Especialistas dão dicas sobre como os pais, com o auxílio dos educadores, devem agir para ajudar no desenvolvimento das crianças
Educar filhos em uma era de tanta informação e mudanças constantes tem sido um desafio para pais que, frequentemente, se sentem perdidos, sem saber qual é o melhor caminho e abordagem a adotar. No que diz respeito à proteção e cuidados diários, essa preocupação por vezes prejudica uma etapa importante do desenvolvimento infantil: a aquisição da independência na infância. Exercitar a autonomia desde cedo é fundamental para o desenvolvimento motor, cognitivo e emocional da criança. Uma criança que é autônoma tem maiores probabilidades de se tornar um adulto confiante e bem-sucedido, pois desde cedo ela desenvolve independência e capacidade de tomar decisões por conta própria.
Segundo a psicóloga educacional, Marina Tissot, é comum nas reuniões escolares observar pais e mães, especialmente aqueles que são pais de primeira viagem, cheios de dúvidas sobre como podem ajudar seus filhos. “Normalmente, os pais se perguntam ‘O que eu posso deixar a criança fazer sozinha?’, ‘Como posso ajudar sem comprometer a iniciativa deles?’ ou ‘Não é arriscado?’. Essas são dúvidas bastante comuns, e nosso papel como educadores é orientar esses pais sobre como seguir esse caminho, proporcionando à criança a oportunidade de explorar e experimentar com uma mediação adequada”, explica Marina.
A psicóloga alerta para o fato de que, diante de uma rotina cada vez mais acelerada das famílias, algumas etapas e oportunidades de experimentação acabam comprometidas. “No momento da refeição, por exemplo, o ideal é permitir que a criança tente comer sozinha, com incentivo dos pais. Esse é o momento em que ela pode experimentar manusear o garfo, espetar a comida e levar o alimento à boca. Tudo isso contribui para um desenvolvimento motor extremamente importante para a criança. Sabemos que, muitas vezes, devido à falta de tempo e à correria comum a todas as famílias, isso não é feito. O mesmo ocorre em outros momentos da rotina da criança, como se vestir ou escovar os dentes”, lamenta a profissional.
Por isso, o papel da escola em apoiar as famílias é tão crucial. Para a professora e mãe de dois meninos, Fabiane Karen Marques, a escola tem a responsabilidade de criar um ambiente seguro e propício para a aprendizagem, com foco na obtenção da autonomia das crianças. “O exercício da autonomia se dá em um contexto em que o processo de ensino e a aprendizagem leva a criança a compreender por si mesma esse aprendizado. A escola deve fornecer um ambiente e materiais adequados para atender às necessidades educacionais e motoras, e o professor deve estar preparado para mediar de forma adequada esse processo, sem interferir desnecessariamente, inibindo ou desperdiçando chances para a criança experimentar, aprender e se desenvolver por conta própria”, destaca Fabiane.
A educadora reforça que o desenvolvimento da autonomia deve ser priorizado desde a primeira infância. “Nessa fase, que abrange do nascimento aos 6 anos, o cérebro está em pleno desenvolvimento. As experiências, tanto positivas quanto negativas, que a criança vivencia terão repercussões ao longo de toda a vida adulta. Já nascemos com curiosidade e uma vontade de explorar o mundo – mesmo quando somos bebês – e isso não deve ser inibido”, adverte Fabiane. A professora destaca ainda que os pais devem estar atentos a essa janela de oportunidade. “As crianças aprendem com muito mais facilidade que os adultos. Precisamos permitir que, durante a infância, elas aproveitem o momento ideal e oportuno para a aprendizagem e o desenvolvimento. Quando falamos de autonomia, não estamos nos referindo apenas à habilidade motora e à capacidade de executar tarefas sozinhas. A autonomia também abrange saber lidar com frustrações, comunicar-se bem, trabalhar em equipe e ter a coragem de superar limites. E tudo isso deve começar a ser cultivado e desenvolvido desde a primeira infância”, argumenta.
Para ajudar as famílias nesse processo, as profissionais listaram cinco dicas eficazes para incentivar as crianças a desenvolverem a autonomia desde cedo.
Confiança
É essencial encorajar as crianças a realizarem tarefas e a explorarem situações, permitindo que desenvolvam autoconfiança e autoestima. “É comum que os pais, por instinto de proteção, acabem incutindo medos nos filhos com frases como ‘Não faz isso, é perigoso’ ou então ‘Cuidado, você vai se machucar’. É claro que devemos garantir a segurança delas, mas isso não pode impedir que a criança seja estimulada a experimentar situações que possam contribuir para seu desenvolvimento”, reforça Marina.
Respeito
Os adultos devem demonstrar que consideram e respeitam as escolhas e ações das crianças. Para isso, é preciso ouvi-las. “Os pais devem observar atentamente e escutar seus filhos. A criança sempre dará sinais, demonstrará de alguma forma que está pronta para tentar e realizar. Além disso, diga ao seu filho ‘Você pode escolher entre banana ou maçã. Qual você prefere?’. Dar a chance de escolher vai fazer com que a criança se sinta considerada e respeitada”, sugere Marina.
Independência
Para que uma criança se torne independente, os pais não devem fazer por ela aquilo que ela é capaz de fazer sozinha. “Os pais, hoje em dia, muitas vezes fazem o que podem pelos filhos e, com isso, acabam educando os filhos apenas para receberem e não para realizarem. É necessário criar oportunidades de crescimento para eles. A criança e, mais tarde, o adulto, não se tornará independente se sempre houver alguém por perto fazendo tudo por ela”, alerta Fabiane.
Colaboração
Geralmente, os pais costumam dizer aos filhos o que precisa ser feito ou até mesmo tomar decisões por eles. O ideal é envolver a criança, de modo que ela se sinta parte do que está acontecendo ou sendo decidido. Isso fará com que a criança assuma uma postura colaborativa, dando a ela a oportunidade de exercer o poder de escolha ou sentir-se útil. “Compartilhar com eles a responsabilidade por uma tarefa ou decisão ajuda muito na construção da autoestima das crianças. Elas se sentem capazes, e isso faz toda a diferença”, afirma Marina.
Gentileza
Como estão em processo de aprendizagem e frequentemente estão realizando tarefas pela primeira vez, é normal que as crianças cometam erros ou provoquem pequenos incidentes ao tentar fazer algo por si mesmas. Nessas situações, é muito importante que o adulto seja gentil ao corrigir ou resolver o problema. Demonstrar irritação ou brigar com a criança inibe a vontade de tentar novamente. “Precisamos ter muito cuidado com as críticas. A criança precisa entender que errar faz parte do processo, e ela deve ser apoiada nesse momento para que continue disposta a tentar novamente”, finaliza Fabiane.
Fonte: Colégio Positivo