Transtorno está associado à dificuldade de sair de casa e socializar novamente; Pais e escolas devem estar em constante contato para observar comportamento dos pequenos neste momento
A rotina já voltou parcialmente em todo o mundo e, no Brasil, as escolas voltaram a receber os alunos presencialmente para o ano letivo de 2022. O assunto desde o início da pandemia gerou muitas controvérsias, mas fato é: ficar em casa potencializou (e muito) os transtornos psicológicos nas crianças e, por isso, o retorno à vida “normal” requer muito cuidado e atenção de pais e escolas. Em muitos casos, o retorno à socialização era mais do que esperado. Mas em outros, a “Síndrome de Gaiola” dificultará o momento.
Mesmo antes da pandemia, tanto no âmbito familiar como no escolar, as reflexões sobre a saúde mental das crianças já eram cada vez mais comuns. Isso porque os transtornos psicológicos já atingiam de 7 a 20%, dependendo da região, das crianças brasileiras, de acordo com um estudo da Faculdade de Medicina de São José dos Rio Preto. Após o surgimento do novo coronavírus e dos isolamentos sociais, uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, relatou que uma em cada quatro crianças e adolescentes apresentam sinais de ansiedade e depressão a nível clínico.
Para a psicóloga clínica da Amparo Saúde, Muriell Coelho, existem muitos aspectos que devem ser observados na ressocialização das crianças e adolescentes para minimizar eventuais problemas associados. “Sabemos, por exemplo, que crianças mais novas muitas vezes já possuem uma dificuldade na socialização, sendo assim, o distanciamento social pode, em muitos casos, ter potencializado o fator da ansiedade generalizada, o que torna agora muito mais difícil esse relacionamento com outros colegas, até mesmo gerando um quadro de fobia social de fato”, explica.
A especialista ainda avalia crianças que ainda não tinham tido a oportunidade de socializar anteriormente, por conta da idade, e também por terem passado muito tempo com os pais por perto. “Precisamos pensar que muitas crianças mais novas, de 1 a 3 anos, passavam a maior parte da sua vida, até o momento, com os pais dentro de casa e também sem terem tido oportunidade de vivenciar o ambiente de creches e escolas. Portanto, será tudo novo para essa faixa etária. Para estes pequenos, a Síndrome de Gaiola poderá acontecer e é preciso ficar atento para conseguir reverter a fobia social”, conclui.
Mas o que de fato é a Síndrome de Gaiola e como ter sinais?
Associada a aves que são criadas em cativeiro, mas quando as gaiolas se abrem elas têm dificuldade para sair, a Síndrome de Gaiola reflete exatamente o sentimento de ter a oportunidade (e muitas vezes a necessidade) de sair, mas ter uma pressão interna que te prende e não te faz querer seguir com essa ação. Além de causar uma vontade cada vez maior de se fechar, essa síndrome pode causar transtornos em crianças no período escolar e adolescentes, uma vez que são “forçadas” a saírem do seu ambiente seguro e confortável e socializarem com outras pessoas, algo muito difícil e complexo nestes casos, que podem trazer outros problemas para a vida como um todo, como dificuldade de aprendizagem, transtornos de humor, etc.
Pais e educadores devem ficar atentos aos sinais e sintomas como dificuldades de conversar com pessoas fora do convívio e da dinâmica familiar, de expressar sentimentos no que remete ao acontecimento vindouro(por exemplo: “como você imagina que será”), expressão de medo, angústia e choro diante da ação, além de ansiedade e nervosismo aparente por expectativas de saídas,
Para a especialista da Amparo Saúde, a Síndrome de Gaiola não está somente associada a crianças, existem muitos casos em adolescentes, jovens e adultos. “A diferença é que os pequenos não sabem ainda se expressar, o que torna mais difícil o diagnóstico deste transtorno. Em pessoas mais velhas é mais fácil identificar e tratar. Portanto, é essencial que os pais e as escolas criem recursos para tentar minimizar as dificuldades que este momento de ressocialização trará”, finaliza.
Psicóloga clínica da Amparo Saúde, Muriell Coelho.
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