Bater ou não bater nos filhos, eis a questão. Pais, mestres e especialistas vivem neste dilema sem fim. Além de inúmeras discussões na internet sobre a temática.
Mas a psicóloga Patrícia Bezerra, que é mãe de duas adolescentes, é taxativa: “bater é agredir e para educar não é necessário bater”.
Segundo a especialista, que faz uma analogia com a neurociência, há algumas reações que estão encrustadas em nós e que trazemos desde os primórdios da era das Cavernas, ou seja, são as reações tipicamente primitivas, onde reagimos e nem entendemos muito do porquê tivemos aquela reação. E segundo, e o mais importante, é olhar isso sob o aspecto cultural.
“Somos motivados por Memes (ou Memética) ao longo de toda a nossa vida e acabamos por perpetuar formar de pensar e agir, baseados em ‘crenças’ que, na maioria das vezes são limitadores, autorregulatórios e até opressores. Resumindo, bater nunca é uma boa opção. É assim que se perpetua o famoso: “um tapinha não dói”; que as mulheres conhecem muito bem, e essa crença nasceu desde a infância. Sempre é bom lembrar”, enfatiza Patrícia.
A especialista em saúde mental reforça que toda criança é afetada negativamente com casa com muitos gritos. Inclusive, levará esse trauma por toda fase de sua vida. Essa criança vai, em grãos diferentes do sentimento que essa agressão lhe causou, refletir esse mesmo padrão. Isso é um Fato. Toda a ação que gere um trauma, ele vai ser externalizado de alguma forma pelo adulto em algum momento de sua vida. Seja, espelhando as mesmas atitudes ou se tornando uma pessoa com muitos medos, com baixa estima ou até, desenvolvendo certas fobias limitantes e/ou reações violentas.
Estudos apontam os prejuízos: Pela primeira vez, em 2021, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) incluiu o tema da saúde mental entre crianças e jovens no Tratado de Pediatria, principal publicação direcionada aos médicos que cuidam de pessoas até 18 anos em todo o país. No mesmo ano, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em parceria com o instituto Gallup, publicou o relatório ‘Situação Mundial da Infância 2021.
“Promovendo, protegendo e cuidando da saúde mental das crianças, também elegendo a temática como prioridade de atuação. Segundo as últimas estimativas disponíveis pela pesquisa da Unicef, pelo menos uma a cada sete crianças e jovens de dez a 19 anos convive com algum transtorno mental diagnosticado em todo mundo. Além disso, também mundialmente, cerca de 46 adolescentes morrem por suicídio a cada ano, uma das cinco principais causas de morte nessa faixa etária.
A psicóloga afirma ainda que uma educação positiva não gera superproteção, inclusive, porque por princípio ela é adepta a deixar a criança entender a gravidade das coisas e das suas atitudes pela consciência que o exemplo e a conversa franca trás. A confusão aqui é correlacionar Educação Positiva, com falta de limites.
“Uma coisa nada tem a ver com a outra. Você pode educar com sem usar violência, mas isso não quer dizer que você será passivo diante a algo errado, a uma atitude ruim de seu filho. Claro que não. Até porque se isso for feito não é Educação Positiva, é ser omisso, ausente, isso sim gera ‘pessoas frágeis’ que não entendem o que é o seu limite e o direto do outro”.
Questionada sobre as reações tão diversas sobre o tema de bater ou não para educar, Patricia analisa que a raiva vem da reação primitiva do ser humano. Ou seja, vem o instinto de agir/corrigir aquela criança que você julga merecer um corretivo. “Claro que aqui se pode até ter essa vontade, porque também se nota uma displicência dos pais em conduzir a criança a entender que certa reação ou atitude não dever acontecer. Então, voltamos a questão de todos nós em todos os momentos da nossa vida necessitamos de limites, de entender até onde vai a minha liberdade e onde começa da outra pessoa. Cruamente, é nisso que se resume parte da revolta em dados momentos. E no final de tudo, o grande aprendizado é o aprender com amor e ensinar a respeitar o outro”, finaliza a psicóloga
Autoria: Psicóloga Patrícia Bezerra