Também conhecido como a adolescência do bebê ou terrible twos (termo em inglês).
Por volta dos dois anos de idade a criança entra em uma fase conhecida como adolescência do bebê, ou terrible twos, em inglês. É quando começam as frequentes crises de birras e malcriações sempre que sua vontade é contrariada. Mesmo os mais bonzinhos e tranquilos surpreendem os pais com ataques de choro e gritos, se jogam no chão, agridem os amigos, batem a cabeça na parede, mordem, beliscam e dizem “não” a tudo que lhes é pedido.
Essa mudança no comportamento, em geral, ocorre entre 1 ano e meio e 3 anos de idade, embora não seja raro se estender até os 4 anos. Normalmente, este comportamento é observado diante das intervenções dos pais. “Deve-se ressaltar que o desejo de contrariar os pais parece ser uma constante na crise dos dois anos”, afirma Anne Tarine Veloso, psicoterapeuta especializada em Cognição e Neurociências do Comportamento.
Nem toda criança passa pelo período com este padrão de comportamento, embora todas estejam sujeitas, uma vez que a crise está associada ao desenvolvimento normal da criança. “É importante sublinhar que, neste mesmo período, algumas mudanças importantes estão ocorrendo, como um abrupto desenvolvimento cerebral. Por consequência, o aumento considerável na competência linguística, na organização do pensamento e na capacidade de exploração do mundo trazem uma percepção de autonomia e independência para tomar decisões ao seu modo”, explica Anne.
Como lidar com a adolescência do bebê?
A grande pergunta é: como os pais devem agir para evitar ou minimizar esse comportamento? Muitas vezes os pais acabam perdendo a paciência na hora da crise porque não adianta conversar, pedir, gritar, ameaças ou colocar de castigos. “A punição ou mesmo tirar a criança de perto de outras crianças faz com que demore ainda mais para passar essa agressividade”, explica a psicóloga infantil Adriana Trifone. “Na realidade não é agressividade pura e sim uma fase de aprendizagem onde a criança faz suas experiências e vê as diferenças entre uma ‘mordidinha de amor’ e outra mais forte que vai doer muito no seu amiguinho”.
Segundo a psicóloga, se os pais agirem com amor, afeto e respeito podem fazer com que esta fase seja mais rápida e menos dolorida. “Para a criança pequena é importante ter limites colocados de modo suave, mas com firmeza. A criança deve aprender que há coisas que pode fazer e coisas que não pode. Principalmente com o exemplo dos pais, aos poucos e com muita paciência é que a criança vai assimilando as regras, que devem ser claras. Elas só serão seguidas se forem entendidas e aceitas pela criança”, diz Adriana.
Na prática, quando a criança começa a espernear na fila de um supermercado, por exemplo, os pais precisam manter a calma. “Seja compreensivo. Mesmo que não ceda às exigências do seu filho não significa que não possa entender o porquê dele estar alterado” ensina a psicóloga Anne Tarine Veloso. Deve-se abaixar à altura da criança e conversar sem reforçar o mau comportamento. “Não negocie no calor da crise, nesse momento você pode sentar-se ao lado da criança e esperar até que as coisas se acalmem, pode tentar abraçá-la, mesmo que ela não aceite bem o seu afeto, isso demonstra que ela pode esperar compreensão e amor. Lembre-se que isso é uma fase e vai passar”.
O que fazer quando a criança vai para a escolinha e está na fase da crise?
Geralmente, a crise dos dois anos de idade acontece na mesma época que a criança vai começar a frequentar a escolinha. Os pais, claro, temem problemas de socialização e agressões aos amiguinhos.
Na verdade, frequentar a escolinha nesse período difícil não é um problema. Ali, ela terá a oportunidade de conviver com outras crianças e aprender a interagir, ceder, dividir, o que pode fazer com que passe mais rapidamente pela fase.
Como nessa idade a criança ainda não tem maturidade para conviver em grupo e pensa ser o centro do mundo, no início a convivência em grupo será difícil e provavelmente haverá brigas pelo mesmo brinquedo, conflito e muito choro. Nesse momento, a intermediação dos professores deve ser rápida e não negociável. A escola pode ajudar tendo respeito à individualidade de cada criança e ter regras bem claras, sem contradições.
Dicas para enfrentar a crise dos dois anos do bebê:
– Não use chantagens e ameaças. Dizer “se fizer isso não gosto mais de você” só irá deixar a criança mais triste, insegura, desconfiada, tensa e cada vez mais agressiva.
– Não sobrecarregue a criança com uma rotina puxada. Atividades, cursos, creche, enfim, uma agenda ocupada da primeira à última hora do dia, além de produzir uma superestimulação, prejudica o próprio convívio social em família, o que facilita o surgimento das crises;
– Encoraje a criança quando se sentir frustrada. Em qualquer sinal de frustração na realização de atividades ao longo do dia, ainda que seja o simples manejo de um brinquedo, é importante que o pai encoraje-o a continuar, com zelo e carinho. Oferecer ajuda, nestes casos, pode ser uma atitude que faz a diferença;
– Incentive a independência de forma coerente. É importante estimular a criança a realizar tarefas sozinhas, desde que esteja de acordo com a sua capacidade;
– Deixe que tomem pequenas decisões. Eles precisam entender que podem fazer algumas escolhas, como o sabor do sorvete ou a cor da camiseta nova. Porem outras não entram em negociação, como o uso da cadeirinha no carro e o horário de ir para a cama.
– Observe o comportamento. É importante lembrar que a crise dos dois anos reflete um comportamento de exploração do mundo e os movimentos nessa direção podem ser bem vindos. Porém, se estiverem acompanhados de falta ou excesso de apetite, alterações no sono, sinais de maltrato no corpo, medo no enfrentamento de situações rotineiras e dificuldade de convívio e contato social, pode ser sinal de algum outro problema.
– Entenda que é uma fase de aprendizado e mostre o caminho. Os pais precisam aceitar que seus bebês estão se tornando pessoas mais independentes, com opiniões, desejos e comportamentos diferentes. Esse é o momento em que estão descobrindo o mundo por seus próprios sentidos e nem sempre sabem o que estão fazendo. Os pais precisam estar sempre por perto sinalizando o que é certo ou errado, bom ou ruim.