Perto da data que nos lembra que todo dia é dia de mãe, que tal fazer um exercício para encontrar o equilíbrio entre os nossos sentimentos maternos?
Recentemente, fui desafiada a escrever sobre o Dia das Mães e a tarefa, que parecia fácil, me deixou um bom tempo diante da tela em branco do computador. Poderia abordar os “superpoderes” para suportar a sobrecarga física, psíquica e emocional colocada sobre as mulheres que acabam de dar à luz.
Por outro lado, falar do ser divino que a mulher se transforma ao se tornar mãe me inspira menos ainda. Da mesma forma que não devemos fantasiar e romantizar a maternidade, também não podemos deixar que o cansaço e os desafio nos ceguem a respeito do que representa ser mãe.
Outro dia, vi uma mulher grávida desabafando no seu Instagram. Ela questionava o fato de só falarem do peso de ser mãe e que a sua vida iria mudar irremediavelmente; não teria tempo para nada e não dormiria pelos próximos anos. Uma verdadeira tragédia anunciada!
Não que não haja um fundo de verdade aí. Só que ninguém contou a ela sobre a parte boa e, então, ela passou a se perguntar se essa parte existia. Me pergunto se as mães não estão cansadas demais para enxergar essa parte boa.
Será que precisa ser assim? A maternidade não pode ser mais leve e exigir menos de nós, mulheres?
Naturalmente, assumimos uma série de responsabilidades com a chegada de um filho. Na verdade, acumulamos papéis — casa, companheiro e trabalho, tendo o pequenino como centro de tudo. Cumprir todos não é nada fácil, principalmente com crianças menores que exigem dedicação e atenção redobrada.
Atarefadas com a rotina infantil que se transforma a cada momento, nos esquecemos de reservar um tempo para nós mesmas e para as atividades necessárias ao nosso bem-estar físico, psicológico e, principalmente, emocional. A sobrecarga de tarefas e preocupações pode acarretar quadros graves, como ansiedade, esgotamento, estresse, perda da imunidade e até depressão, prejudicando inclusive a própria criança sob os cuidados maternos.
Falar que pressão e cobrança em cima das mulheres não existe seria tapar o sol com a peneira.
Eu mesma escrevi esse artigo para vocês após cancelar um grupo de supervisão, pois meu filho estava com febre. Existe uma rede de apoio que poderia me ajudar, mas eu queria estar com ele por uma cobrança minha, pois ele ficaria bem sem mim. Mas eu ficaria bem sem ele? Provavelmente, não. E não necessariamente isso é ruim; apenas faz parte do cuidar que vem com ser mãe.
Por tudo isso, prefiro que nós pensemos juntas sobre o quanto a maternidade vai além das noites mal dormidas, do cansaço, das mudanças de prioridades e da nossa longa lista de afazeres. Um pensamento que pode virar realidade com ajuda de algumas pequenas atitudes.
Tentar manter uma rotina de tempo livre para descanso e cuidado pessoal, desde o nascimento da criança. Mesmo que em intervalos pequenos, essa atitude vai ajudar você a inserir o hábito no dia a dia de forma contínua.
Descobrir quais são suas necessidades particulares para usar bem o tempo livre.
Se familiarizar com a ideia da importância do tempo livre para você, e o mais importante: permita-se, quando possível, desfrutar da própria companhia, do parceiro ou das amigas sem se sentir culpada. Buscar equilíbrio e fontes de realização e prazer são essenciais para manter o pique diante dos desafios da maternidade.
Delegar funções e atividades que não precisam ser feitas por você. Tenha uma rede de apoio. Converse com seu parceiro sobre a participação dele na rotina de criação dos filhos e mantenha uma rede de contatos confiável e pronta para ajudar, em caso de necessidade.
Estar atenta à sua saúde emocional. Se algo não vai bem e você não está conseguindo lidar com a carga de problemas sozinha, procure a ajuda de um profissional.
Já passou da hora de trocarmos a frase: “nasce uma mãe, nasce uma culpa” por outra: “feito é melhor do que perfeito”, que quer dizer “não exija perfeição de si mesma”. Não é do dia para a noite, mas o melhor jeito de comemorar o nosso dia é pensando a respeito. Já é um começo e, assim, ficaremos mais próximas da mãe possível.
Autora: * Helen Mavichian é mãe do Pedro de 2 anos e 9 meses, e está à espera do seu segundo filho, João. Psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Helen é graduada em Psicologia, com especialização em Psicopedagogia. Pesquisadora do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui experiência na área de Psicologia, com ênfase em neuropsicologia e avaliação de leitura e escrita.