Dislexia

Regina apresentava dificuldades na escola. Quando tentava ler, era como se as letras se misturassem e dançassem em frente a ela, tornando tudo nebuloso e de difícil compreensão. Ela sempre tirava notas baixas nas provas e os professores marcaram uma reunião com os pais, pois a menina obviamente tinha distúrbio de aprendizagem.

Dislexia

Na verdade, Regina era uma garota muito inteligente e com o desenvolvimento normal para a sua idade. Mas quando precisava ler ou escrever, ficava apavorada, pois as letras eram suas inimigas. No entanto, suas outras habilidades cognitivas eram normais e se os professores aplicassem prova oral, suas notas seriam ótimas.

O problema de Regina é a dislexia, termo usado pela primeira vez em 1887, na Alemanha.

A dislexia é um transtorno específico da aprendizagem de origem neurobiológica, onde um braço do cromossomo seis está alterado. É caracterizada pela dificuldade na leitura e escrita, bem como habilidades de decodificação. Há um déficit no componente fonológico da linguagem que não afeta outras funções cognitivas. Em outras palavras, a dislexia nada tem a ver com a inteligência nem com a capacidade de aprendizagem.

Indivíduos com QI muito alto podem ser disléxicos e apresentar problemas ao ler e escrever. Outro aspecto é que como têm dificuldade na compreensão da leitura, os disléxicos podem ter reduzido seu vocabulário e o conhecimento geral, perdendo muito em relação às informações.

Indivíduos que apresentam dislexia possuem inteligência normal ou superior, porém não conseguem ler e escrever adequadamente à sua idade. São frequentemente rotulados de burros, mas seu QI normalmente é alto. Tiram notas altas nos exames orais, mas têm dificuldades nos escritos. São talentosos para artes, música, esporte, desenhos e tudo que envolve criatividade.

Estes indivíduos também podem apresentar distúrbio de atenção, somado à dislexia, o que dificulta ainda mais sua capacidade de compreensão.

É possível desenvolver um padrão de leitura e escrita satisfatório, mas se o componente fonológico não for muito bem trabalhado, na idade adulta aparecerão algumas falhas.

Na leitura, normalmente temos uma decodificação, compreensão e reconhecimento automáticos, o que é fundamental para se conseguir ler. É preciso decodificar continuamente uma sílaba atrás da outra para formar palavras e frases. Fazemos isso automaticamente, sem nem perceber. Para a maioria das pessoas, é natural. Mas não para os que apresentam a dislexia.

Os indivíduos disléxicos confundem as letras, números e palavras, repetindo ou omitindo o que está escrito. Podem se queixar de dor de cabeça ou de estômago quando leem. Apresentam dificuldades em copiar e compreender o texto que estão lendo.

Na escrita, os indivíduos precisam do ato motor, bem como da memória para buscar aquela palavra e fazer sua correspondência grafêmica. Crianças disléxicas não conseguem usar os conetivos adequadamente, podendo juntá-los com alguma outra palavra, como por exemplo, “nacama” em vez de “na cama”.

Questões matemáticas também podem ser um problema para estes indivíduos. O raciocínio lógico é bom e eles até sabem a resposta, mas não conseguem transcrever o procedimento no papel.

É importante saber que apesar desta dificuldade, é possível funcionar muito bem na vida, desde que se trabalhe o distúrbio com o fonoaudiólogo. A criança precisa tomar consciência desde cedo de que não é burra ou que não tem potencial.

O diagnóstico é feito por uma equipe multidisciplinar que engloba o psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista e psicopedagogo. É de extrema importância estabelecer um diagnóstico precoce para evitar que sejam atribuídos aos disléxicos rótulos depreciativos com reflexos negativos sobre sua autoestima e projeto de vida. No entanto, nunca se deve diagnosticar este transtorno antes da idade escolar.

Regina hoje é professora de artes, tem seu próprio ateliê, lê livros constantemente e se sente feliz e realizada. A dislexia não a atrapalha em nada e é apenas um detalhe em sua vida.

Artigo assinado pela Lúcia Moyses, psicóloga, neuropsicóloga e escritora. Lúcia lançou seu primeiro livro “Você me conhece?” em 2013 e o “E viveram felizes para sempre”, em 2015, ambos voltados para a psicologia. Em 2016, após se especializar em neuropsicologia, lançou os três primeiros livros da coleção DeZequilíbrios, uma série de 10 volumes onde cada um aborda um transtorno mental em forma de ficção, suspense e romance. Em 2018 lançou mais três livros da coleção “A Mulher do Vestido Azul”, “Não Me Toque” e “Um Copo de Veneno”.

Sobre Lúcia Moyses (www.luciamoyses.combr)

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