Data (25/05) será dedicada a divulgar informações sobre processos de adoção, objetivo é elucidar e sensibilizar as pessoas sobre esse ato de amor
O Brasil voltou a bater recorde de processos de adoção concluídos no país em 2022, quando 4.115 menores foram oficialmente adotados, segundo o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA) do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O recorde anterior, de 2021, era de 3.893 crianças adotadas. O levantamento do SNA começou a ser realizado em 2015. A maioria dos adotados em 2022 tinha entre 2 e 4 anos de idade, 26% do total, ou 1.060 crianças, e apenas 195 eram adolescentes com mais de 14 anos, 5% do total. Segundo os dados do SNA, 46% das crianças adotadas em 2022 eram pardas, 40% brancas e 11% pretas.
A partir deste ano, foi incluída no calendário nacional, a partir de publicação no Diário Oficial da União, a Semana Nacional da Adoção, celebrada na semana anterior ao Dia Nacional da Adoção, em 25 de maio. Pela primeira vez, haverá um período específico para dar publicidade ao assunto, promover campanhas e divulgar informações para provocar reflexão, conscientizar e sensibilizar a população.
Apesar de conquistas recentes, como a digitalização de processos e consultas virtuais, a adoção no Brasil ainda enfrenta grandes desafios relacionados à burocracia e morosidade. Após concluído todo o processo, o maior desafio é a adaptação da família à nova rotina. Tabus, estigmas e preconceitos ainda fazem parte do cotidiano de crianças adotadas, afirma a servidora pública federal, especialista em neurociências do comportamento, pós-graduada em Educação Infantil e escritora, Lisandra Barbiero.
Adotada aos 7 meses, Lisandra tem se dedicado à produção de livros sobre o tema para suprir uma grande lacuna no mercado. “Há pouca literatura sobre adoção no Brasil e ainda há muitos estigmas marcando a vida dos adotados”, afirma. Ela escreveu três livros e um e-book para trazer reflexões e estimular a adoção. O e-book “15 Lições de Uma Adotada”, trata justamente de dicas para facilitar o processo de adaptação a uma nova vida e composição familiar.
Lisandra explica que o livro é baseado no que aprendeu ao compreender sua condição de adotada. “Às vezes a gente perde muito em não observar certos detalhes, recortes da nossa vida. Quando eu parei para observar esses recortes importantes, tudo mudou. Entendi que saí de uma família, fui inserida em outra e ali fui socializada. Escrevi o e-book principalmente para os adotados, mas ele ajuda também os pais”, afirma.
Direito à verdade
No e-book, ela mostra como ressignificou a adoção para moldar-se como pessoa, na forma de construir sua família e de ter amizades. Entre as 15 lições que aprendeu desde que descobriu ter sido adotada, aos 7 anos de idade, a mais importante é o direito à verdade. Lisandra descobriu a adoção ao confrontar a mãe porque se viu diferente dos demais membros da família nos porta-retratos espalhados pela casa. Na época, há 30 anos, conta que se sentiu especial quando a mãe disse que ela não tinha sido gerada na barriga, mas no coração.
Ao contar a novidade na escola, a escritora foi vítima de preconceito e bullying. “Os colegas disseram que eu tinha sido encontrada no lixo, que ninguém me quis, que nunca havia sido amada, que era feia e pobre”, lembra a escritora. Ela comentou que precisou de muitos outros anos para ressignificar sua adoção. “A primeira lição do e-book é o direito à verdade. Minha mãe, quando conversei com ela sobre adoção, mentiu três vezes e em todas elas matou meus pais biológicos porque ficou com medo de perder o status de mãe. Ela também não sabia como lidar. A verdade é fundamental porque a história pertence à criança, por mais difícil que seja para os pais. É comum pessoas revoltadas devido à maneira como descobriram que foram adotadas”, explica.
Outra lição importante é não conviver com pessoas tóxicas. “Encontramos pessoas na vida que querem nos diminuir, colocar para baixo. Eu nunca me senti abandonada, rejeitada ou não amada. O adjetivo é respeito”, ensina Lisandra. Ela entende que foi doada por uma pessoa que não teve condições de ficar com ela. Conta que chegou a se interessar pelos pais biológicos na adolescência, mas não quis conhecê-los porque cresceu bem resolvida com a adoção.
Minha família
“Até porque minha edição foi muito bem-feita. Sempre me senti amada pela família. Não precisei buscar amor, não tive a carência de buscar em outra família o que sempre tive em casa. Tenho minha família, mãe, pai, irmãos. Minha única família”, afirma. Segundo ela existe o estigma social de não legitimar as crianças adotadas e isso acaba interferindo na vida dessas crianças.
“Há muitas pessoas adotadas buscando terapias, tristes, que não se sentem acolhidas. E os pais querem acolher. Mas elas usam adjetivos errados. Quando olhamos nossa adoção temos que enxergar o que tem de bonito na história, assim, temos meios para percebê-la com mais amor. Com isso, a adoção deixa de ser um peso”, alega Lisandra.
No seu primeiro livro, “Não Nascemos Filhos, Nos Tornamos: o amor na adoção sempre vencerá o medo do abandono e do desamor”, ela trata justamente dessa questão. Defende que toda criança, consanguínea ou não, percorre o mesmo processo para se tornar filho, que passa pela convivência diária com a família, pela decisão dos pais de amar, acolher e cuidar dessa criança.
Lisandra também é autora de outros dois livros infantis, “A Incrível Descoberta de Aninha”, volumes 1 e 2, sobre uma criança adotada que descobre de maneira amorosa o que é ser filha de coração e o que significa passar por esse processo. “Os livros mostram que adoção é amor e respeito, que os pais a amam porque é filha e a respeitam por ela fazer parte da família. Quero que mais crianças tenham oportunidade de terem orgulho da sua história, da sua origem, de se sentirem amadas e respeitadas pela sua família”, comenta.
Fonte: Lisandra Barbiero – Servidora pública federal, jornalista e escritora. Especialista em neurociências do comportamento e pós-graduada em Educação Infantil. Membro do Grupo de Trabalho de Afinidade e Raça do Senado Federal. Lisandra tornou-se filha pela adoção aos sete meses de vida. Escreveu quatro livros com o tema adoção no Brasil. A autora, no livro que será lançado em maio ” Não Nascemos Filhos, Nos Tornamos!” Apresenta um novo conceito que envolve diferentes tipos de violência denominado bullying adotivo. É pesquisadora do assunto no País e mentora do primeiro curso de adoção voltado para as questões emocionais, psicológicas e educativas sob a ótica de quem viveu na prática o sentimento de ser acolhida.