout parental.
Dra. Natasha Vogel, médica e mãe, alerta sobre o perigo dessa condição mental para a integridade dos pais e filhos. Como membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e da Sociedade Brasileira de Ortopedia Pediátrica, ela acompanha casos que a levaram a levantar a bandeira do perigo de se negligenciar os sintomas e sinais dessa doença.
Junto com a maternidade/paternidade, vem a constante busca pela perfeição, pela escolha “certa” para e pelos filhos; mas o que não se coloca na balança são as diversas outras funções que, como mães ou pais, somam-se à rotina e às obrigações parentais. “É muito raro ver alguém que reconheça o trabalho ‘invisível’, ou seja, tudo aquilo que envolve a administração de uma casa; ou que coloca na balança o compromisso com a profissão ou com a manutenção do relacionamento entre o casal. Esse é um ponto fundamental, pois, muitas vezes, o estresse é tão grande que é difícil manter a harmonia e a compreensão entre todos”, alerta Natasha.
Um novo nascimento traz consigo noites sem dormir, adaptação com amamentação, aprendizagem constante de como cuidar de um bebê, mas ele também cresce e novas demandas surgem: quando devo colocar na escola, meio -período ou integral, até qual escola devo escolher? Esses são alguns dos desafios que podem se transformar em problemas e causa de estresse. “A maternidade é um dos principais eventos na vida de uma mulher, pelo menos foi na minha! Mas, o que vem junto com ela? E para os pais? Grandes desafios os esperam. O estresse na paternidade é supercomum, mas quando ele se torna severo e crônico, isso pode dificultar a forma como vão lidar com a situação, e então desencadear o Burnout”, adverte a médica.
Os quatro sintomas principais são: exaustão e cansaço do papel de pai/mãe (isso pode ser tão intenso que perdem o prazer de estar e criar os seus filhos); algumas vezes não suportam o seu papel (então passam a não se reconhecer como os pais que gostariam de ser).
O que chamamos de esgotamento parental está diretamente relacionado ao aumento de pensamentos de suicídio e fuga, que são muito mais frequentes do que no Burnout provocado pelo trabalho ou mesmo na depressão. Neste caso, as consequências são: um possível desejo de fugir fisicamente das obrigações parentais, e, como escape, pode haver aumento no consumo de bebidas alcoólicas; aumento no comportamento violento contra os filhos, assim como negligência. Dessa forma, ocorre um desgaste no relacionamento pai-filho e também do casal .
De acordo com Natasha, as características comuns aos pais com maior risco de sofrer esgotamento são: busca constante por perfeição, neuroses ou dificuldade de administrar as emoções e o estresse.
Estudos mostram que duas em cada 10 mães estão sofrendo de esgotamento materno; e metade apresenta um nível de fadiga alto ou extremamente alto; ou seja, 20% das mães de crianças com boa saúde sofrem de esgotamento materno.
Dicas para superar e diminuir a probabilidade de ter Burnout
Cinco ações básicas são fatores que caminham lado a lado com o bem-estar emocional:
- Diminuir a auto-cobrança;
- Manter a autenticidade, as amizades e o auto-cuidado;
- Firmar os laços familiares;
- Dar um passo de cada vez diante dos compromissos e responsabilidades do dia a dia;
- Pedir apoio no trabalho, entre os familiares e/ou procurar um médico/psicólogo, caso não consiga manter o equilíbrio sozinho. “Há uma lista considerável de ações que se esperam dos pais, mas, cada vez mais, observa-se que a experiência da paternidade também deve ser considerada. E para isso, devemos entender e levar em consideração a saúde mental deles. No Burnout parental, vemos duas tendências: por um lado, enfatiza-se a importância do bem-estar dos pais, e, por outro, o risco que os pais correm quando estão cansados para seus filhos, porque o esgotamento dos pais aumenta a negligência infantil e a violência parental. Por isso, repito sempre: ‘Lembre-se: cuide-se para poder cuidar’.”, finaliza a especialista.