Tratamento para Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) ainda é um desafio, pois foca no controle dos sintomas e não soluciona problemas relacionados à infertilidade. Mas pesquisadores da Universidade de Chicago apresentaram abordagem inovadora para tratar a condição.
Figurando entre uma das principais causas de infertilidade no público feminino, a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) afeta cerca de 15% das mulheres em idade reprodutiva. Apesar disso, o tratamento da condição ainda é um desafio. “A doença não tem cura e o tratamento atual consiste em controlar os sintomas, principalmente por meio de mudanças no estilo de vida e uso de medicamentos contraceptivos, o que não soluciona os problemas relacionados à infertilidade”, explica o Dr. Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita. Felizmente, pesquisadores da Universidade de Chicago, em estudo publicado em setembro no periódico International Journal of Molecular Sciences, revelaram um tratamento inovador que pode atuar sobre mecanismos importante da SOP para melhorar os sintomas, reduzir a inflamação e regular os sistemas do organismo.
O tratamento é baseado em moléculas que têm sido cada vez mais discutidas pela Ciência e Medicina: os exossomas. “Os exossomas, ou vesículas extracelulares derivadas de células-tronco mesenquimais, são como minúsculos pacotes de moléculas liberados pelas células-tronco que possuem um papel importante na comunicação intercelular”, afirma o especialista. Anteriormente, esse grupo de pesquisadores já havia descoberto que células-tronco mesenquimais (MSCs) podem secretar fatores que ajudam a reverter os sintomas da SOP. “As células-tronco mesenquimais são células adultas que podem se diferenciar em múltiplos tipos de célula para promover reparação e regeneração”, diz o Dr. Fernando. Mas ainda não estava claro quais eram exatamente esses fatores liberados pelas MSCs.
Então, o presente estudo buscou entender qual a ação desses exossomas liberados pelas MSCs. Descobriu-se que eles são capazes de diminuir a atividade de genes que contribuem para a produção excessiva de hormônios andrógenos, um mecanismo importante envolvido na SOP. “Apesar da condição não ter causa conhecida, sabemos que a SOP está relacionada ao aumento na produção de hormônios masculinos na mulher, o que interfere na ovulação, podendo leva à formação de cistos nos ovários, atraso ou interrupção da menstruação e dificuldades de engravidar naturalmente”, ressalta o médico. Com base nisso, os pesquisadores injetaram os exossomas em camundongos com SOP, onde ajudaram a estabilizar algumas das irregularidades metabólicas associadas à síndrome, como altos níveis de glicose, e a restaurar a função ovariana. Acredita-se que uma proteína de sinalização imunológica chamada interleucina 10 (IL-10) possui um papel fundamental nesse processo, principalmente devido as suas propriedades anti-inflamatórias. “Os pesquisadores especulam que os exossomas podem servir como veículos de entrega que estabilizam a IL-10 e a transportam para as células-alvo, aumentando sua eficácia na redução da inflamação e nos processos de restauração”, detalha o especialista.
Segundo o Dr. Fernando, a descoberta representa uma nova esperança para mulheres que enfrentam infertilidade em consequência da SOP. “Vale ressaltar ainda que a terapia baseada em exossomas possui vantagens em comparação ao uso de células-tronco inteiras, pois é mais acessível e menos cara, além de ser mais segura, com preocupações mínimas com relação à tumorigênese, isto é, formação de tumores, e imunogenicidade, que é a capacidade de uma substância estranha provocar uma resposta imune”, acrescenta.
Com os ensaios clínicos das terapias com exossomas para distúrbios reprodutivos já aprovados, não deve demorar para que essa abordagem possa ser amplamente utilizada e, com o tempo, a expectativa é que adquira cada vez mais eficácia e segurança. De qualquer forma, é fundamental que as mulheres com SOP busquem um ginecologista para tratar a condição, já que, se não controlada, pode causar impacto significativo na saúde, estando associada a doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade, além de risco de câncer de endométrio. “O problema é que, em muitos casos, a Síndrome dos Ovários Policísticos passa despercebida e não é diagnosticada. Por isso, é fundamental prestar atenção aos sintomas e realizar consultas regulares ao ginecologista. Além do atraso ou interrupção da menstruação e a dificuldade de engravidar, a pessoa que sofre com SOP pode notar outros sintomas, como ganho de peso, crescimento de pelos no corpo, surgimento de acne, inflamação e resistência insulínica”, aponta o Dr Fernando. “Vale ressaltar que apenas a presença de cisto nos ovários não caracteriza um quadro de Síndrome dos Ovários Policísticos, visto que a formação de cistos nos ovários é normal em mulheres na idade reprodutiva devido ao ciclo menstrual. No geral, o diagnóstico da SOP é dado quando são observados duas das três principais características da doença, incluindo ciclo menstrual irregular, altos níveis de hormônios andrógenos e presença de muitos cistos nos ovários.”
Uma vez diagnosticada a doença, o médico poderá recomendar estratégias para ajudar no controle dos sintomas, podendo variar de acordo com a gravidade do quadro e das características de cada mulher, incluindo sua vontade ou não de engravidar. “O principal método de tratamento da Síndrome dos Ovários Policísticos é a adoção de um estilo de vida saudável, com uma alimentação balanceada e a prática regular de exercícios físicos. Já a terapia medicamentosa pode ser realizada com pílulas anticoncepcionais para regularizar a menstruação ou, caso a mulher queira engravidar, indutores de ovulação. Em caso de resistência insulínica, o médico também pode receitar hipoglicemiantes para controlar o quadro e afastar o risco de diabetes”, finaliza o Dr. Fernando Prado.
Fonte: Dr. Fernando Prado: Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres – Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE). Instagram: @neovita.br