Dr. Hallim Feres Neto, oftalmologista, explica o que é a discromatopsia e dá dicas para descobrir e para melhor conviver com daltonismo em diferentes faixas etárias.
O termo “daltonismo” deve-se à primeira pessoa que reconheceu e escreveu sobre esse problema, o físico inglês John Dalton, em 1789 — ele mesmo tinha deficiência de cores e percebia o mundo apenas como diferentes tons de azul, roxo e amarelo. Usamos em português esse termo para falar de todos os tipos de deficiência de visão de cores — bem mais fácil do que o termo científico “discromatopsia”.
“Em todo o mundo, há aproximadamente 300 milhões de pessoas com daltonismo. Estima-se que afete aproximadamente 1 em cada 12 homens e 1 em cada 200 mulheres ao redor do mundo. O que leva a pensar que, em cada sala de aula, há uma criança com dificuldade de fazer as tarefas e não tem nem ideia da razão disso”, explica o oftalmologista membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia Dr. Hallim Feres Neto.
Dr. Hallim deixa dicas sobre o que observar em crianças de diferentes faixas etárias:
De 3 a 7 anos:
- Confira se seu filho precisa de mais tempo para processar informações que usem cores, pois ele procurará por outras pistas (não coloridas);
- Veja se ele usa cores inadequadas no desenho ou pintura — por exemplo, folhas roxas em árvores, grama marrom, cachorro vermelho;
- Observe se ele reluta em brincar de combinar, contar ou classificar jogos com peças coloridas;
- Nas atividades de colorir, perceba se a criança tem um baixo tempo de atenção, mais baixo que em outras atividades;
- Em jogos, note se existe dificuldade para reconhecer quem é da equipe pois as camisas coloridas são muito parecidas.
De 7 a 12 anos:
- Observe se a criança usa escolhas de cores inadequadas ao completar planilhas, desenhos e diagramas – por exemplo, rios roxos;
- Confira se, às vezes, é difícil para interpretar informações em textos online ou páginas da web coloridas;
- Note se, raramente, a criança usa cores ou usa cores incorretas;
- Perceba se tem dificuldade em ver cones de treinamento coloridos e marcas de linha, por exemplo, no jogo de vôlei ou futebol de salão;
- Ao comer banana, a criança não percebe, pela cor da fruta, que ela passou do ponto;
- E confira se há problemas em ver todas as imagens e instruções em jogos de computador ou videogame.
Adolescentes:
- Note se há dificuldade em seguir informações codificadas por cores apresentadas em gráficos e diagramas;
- A criança acha difícil interpretar informações em quadros interativos ou projetadas em telas;
- Tem dificuldade em interpretar mapas, gráficos de pizza de cores e resultados de experimentos científicos;
- Tem dificuldade de perceber qual a cor do LED do celular que está piscando;
- Tem notas inesperadamente baixas em matérias que domina quando usa ferramentas online para entregar trabalhos.
Dr. Hallim resume: “No geral, as crianças são muito boas em esconder as próprias deficiências – elas se adaptam e acham ‘normal’ enxergar assim. As primeiras suspeitas surgem ao ver um desenho com cores estranhas”.
A maioria dos pais de daltônicos não sabe dessa característica e, na maioria dos casos, a criança também não percebe. “Um diagnóstico positivo pode ser um choque para todos e os pais não devem se sentir culpados se descobrirem isso numa idade mais avançada”, afirma.
O médico confirmou que meu filho é daltônico. O que fazer?
É sabido que uma pessoa com deficiência na visão de cores tem uma vida normal e pode exercer algumas funções até melhor do que pessoas com visão de cor “normal”. Um exemplo foi o recrutamento de daltônicos na Segunda Guerra Mundial para sobrevoar o território e indicar onde o inimigo estava camuflado, porque, com treino, quem tem essa dificuldade aprende a diferenciar texturas, por exemplo, facilitando o reconhecimento da camuflagem.
“Quando recebo uma criança daltônica no consultório sempre deixo claro para a criança que isso que ela considera uma dificuldade, as outras crianças da classe vão achar superinteressante e vão querer saber como é enxergar diferente. Apesar de ser frustrante e cansativo algumas vezes, não é nada para ter vergonha”, conta o médico.
Mas, claro, elas precisam de ajuda em algumas situações. É válido seguir alguns passos:
- O conselho inicial de Dr. Hallim é: “Quando temos um parente daltônico e descobrimos uma criança em casa com o mesmo problema, é de grande valia e sempre o sugiro aos pais que procurem esse avô/tio/primo com a mesma condição e peça para conversar sobre isso, e também para que converse com a criança. A experiência e cumplicidade de alguém de confiança que enxerga a mesma coisa faz muito bem para as crianças”;
- É importante informar a escola e, de preferência, já explicando quais são as cores em que há dificuldade para que o quadro, material escolar e as atividades sejam adaptados;
- Identifique as canetinhas e lápis de cor da criança com os nomes das cores assim que ela souber ler;
- Melhore a iluminação do local onde a criança faz a lição de casa; numa boa luminosidade, fica mais fácil de perceber as diferenças;
- Quando a criança for mais velha e já puder escolher a roupa e se vestir sozinha, coloque na etiqueta as cores da roupa, assim ela saberá o que combinar;
- Encoraje a criança a, sempre que se sentir insegura com algo relacionado a isso, expor a dificuldade. Se ela não levanta a mão e pergunta na escola, apenas ela vai ficar sem aprender.
Existe cura?
Por ser uma alteração genética, ainda não existe cura para essa condição oftalmológica. Existem óculos que melhoram o contraste entre cores, facilitando diferenciá-las, mas não fazem um daltônico enxergar como uma pessoa que tem a visão de cores desenvolvida.
“O que temos de concreto até o momento é a importância de falar sobre o daltonismo para minimizar as dificuldades que uma criança possa ter, e assim ter condições de levar uma vida normal”, finaliza
Dr. Hallim Feres Neto @drhallim – CRM-SP 117.127 | RQE 60732
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- Membro do CBO – Conselho Brasileiro de Oftalmologia
- Membro da ABCCR – Associação Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa
- Membro da ISRS – International Society of Refractive Surgery
- Membro da AAO – American Academy of Ophthalmology