O maior desejo do ser humano é o de ser amado.
Diante disso, as consequências do abandono podem ser devastadoras. O efeito imediato é o sofrimento. Ele é frequentemente seguido de uma percepção distorcida de si. Também não é incomum que apareça um autoconceito disfuncional, associado à invisibilidade. O desamparo faz surgir uma ferida gigantesca, que pode ter suas consequências expandidas durante toda vida adulta.
Isso, porque toda criança e adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade. Quando seus direitos lhe são usurpados eles ficam expostos ao risco, a vulnerabilidade e a fragilidade. Assim, como um dos maiores desejos de alguém em desenvolvimento é se sentir seguro, quando nos sentimos rejeitados, por qualquer que seja o motivo, isso pode reverberar duramente em nossa história.
Contudo, as figuras parentais, embora sejam muito importantes para a formação saudável da personalidade, não se reduzem a biologia. Ambas as funções, paterna e materna, possuem um papel central no desenvolvimento e na estruturação do psiquismo. Entretanto, se faz necessário explicar que por função, entendem-se os operadores simbólicos que estão em jogo e não o masculino e o feminino.
Assim, a função materna está ligada ao acolhimento e a proteção e a função paterna ligada à interdição que ajuda a lançar a criança para as coisas do mundo. Desse modo, os cuidadores e as relações estabelecidas com eles são decisivos para o desenvolvimento psíquico saudável. E isso, aliado ao ambiente familiar, impacta diretamente na formação da personalidade e no bem estar subjetivo de quem é adotado.
E, se em tempos passados, imperava o modelo único de família, hoje a concepção é baseada no vínculo afetivo. Assim, adotar segue sendo um ato de amor que aumenta a chance de formação de laços significativos para a criança, tornando possível a ressignificação de situações passadas.
Estar com outras pessoas com quem elas possam se identificar possibilita uma maior compreensão de sua história e reatualiza a esperança de se perceberem seguros e amados. A adoção transforma histórias.
Autoria: Bruna Richter – Psicóloga graduada pelo IBMR e Bióloga graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Possui pós-graduação em Psicologia Positiva e em Psicologia Clínica, ambas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.