Psicóloga Ana Streit pontua que falta de afeto paterno pode ocasionar prejuízo nas relações, principalmente, amorosas
Com a proximidade do Dia dos Pais, muitos brasileiros passam por reflexões sobre o significado da paternidade. Isso porque, 104.709 crianças foram registradas sem pai no Brasil, de janeiro a julho de 2023, segundo dados da Central de Informações do Registro Civil (CRC Nacional). De acordo com estudos e especialistas, a ausência de um pai pode ter muitas consequências negativas na vida da criança e também na fase adulta da pessoa. Para a psicóloga Ana Streit, um dos impactos é na forma como a pessoa se relacioana com os demais. “Ao não ter tido um pai, pode haver impactos na qualidade dos vínculos estabelecidos, como pessoas que se relacionam com superficialidade ou com muito medo de perder a outra. E esse medo pode aparecer de forma patológica, como o ciúme excessivo ou o controle”, comenta.
A ausência da figura paterna também acontece quando a criança tem um pai, mas ele não é presente. ”Há muitos pais que são provedores, mas não são referência de afeto e de vínculo. Nesse caso, a criança pode aprender a naturalizar a “presença-ausente”, que é o pai presente fisicamente e ausente emocionalmente. Com isso, a criança leva esse modelo para as suas relações futuras. A superficialidade aparece na pobreza das relações, na frieza e na desconexão emocional. Isso pode prejudicar a saúde mental da criança durante o desenvolvimento dela e na sua fase adulta. Algumas vezes o reflexo aparece na baixa autoestima do adulto, na insegurança e no medo da rejeição”, pontua a psicóloga.
Ainda segundo a especialista, a importância de um pai é muito maior do que gerir uma família ou dar condições financeiras aos filhos. Ana explica que a criança tem um aspecto no desenvolvimento que a onipotência, onde acha que tudo acontece por conta dela, por culpa dela. Se o pai abandonou foi porque ela não foi digna ou não foi boa o suficiente. São aspectos que vão passear na imaginação da criança. Por isso a psicóloga afirma: “Quem conviveu com a ausência de pai precisa reparentalizar e validar essa falta, para que possa construir relações profundas e conectadas, apesar de não ter um pai”.
Por outro lado, de acordo com a especialista, a relação de qualidade e de vínculo seguro com o pai, pode gerar impactos positivos para a vida toda. A criança se torna um adulto com autoestima positiva, consegue ter força para os desafios da vida e se torna capaz de desenvolver a resiliência. “Ter uma relação de qualidade com o pai, no início da vida, faz a pessoa ter uma base sólida; essa primeira relação tem impacto fundamental. Se a criança teve outros cuidadores que supriram ela de afeto, ela pode ter a falta do pai reparada; mas ainda assim sendo necessário ressignificar a falta deste, e acomodá-la no seu mundo interno no decorrer da vida. É um trabalho que pode ser feito com ajuda de um terapeuta”, finaliza Ana Streit.
Fonte: Ana Streit é psicóloga clínica, Mestre em Psicologia e Saúde pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), e Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Além disso, a profissional é professora, supervisora e terapeuta do esquema, já em processo de Certificação Internacional em Terapia do Esquema pela International Schema Therapy Society (ISST). A profissional gaúcha escreve e fala sobre essência e conexões saudáveis no Instagram (@anacstreit)