O pré-natal é indispensável e importantíssimo na gestação, mas não impede que algumas mulheres tenham complicações na saúde. Nesses casos, o que fazer?
Gravidez é sinônimo de saúde. Mas, em alguns casos, podem ocorrer problemas que colocam em risco o bem-estar da gestante e de seu bebê. Se não houver acompanhamento profissional, algumas doenças da gestação podem levar ao óbito fetal e materno, sendo bastante graves. Para a Dra. Mariana Rosario, o pré-natal bem feito é fundamental para a prevenção e o controle de doenças, mas ele não é suficiente para que elas não apareçam. “Existem mulheres com predisposição para hipertensão arterial, outras já engravidam com sobrepeso e obesidade; há as que passam pela gestação mais velhas e as situações se apresentam no decorrer da gestação. O importante é ter acompanhamento de um médico preparado e de confiança, que poderá apoiar a paciente em suas necessidades”, diz a ginecologista, obstetra e mastologista, que é membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp) e do corpo clínico do hospital Albert Einstein e pesquisadora da Faculdade de Medicina do ABC.
Ela explica que muitas pacientes apavoram-se quando acontece um problema na gravidez, mas a Medicina está bastante avançada para que os tratamentos sejam bem eficientes e, no final do período gestacional, mãe e filho estejam bem. Dra. Mariana Rosario elencou as principais ocorrências que podem causar problemas gestacionais:
Rubéola, sífilis, toxoplasmose e citomegalovírose – são doenças causadas por vírus que podem ser adquiridos pela mãe, por contato humano e até animal – a toxoplasmose é transmitida por gatos, por exemplo – e que causam problemas porque ela as transmite ao bebê. A rubéola tem como sintoma o rash cutâneo, que são placas avermelhadas na pele, mas, também pode causar surdez e problemas visuais no bebê, então, é preciso que a mãe seja vacinada antes da gestação. Já a sífilis pode ser tratada com antibiótico. Assim, que se passe a doença, que causa problemas neurológicos ao bebê, é possível tratá-la doença. Já a toxoplasmose e a citomegalovirose não têm vacina e apresentam-se como uma febre leve, assemelhando-se a um resfriado: é preciso ficar atenta ao contato com animais e aos ambientes muito fechados. Ambas podem causar retardo no crescimento uterino e problemas neurológicos.
Hipertensão arterial, pré-eclâmpsia e eclâmpsia – A hipertensão arterial sistêmica (HAS), ou pressão alta, na gestação, é um fator de risco para a pré-eclâmpsia, um quadro de risco para a saúde da mãe e do bebê. Considera-se que uma mulher está em pré-eclâmpsia quando ela apresenta, além da HAS, a proteinúria, que é a proteína elevada na urina. A pré-eclâmpsia consiste, de forma simplificada, na diminuição do calibre dos vasos sanguíneos – e é justamente isso que causa esse aumento da pressão. Esse quadro é característico da 24ª à 28ª semana gestacional, então, é preciso ficar atenta a esse período da gestação. É mais comum na primeira gestação ou na gestação de um parceiro diferente do anterior porque a causa pode ser uma incompatibilidade genética.
A eclâmpsia é o ápice do problema, quando ocorre a convulsão, no final da gravidez. É um problema grave, que pode levar a mãe e o bebê ao óbito.
A pré-eclâmpsia é tratada no pré-natal, com anti-hipertensivo e mudança no estilo de vida, com dieta e exercício físico, e um controle rigoroso do desenvolvimento do bebê, porque esse quadro pode afetar seu crescimento e antecipar o parto. O tratamento evita a eclâmpsia, tornando o parto seguro e evitando a Síndrome de Hellp, uma complicação obstétrica grave da pré-eclâmpsia.
Diabetes gestacional – O diabetes gestacional é uma alteração no metabolismo da insulina, um hormônio anabólico que, de maneira bem simplificada, está relacionado à formação do bebê. Por isso, ele está bem alto no começo da gestação. Por volta da 24ª à 28ª semana, esse hormônio tem uma queda brusca. Se o pâncreas da mãe não tem um funcionamento adequado, seja por mau funcionamento, pré-disposição genética ao diabetes ou por má-alimentação ou ganho de peso inadequado na própria gestação ou antes dela, ela pode desenvolver o diabetes gestacional.
O diagnóstico do diabetes gestacional é realizado por curva glicêmica, por volta da 28ª semana, um exame obrigatório a todas as gestantes, independentemente da predisposição ao quadro. Apresentando o diabetes gestacional, a paciente tem, a critério médico, o tratamento realizado por dieta e atividade física ou, no caso mais grave, com uso de insulina. Não é usado o hipoglicemiante oral no diabetes gestacional.
O diabetes gestacional atrasa a maturação pulmonar do bebê. Como o pulmão é um dos últimos órgãos a se formar no feto, é preciso tomar cuidado com a antecipação do parto, já que filhos de mães com diabetes gestacional tendem a ter pulmões formados tardiamente. Além disso, como o bebê é exposto a grandes quantidades de glicose no útero materno, ele tem maior risco de desenvolver obesidade e diabetes no futuro, além de nascer grande (a chamada macrossomia fetal), apresentando também hipoglicemia neonatal e dificuldades no parto.
Sangramentos – Sangramentos no primeiro trimestre podem indicar gravidez ectópica – aquela que ocorre fora do útero e precisa ser interrompida, por conta do risco de vida da mãe. Ou é sinal de aborto, necessitando de intervenção medicamentosa, repouso e cuidados especiais. Todos os mínimos sinais de sangramento precisam ser avaliados pelo obstetra, por meio de ultrassonografia, para um diagnóstico preciso. No último trimestre, o sangramento pode indicar a placenta de inserção baixa (também conhecida por placenta prévia), que aumenta o risco de hemorragia. Também é um quadro que inspira cuidados e repouso, com indicação de acompanhamento médico imediato. Quedas, traumas, estresse, uso de drogas (especialmente cocaína) ou hipertensão arterial podem causar descolamento de placenta e necessitam de parto de emergência, porque o bebê para de receber suprimento de sangue e oxigênio: é necessário cuidado e atenção imediatos!
Problemas na tireoide – Pacientes que já tiveram problemas na tireoide antes de engravidar podem ter alterações na gestação, já que o período pode agravar o problema. Mesmo quem não apresentou nenhuma questão relacionada à glândula pode tê-la na gravidez, porque é um momento em que o corpo exige a secreção aumentada de hormônio, por isso, é necessário um controle mais rigoroso, especialmente no primeiro e terceiro trimestres. Caso exista alguma disfunção, é necessário realizar o tratamento ou o acompanhamento, a critério do endocrinologista. O hipertireoidismo pode induzir ao parto prematuro, sendo o problema mais comum relacionado à gestação. Já a presença de nódulos é acompanhada durante a gravidez, não havendo a retirada deles em quase nenhum caso durante o período. Após o parto, deve-se continuar com o acompanhamento, já que pode haver a necessidade de intervenção cirúrgica.