Primeira crise: A crise do nascimento. O choro e a simbiose.
Quando um bebê chora, você o amamenta e ele se acalma, você chama de fome.
Quando um bebê chora, você o coloca para dormir e ele dorme, você chama de sono.
Quando um bebê chora, você faz de tudo e ele não para e de repente você o pega no colo, ou o leva para a sua cama e ele para, você chama de manha.
Provavelmente, quando você conseguir identificar a causa desse choro e resolver o problema, você deixará de chamar de manha. Isso significa que manha é o nome transitório de alguma-coisa-que-eu-não-sei-o-que-esse-bebê-tem e que não conseguimos resolver.
Após conversas e consultas e exames com o pediatra vocês não acharam nenhuma justificativa clínica para esses episódios de choro sem causa aparente que se repetem. Nem cólicas, nem refluxo, nem gases, nem fome, nem… então o que será que esse bebê tem?
Resposta que os pediatras mais gostam de dar: DEPENDE.
Como assim? Pode depender de vários fatores, mas vamos nos ater a um em especial: a idade do bebê.
Um bebê de 1 ano de idade, pode ter passado por pelo menos 5 momentos como esses durante essa sua curta existência e se ele já é chorão ninguém liga, porque afinal “ele é assim mesmo”. No caso de ele sempre ter sido bonzinho, o momento é supervalorizado e as preocupações assumem um tamanho quase intransponível.
Tá. Parole, parole, parole (traduzindo: palavras, palavras, palavras… rsrsrs).
Então, o que pode fazer esse bebê, bonzinho ou chorão, ter essas crises durante o primeiro ano de vida?
Olha só essas 4 definições de crise (Dicionário Online Michaelis da Língua Portuguesa com grifos meus):
2 Med Alteração súbita, comumente para melhora, no curso de uma doença aguda.
3 Momento crítico ou decisivo.
4 Situação aflitiva.
5 fig Conjuntura perigosa, situação anormal e grave.
Então, crise pode ser tanto algo positivo quanto algo aterrorizante, normalmente por conta de mudanças, de passagens, de transformações. E afinal, se casamentos têm crises, se times de futebol têm crises, se a economia tem crises, por que razão um bebê, que está em constante fase de crescimento e desenvolvimento, não pode tê-las? Além disso, não se costuma dizer que crescemos nas crises?
Antes de tudo, vale lembrar que nem todas as crianças passam por todas as fases, nem com as mesmas características, nem na mesma idade exata.
Após o parto, quando o bebê nasce, ele perde todos os seus referenciais (tempo, espaço, limites, alimentação, respiração, etc.) e a gravidade dessa primeira crise (a crise do nascimento), habitualmente bem transitória, pode ser determinada por vários fatores, entre eles:
– tipo de gestação (com ou sem os cuidados fundamentais de alimentação, suplementação vitamínica, exercícios, afeto, carinho, pré-natal adequado);
– tipo de parto (de termo ou prematuro, via vaginal – normal ou fórceps – ou via abdominal – cesariana);
– cuidados neonatais (parto domiciliar, hospitalar, oxigenação, presença de neonatologista, doulas, enfermeiras);
– estrutura adequada (berçário, UTI neonatal, médicos presentes);
– apoio familiar (pais, avós, amigos).
Após os primeiros 4 a 5 dias no máximo, a imensa maioria dos recém-nascidos (RN) já passou por essa fase e está em casa, em companhia de seus pais, no processo saudável e natural de aleitamento materno exclusivo, em livre demanda.
O primeiro trimestre de vida do bebê vem repleto de novidades, desafios e mudanças. Mesmo com suas limitações de percepção (visual, auditiva, tátil), de movimentação, de espaço, tempo, o bebê aprende a mamar, a pedir ajuda (dor, fraldas sujas ou molhadas, fome, por exemplo). Como? Ele chora.
Mesmo assim, até o 3º mês de vida, todas as necessidades do RN (alimentação, carinho, troca de fraldas, sono, banho) são quase que imediatamente satisfeitas. O choro serve como alerta aos pais de que esse bebê precisa de atenção imediata. Até aqui, o que caracteriza a relação RN com o mundo, que para ele é a sua mãe, é a simbiose, ou seja, para o RN, mãe e filho são um só ser.
Próxima parte: (este texto foi dividido em 4 partes)
As Crises do Primeiro Ano de Vida – parte 2
A crise da angústia, a presença do pai e a erupção dentária.
A crise dos 3 meses
Com o tempo, o seio se enche e elimina o leite com mais facilidade e o bebê suga mais intensamente. Conclusão: a sucção fica mais eficaz e o tempo de mamada pode diminuir sensivelmente. Ao contrário do que a mamãe possa pensar, o bebê não está mamando menos, tanto que, quer seja por livre demanda (o ideal) ou não, o intervalo das mamadas se mantém ou até aumenta.