A delicada relação entre a mãe e a creche-escola

“A licença-maternidade é um período curto, mas intenso. São alguns meses entre o nascimento e a volta à rotina profissional

É um período onde a saúde física e emocional da mãe tem que ser tratada com cuidado. E é um período também em que ela é obrigada a escolher com quem ou onde deixar seu bebê, já que o mercado de trabalho pediu seu retorno. E, no trabalho, filho não entra.

Existem várias opções para sair dessa sinuca, com seus prós e contras. Desistir do emprego e ficar um tempo maior com o pequeno; deixa-lo com os avós; contratar uma babá ou escolher uma creche.

As vantagens e desvantagens dessas escolhas merecem, inclusive, uma matéria especial. Afinal, não é fácil chegar a esta decisão e nem tão pouco escolher. Até porque quando pensamos na melhor pessoa para cuidar do nosso filho, a resposta é clara: nós mesmos.

Mas hoje vamos apenas falar sobre a derradeira hora da primeira separação entre mãe e filho – quando ela o coloca na creche ou escola. Vamos conhecer Fernanda, que só voltou a trabalhar quando o bebê já estava com mais de dois anos e optou por colocá-lo na pré-escola, e Lena, que sofreu e se divertiu até entender que precisaria se adaptar a nova e independente rotina do filho na creche. De qualquer forma, o corte doeu para ambas. Na hora de abrir mão do tempo junto ao filho e transferir a responsabilidade para outros, somos muito parecidas.

O primeiro tchau

A roteirista carioca Lena Gino é mãe de Gabriel, de 14 anos, e Alexandra, de 11, relata com bom humor como pode ser duro o início da longa relação entre a mãe e a creche e como, apesar de tudo, o final pode ser feliz:

“Quando Gabriel completou sete meses, meu marido proferiu o ultimato: ou você o coloca na creche ou nosso casamento e o seu emprego vão correr sérios riscos! Eu estava totalmente obcecada pela condição de mãe e jamais permitiria que alguém ousasse cuidar do meu bebê. Temendo o desemprego e o divórcio, lá fui eu, carregada de culpa e medo, deixar o menino naquele lugar ameaçador, cheio de pessoas desconhecidas, que se julgavam capazes de alimentar, banhar e ninar o meu filho. Socorro, meu bebê está em perigo!

Na primeira semana de adaptação, envelheci quatrocentos anos, chorei e quis matar as berçaristas. Como assim, meu filho será o terceiro a tomar a papinha? No final de um mês, cumprindo junto com o bebê o expediente da creche, a dona da instituição me chamou e declarou veemente: o seu tempo aqui acabou. O bebê está adaptado, mas não sabemos mais o que fazer para adaptar você a esta situação.

Descobri, pouco depois, que ele só chorava quando eu estava por perto e, assim que eu virava a esquina, ele, manipulador, caía na farra, feliz, com as outras crianças. Três anos depois, quando meu segundo bebê completou quatro meses, parei o carro na porta, entreguei-o nas mãos da funcionária e avisei: volto as sete pra buscar. Já ia saindo quando dona da creche, surpresa, perguntou: ‘Você não vai ficar? Virei, olhei-a nos olhos e, sem culpa, caí na risada”.

Ele nem olhou pra trás

Leandro Junior, filho de Fernanda, seguiu com os próprios pequenos passos o “longo caminho” entre o portão da escola e a sala de aula. Ela conta esta trajetória desde a escolha da escola até o início de um mundinho dele, onde ela passou a ser mera espectadora.

A escolha

“Leandro Junior vive num mundo de adultos. Aprendeu a levar o copo que bebeu água para a pia, jogar papel higiênico usado na lata de lixo, colocar o telefone no gancho, guardar os sapatos etc. Apesar disso não desenvolveu a fala. Com mais de dois anos tinha uma fala enrolada e não formava frases completas. Decidi, por isso, colocá-lo na escola, seguindo dois critérios: que fosse perto da nossa casa e tivesse um bom preço.

Fui à primeira escola selecionada por meio de uma indicação. A visita ao local não foi animadora. As paredes da sala de aula eram escuras, no banheiro não havia porta e a área de recreação era acarpetada. Meu filho é alérgico a poeira. Descartei a primeira opção.

Na segunda escola indicada, os brinquedos eram de plástico com pontas arredondadas. Os banheiros tinham vasos sanitários especiais para as crianças e as janelas eram seguras. As professoras me pareceram simpáticas e confiantes e na área de recreação os tapetes eram emborrachados. Aprovei”

Como assim?

“Eu estava ansiosa e nervosa no primeiro dia de aula. Na entrada, um senhor chamava as crianças no portão. Eu perguntei se alguém viria pegar o Leandro e ele me respondeu que uma professora o receberia lá dentro. Como assim? Fiquei preocupada porque a partir daquele portão ele estaria sozinho. Como iria reconhecer a professora se os dois ainda não se conheciam? Bem, ele entrou pelo corredor, não me deu tchau e nem olhou para trás. Me esqueceu ali. Fiquei sem direção e com vários sentimentos em erupção: felicidade, perda, medo, orgulho.””

Adaptado

“A adaptação demorou por causa da fala enrolada. Ele foi trocado de sala e ficou com crianças menores, que também falavam pouco. Os coordenadores me encaminharam para uma fonoaudióloga. Também pedi uma reunião com os professores e solicitei que descrevessem o comportamento do meu filho. Queria saber como eles o viam. E eles me falaram tudo o que eu queria: que é carinhoso, educado e divertido, apesar da questão da fala. Já fui a sua primeira festa da escola, na Páscoa. Ele estava lindo!”

  • Dicas:
  • Não escolha só pela boa aparência, consulte quem já utilizou o serviço.
  • Informe-se sobre a proposta pedagógica da instituição e a formação dos profissionais.
  • Prefira as pré-escolas ou creches próximas a sua casa.
  • Verifique se a instituição tem alvará de funcionamento junto à Secretaria de Educação.
  • Leia atentamente os contratos e fique atenta a valores, multas e rescisões. Guarde todos os recibos (comprovantes de pagamentos).
  • Respeite o período de adaptação. Ele é importante para a criança, para você e a instituição.
  • Certifique-se de que o é local limpo, organizado, seguro, iluminado, ventilado e com espaço para brincadeiras. Não esqueça também de ver as condições das instalações e dos brinquedos.
  • Os banheiros dos adultos devem ser separados dos infantis.
  • As pias também têm que estar adequados à altura dos pequenos.
  • As refeições devem ser preparadas com higiene e devem seguir a orientação de uma nutricionista. E, se possível, conheça a cozinheira.
  • Vida de Mãe defende que a maternidade é linda, mas chega para somar e não anular. Temos que conseguir um jeitinho para continuarmos bonitas, boas profissionais, alegres etc. Difícil, não impossível. Por isso, temos que nos acostumar com os cortes contínuos do “cordão umbilical”, que continuarão a acontecer de acordo com o crescimento dos nossos filhos. E mesmo assim, sermos super mães, sempre!

Beijos!
Denise

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