Apesar de ser uma atitude louvável, doar embriões para outra pessoa ou casal com esperança de ter filhos é um ato que traz consigo muitas perguntas. Especialista em Reprodução Humana fala sobre principais dúvidas que devem ser respondidas pelo possível doador
Provavelmente, mentes brilhantes não estariam entre nós sem o advento da fertilização in vitro (FIV), uma técnica que permitiu, durante décadas, que inúmeras pessoas tivessem filhos, muitas vezes após anos de decepção. “É um processo complexo, no quesito médico e emocional. Aqueles que embarcam em um ciclo de fertilização in vitro geralmente focalizam o filho no bebê que desejam. A maioria espera que um ciclo produza vários embriões, porque frequentemente é necessária a transferência de mais de um embrião para se obter uma gravidez bem-sucedida. Quaisquer embriões restantes podem oferecer ainda a esperança de futuras gestações e filhos adicionais. Mas para casais que não querem mais ter filhos, há algumas opções e a doação, uma delas, é um ato que traz consigo muitos questionamentos”, explica o ginecologista obstetra Dr. Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita.
Quem tornou-se pai por meio de fertilização in vitro e ainda tem embriões não está sozinho. As estimativas variam quanto ao número de embriões criopreservados nos Estados Unidos, mas é provável que esteja na casa das centenas de milhares. No Brasil, não há dados. “Você pode estar entre as muitas pessoas ou casais que planejam usar seus embriões, ou entre aqueles cuja família parece completa. E você pode estar começando a descobrir o que fazer com seus embriões, ou pode estar adiando a decisão, pagando pelo armazenamento anual de embriões e não sentindo nenhuma urgência para tomar uma decisão, já que os embriões podem permanecer congelados com segurança por muitos anos. Ter ‘extras’ congelados pode oferecer conforto, uma espécie de apólice de seguro psicológico após anos de decepções e perdas. Mais cedo ou mais tarde, porém, a maioria das pessoas se encontra em um ponto de decisão”, diz o Dr. Fernando. As opções são:
Descartar seus embriões restantes. Isso pode parecer mais difícil do que você esperava, mas absolutamente factível. “Muitas pessoas veem esses embriões como parte do processo de fertilização in vitro que permitiu que tivessem seu(s) filho(s) querido(s). A palavra ‘descartar’ soa áspera, mas se o casal não está preparado para ser pai de outro filho e não vê doá-lo a outras pessoas como uma opção, isso pode ser feito”, explica o Dr. Fernando.
Ter um filho adicional. Uma família maior não era o planejado, mas com embriões extras como parte da FIV, muitas pessoas decidem que vale a pena passar por pelo menos mais uma transferência de embrião antes de tomar a decisão final de descartá-la.
Doar seus embriões para a ciência. Essa opção fará com que os embriões sejam enviados para a pesquisa; dessa forma, eles podem ser destinados para universidades e institutos com o objetivo de proporcionar avanços nas pesquisas com células-tronco embrionárias.
Doar seus embriões para outra pessoa ou casal. “Para alguns, isso parece natural: você recebeu filhos de presente e deseja retribuí-lo a outras pessoas que anseiam pela gravidez e pela paternidade. No entanto, para muitos, a decisão de doar não parece fácil ou natural. Em vez disso, isso representa um enorme dilema: você quer honrar os embriões e oferecer-lhes uma chance na vida, mas tem sentimentos turbulentos quando pensa em seu filho genético sendo criado por outra família. No entanto, é importante que se destaque que doar os embriões deve ser um ato voluntário (sem fins lucrativos), sendo que os pais doadores não devem conhecer a identidade dos receptores e vice-versa, segundo a legislação brasileira”, destaca o médico.
Não decidir é decidir. Ao listar as opções, é importante reconhecer que alguns de seus colegas pais de fertilização in vitro estão ‘decidindo não decidir’. Eles estão entre os muitos que “abandonaram” seus embriões (termo que as clínicas usam para designar famílias que evitam o contato). Eles param de pagar suas taxas de armazenamento; eles não respondem a chamadas e cartas de divulgação. Nesse caso, as clínicas podem descartá-los.
Vou doar embriões para outra família. E agora?
“Como nos sentiríamos sobre outra família criando um filho criado com nossos genes?”, “Isso é justo para as crianças envolvidas? Como nossos filhos se sentirão sabendo que têm irmãos genéticos completos em outra família?”, “O que farão com o fato de ter sido a escolha aleatória de um embriologista que determinou qual embrião iria pousar em nossa família e qual em outra?”, “Como as crianças que vêm com nossa doação se sentirão? Eles se sentirão deslocados, como se tivessem caído na família errada? Será que eles vão parecer um pouco com um projeto de ficção científica?” São muitas as dúvidas que podem permear a decisão. “Se você faz parte de um casal, pode resolver essas questões com seu parceiro. (Se você for solteiro, a decisão é sua.) De qualquer maneira, as decisões passam por questões éticas, religiosas e morais; são questões complicadas, melhor feitas com o tempo e com cuidado. Embora você possa querer tomar uma decisão logo para que possa sentir o fechamento e seguir em frente como uma família, pensar em todos os questionamentos é o melhor caminho para uma decisão confortável”, finaliza o Dr. Fernando Prado.