Quais as chances de gestação tardia?
Idade da mulher tem impacto importante nas chances de gravidez, com uma redução drástica após os 40 anos, além do aumento do risco de abortos e alterações cromossômicas.
Na segunda-feira, a revista People divulgou a informação de que a modelo Gisele Bündchen estaria grávida de seu terceiro filho, fruto de seu relacionamento com o instrutor de Jiu-Jutsu Joaquim Valente. A notícia surpreendeu alguns internautas, afinal, é de conhecimento geral que um dos fatores de maior impacto nas chances de gravidez espontânea é a idade da mulher, já que ela nasce com uma quantidade pré-determinada de óvulos, que sofre uma diminuição considerável também na qualidade com o passar dos anos. “As chances de gravidez caem consideravelmente após os 35 anos e reduzem de uma forma extremamente abrupta a partir dos 38, 39 anos. Para se ter uma ideia, enquanto a chance de gravidez em um ano de tentativas é de 96%, aos 25 anos é de 84% aos 35 anos, aos 40 anos essa taxa cai para 55% e para 35% aos 43”, destaca o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo.
Segundo o especialista, com a idade, além da redução do número, os óvulos também sofrem com uma diminuição na qualidade, o que torna as mulheres menos propensas a engravidar e com maior risco de abortos espontâneos. “Uma mudança importante na qualidade do óvulo é a frequência de anormalidades genéticas chamadas aneuploidia (muitos ou poucos cromossomos no óvulo). Na fertilização, um óvulo normal deve ter 23 cromossomos, de modo que, quando fertilizado por um espermatozoide também com 23 cromossomos, o embrião resultante terá o total de 46 cromossomos. Mas, à medida que uma mulher envelhece, mais de seus óvulos têm poucos ou muitos cromossomos. Isso significa que, se ocorrer a fertilização, o embrião também terá muitos ou poucos cromossomos. A maioria das pessoas está familiarizada com a Síndrome de Down, uma condição que ocorre quando o embrião tem um cromossomo extra. E a maioria dos embriões com muitos ou poucos cromossomos não resulta em gravidez ou resulta em aborto espontâneo. Isso ajuda a explicar a menor chance de gravidez e maior chance de aborto em mulheres com mais idade”, esclarece.
Claro, isso não quer dizer que uma mulher mais velha não possa engravidar. Além de existirem exceções à regra, é possível também optar por técnicas de reprodução humana, como a Fertilização In Vitro (FIV). “A FIV é um dos tratamentos de reprodução humana mais populares. No procedimento, o óvulo é fecundado com o espermatozoide em laboratório, formando o embrião que, após atingir certo grau de desenvolvimento, é transferido para o útero da mulher”, explica o especialista, que destaca que uma das vantagens da FIV está no fato de possibilitar a seleção de embriões saudáveis, sem alterações cromossômicas. “Na FIV, os embriões podem ser avaliados por meio de exames genéticos. Dessa forma, apenas os embriões saudáveis e que não apresentam alterações cromossômicas são selecionados e implantados novamente no útero, o que reduz significativamente o risco de aborto”, diz o Dr. Rodrigo da Rosa Filho.
Mas vale ressaltar que as taxas de sucesso também são afetadas pelo processo de envelhecimento, já que a idade do óvulo utilizado é que determina a chance de gravidez. “Para se ter uma ideia, a chance de gravidez na FIV com óvulo próprio aos 44 anos é de 5% e aos 45 anos é menor que 1%”, explica o Dr. Rodrigo. “Aqui também existem exceções à regra, como mulheres com reserva ovariana acima da média ou que congelaram os óvulos anteriormente. Mas, quando esse não é o caso, a solução é o tratamento conhecido como ovorecepção”, destaca o especialista.
De acordo com o médico, a ovorecepção consiste no uso de óvulos doados para a realização da Fertilização In Vitro. “Através desse método, as chances de gravidez por meio da Fertilização In Vitro aumentam para cerca de 60% por tentativa mesmo em mulheres que já apresentam uma idade mais avançada, com mais de 40 anos”, explica o Dr. Rodrigo. “E ao contrário do que muitos pensam, a gravidez por doação de gametas, sejam óvulos ou espermatozoides, não reduz o papel de pais do casal receptor, afinal, são eles que garantirão que a criança cresça feliz e saudável. E é fundamental que temas como esses sejam cada vez mais discutidos para conscientizar a população sobre a importância da doação de gametas e para naturalizar a recepção dos óvulos e espermatozoides em tratamentos de fertilidade.”
Uma vez optada pela ovorecepção, a Fertilização In Vitro ocorre como qualquer outra, com os óvulos doados sendo fertilizados em laboratório com os espermatozoides. “No período que procede a fertilização dos óvulos, os embriões vivem em um prato, em um forno aquecido à temperatura corporal. A equipe monitora seu crescimento e desenvolvimento e, eventualmente, escolhe o correto para transferir de volta para o útero. O embrião então é gentilmente transferido de volta ao útero em um processo semelhante ao do teste de Papanicolau. Se você tiver muitos embriões saudáveis neste estágio, eles podem ser congelados para uso posterior”, conta o Dr. Rodrigo Rosa.
Cerca de uma semana e meia a duas semanas depois que o embrião foi transferido, é feito um teste para ver se ele está aderido ao útero. “Um simples exame de sangue, ou mesmo um teste de gravidez caseiro, detectará os níveis de gonadotrofina coriônica humana (HCG), um sinal de que você finalmente está grávida”, diz o médico. Com o teste positivo, inicia-se o período final de espera: as 38 semanas até o parto.
A partir daqui a gestação segue normalmente como qualquer outra. Mas, é claro, um pequeno número de gestações é interrompido por abortos, sendo fundamental então adotar bons cuidados obstétricos para evitar complicações. “Aqui os hábitos de vida dizem muito. Checar os níveis de Vitamina D também precisa ser feito, uma vez que a própria atuação da vitamina D no sistema imunológico também pode ter impacto na concepção. Níveis baixos podem resultar em rejeição da implantação do embrião pela gestante, tanto na fertilização in vitro ou na gravidez espontânea. Na dúvida, não tenha medo ou vergonha de fazer quantas perguntas quiser ao seu médico e de pedir clareza quando não entender algo, afinal, a gestação é um grande sonho”, finaliza o médico Dr. Rodrigo Rosa.
FONTE: DR. RODRIGO ROSA: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM)