Crianças reféns da tecnologia – parte 2

Os pais não precisam radicalizar e isolar as crianças da tecnologia o que é preciso é tornar essas crianças sociáveis com e sem o uso da tecnologia.

Muitos pais acessaram o Guia do Bebê para concordar, discordar ou pedir orientações referentes ao artigo anterior intitulado de Crianças Reféns da Tecnologia. O consenso é de que a atual geração está cada dia mais distante do mundo real, mais narcisista, menos participativa com os familiares e optando, infelizmente, por uma vida “plugada” na internet e games com conteúdos discutíveis e em alguns casos inapropriados para a idade.

A pergunta principal feita pelos internautas é: “como impedir que meu filho também seja um refém do mundo tecnológico e se isole do convívio social?”. Essa questão é complexa, pois não há resposta única e coletiva. Mas esse assunto pode ser bem direcionado para uma solução razoável.

Antes de entrarmos de cabeça no assunto, vamos deixar claro que a PERCEPÇÃO E A SENSIBILIDADE DOS PAIS serão determinantes para minimizar os efeitos tecnológicos na vida do filho. Também é preciso deixar claro que em nenhum momento estamos incentivando que as crianças não tenham acesso à tecnologia, pelo contrário, a tecnologia deve ser utilizada por todos desde que ela traga algum benefício para o indivíduo ou o coletivo.

Criança e seu pai utilizando computadores - Foto: Nadezhda1906/ShutterStock

Foram vários as perguntas na linha: “quanto tempo do dia no computador ou TV é considerado ideal para meu filho?”, ou então “como faço para tirar meu filho da TV, computador ou aplicativos?”, ou “qual atividade ideal para afastar a criança dos games?”.

Não existe um tempo exato ou esporte perfeito para determinar que “seu filho será menos viciado tecnológico?” se seguir corretamente tais instruções. Se existisse um tempo ou atividade perfeita, seria muito mais fácil “devolver” as crianças ao mundo real.

A percepção dos pais não está apenas em captar quando o virtual se torna exagerado no cotidiano do pequeno e que o torna tão distante dos familiares mesmo dentro de casa.

A percepção e sensibilidade servirão para descobrir habilidades e dons dos filhos, incentivando a prática de atividades físicas ou intelectuais que possam reverter ou minimizar essa disputa com os games e internet. E ninguém melhor do que o pai ou a mãe para descobrir as aptidões dos filhos.

Algumas crianças trocariam facilmente uma tarde de videogame por aulas de judô, futebol ou dança. Outras passariam horas jogando xadrez ou aprendendo violão. Mas será que elas foram apresentadas e estimuladas a essas atividades alguma vez na vida?

Crianças costumam ficar fascinadas quando entram numa livraria. Elas querem ver (não necessariamente ler) ilustrações e contos infantis. Esse é só um sinal de que as crianças poderiam conhecer “outros mundos interessantes” mas na maioria das vezes elas são expostas apenas a mídias virtuais por pura acomodação, falta de tempo ou desconhecimento dos pais.

Cabe a vocês, pais, saberem quando e como convencer o filho a introduzir outra atividade que o faça esquecer os games nem que seja por algumas horas diárias. Seu filho pode “manjar” tudo de tecnologia e ainda assim ser um bom jogador de futebol, lhe ajudar a secar uma louça e convidar amigos para brincarem no fim de semana em casa de brincadeiras como “stop”, “amarelinha”, “esconde-esconde”, etc. O convívio social de seu filho não pode se restringir a uma tela de computador ou smartphone.

Os pais têm que dar exemplos positivos

No artigo anterior dissemos que os filhos veem os pais como herois e exemplos a serem seguidos. Pensando nisso, pergunto: você pratica alguma atividade física? Você fica longo tempo mostrando o celular novo a ele? Você é daqueles que chega em casa e vai direto ao controle remoto para ver TV com o filho até o primeiro dormir no sofá?

E quem falou que seria fácil educar os filhos? Sabemos que a vida é corrida, com horários apertados, sendo prazeroso curtir o pequeno em frente ao televisor bebendo refrigerante e comendo salgadinhos. Mas os pais têm que dar exemplos, porque senão a criança, que não é boba, vai pensar: meu pai me pede tanto para eu fazer alguma coisa mas ele está barrigudo e não faz nada.

Incentive seu filho a cumprimentar as pessoas (bom dia, boa tarde, boa noite). Incentive-o a agradecer (obrigado). Incentive-o a pedir com gentileza (por favor, com licença). Incentive-o a oferecer ajuda (posso lhe ajudar? o sr, precisa de ajuda?). Incentive-o a cumprimentar com as mãos olhando nos olhos da outra pessoa. E para as pessoas mais próximas de seu vínculo afetivo, incentive-o a abraçá-las. Mas para estimulá-lo a tudo isso, vocês pais (mamãe e papai) deverão dar o exemplo praticando esses atos na frente dele para mostrar como é que se faz.

Nada de TV para crianças com menos de 2 anos

A Associação Americana de Pediatria recomenda que a criança não tenha qualquer contato com mídias virtuais antes dos 2 anos de idade. A TV distrai o bebê, o que pode atrapalhar o desenvolvimento motor e cognitivo.

Além disso, com a TV ligada os pais falam menos com as crianças. E a conversa com as crianças nos primeiros anos de vida é imprescindível para o desenvolvimento da fala dos pequenos.

Limites

O limite de eletrônico aplicado aos menores pode surtir efeito ao Pedrinho, mas não surtir para o João. Isso varia demais. Uma criança pode assistir mais TV do que a outra, mas no futuro ser um adulto sem qualquer dependência da tecnologia. A grande questão não é o tempo que seu filho está exposto às tecnologias mas se ele está sendo capaz de se relacionar ao vivo com outras crianças e pessoas e está sendo capaz de lidar com frustrações, sabendo que não é possível dar um “reset” (reiniciar) na discussão para ver se agora ele ganha ou depois de receber um “não” bem dado por pessoas que não são de seu círculo familiar. Se o seu filho prefere ou se sente mais à vontade em se relacionar com outros através de dispositivos eletrônicos, aí está o indício de que há algo começando a se manifestar inadequadamente. 

Se for preciso e possível, consulte profissionais da saúde, como psicólogos e pediatras, pois a experiência deles junto com as suas informações poderão ajudar seu filho a reverter esse isolamento social.

Lembrando que a tecnologia no mundo pode ser bem interessante na infância, desde que usada adequadamente. A ideia não é lutar contra a tecnologia ou querer que o mundo volte a ser como 25 anos atrás, até porque a tecnologia está totalmente inserida em nossas vidas e continuará a ser cada vez mais presente em nosso dia a dia.

Então me diga o que você faz para evitar que seu filho seja um “abduzido” pelo mundo virtual?

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