Espaços Projetados para Crianças podem Influenciar no Desenvolvimento Social e Cognitivo

Arquitetas especialistas em “neuroarquitetura” explicam de que forma ambientes como quartos, creches, escolas e brinquedotecas impactam nos primeiros anos de vida dos pequenos

Muitos são os fatores que podem estimular o desenvolvimento infantil e a forma como as crianças se relacionam com as demais pessoas. Você sabia que ambientes como quartos, creches, escolas e brinquedotecas, onde elas realizam suas atividades, também podem interferir nos adultos que elas serão no futuro?

As mães, arquitetas e especialistas em neurociência — campo científico que estuda o sistema nervoso e suas funcionalidades Priscilla Bencke e Gabi Sartori explicam de que forma projetos destinados às crianças podem interferir no seu desenvolvimento cognitivo e social.

Elas são fundadoras da Academia Brasileira de Neurociência e Arquitetura – NEUROARQ® Academy, empresa de educação especializada na formação de profissionais e disseminação da neurociência aplicada à arquitetura, também conhecida como “neuroarquitetura”, que une conhecimentos da neurociência, psicologia e outras áreas relacionadas ao comportamento humano para criar ambientes que sejam agradáveis e cumpram objetivos específicos, como promover relaxamento, foco, bem-estar, pertencimento, concentração, entre outros.

Para obter tais resultados, parâmetros como cores, iluminação, acústica, temperatura, plantas, cheiros, texturas, ângulos e curvas são estudados, bem como a influência que causam no comportamento humano, algo que acontece desde o início da vida, como explica Priscilla.

“A partir de evidências e estudos, é possível afirmar que os elementos do ambiente físico podem influenciar no desenvolvimento infantil, principalmente nos primeiros anos de vida, onde os estímulos ambientais são ainda mais importantes. Essa influência pode impactar em questões tanto de desenvolvimento cognitivo, como social.”

Gabi destaca alguns benefícios que a neurociência aplicada aos ambientes infantis pode trazer para as crianças que ocupam esses espaços. “Esse trabalho pode auxiliar no desenvolvimento desse ser. Mesmo após o nascimento, o cérebro ainda não está totalmente formado, e o ambiente exerce um papel fundamental para auxiliar nesse processo”, explica.

Segundo a especialista, o cérebro humano é uma mescla de genética e experiências obtidas ao longo da vida, neste sentido, os ambientes são fundamentais, já que as experiências precisam de um espaço para acontecerem.

“Eles podem estimular a criança a partir de determinadas situações, e os benefícios podem ser enormes. O ambiente pode fazer com que a criança tenha uma percepção de mundo mais ampla a partir das experiências que ela vivência”, ressalta.

A partir de que momento da vida os benefícios podem ser sentidos?

Conforme Gabi, a relação que a criança pode ter com os ambientes costuma acontecer antes mesmo do seu nascimento, desde o útero, a depender do meio em que sua mãe está inserida. “Se ela vive num ambiente de violência ou degradado, estas informações já estão chegando à criança”, alerta.

Priscilla explica que após esse nascimento, com a formação dos cinco sentidos — visão, audição, paladar, olfato e tato isso tende a aumentar, já que eles são amplamente utilizados para estimular o conhecimento das crianças.

“Quando elas nascem, esse movimento continua ocorrendo com o mundo externo. Através das nossas vias sensoriais, captamos informações que estão sendo estimuladas pelo meio externo por nossos sentidos e levando ao nosso sistema nervoso. Isso impacta significativamente no nosso comportamento”, reitera.

O que adicionar ou evitar nos espaços infantis?

Levando em consideração que as pessoas são uma mistura de informações coletadas por meio da sua ancestralidade genética e tudo vivenciam ao longo da vida, as experiências que as crianças passam são pontos fundamentais no processo de formação dos adultos que serão no futuro. “Elas tendem a reproduzir comportamentos vivenciados durante a infância. Crianças são ‘esponjinhas’”, ilustra Gabi.

As especialistas explicam que, para o desenvolvimento dos pequenos, todo o tipo de experiência é válido, inclusive as tidas como ruins pelos mais velhos, como por exemplo aquela “baguncinha” ou aqueles ambientes que demonstrem à criança uma realidade diferente daquela que ela vive.

Confira dicas do que conter em ambientes pensados para o desenvolvimento infantil:

Em especial no caso dos bebês, pensar sobre a tranquilidade é algo essencial. É necessário ter em mente que ele está, mesmo que fora do útero, em desenvolvimento e vai permanecer nesta condição por um longo período da vida.

Neste sentido, se o objetivo do quarto é transmitir tranquilidade, com menos estímulos para não deixar as crianças em alerta, o ideal é pensar em cores neutras.

“No entanto, é importante ter pontos que estimulem a visão, em algumas partes do quarto, e isso é feito por meio da inserção de contraste, como cores vivas e contrastantes. Não tem certo e errado, varia do objetivo”, orienta Priscilla.

Para Gabi, quartos planejados nem sempre são a melhor opção. Segundo a arquiteta, o universo de projetos e ambientes é bastante amplo, principalmente para as crianças. Com elas, as possibilidades são ainda mais infinitas, já que é possível criar ambientes muito bem elaborados funcionalmente, bonitos e atraentes esteticamente, sem gastar muito.

“Uma opção que pode ajudar nas sinapses cerebrais das crianças é optar por mobiliários soltos, já que eles permitem a mudança rápida e, assim, de tempo em tempo, ela precisa reorganizar essas sinapses para se adaptar às novas dinâmicas do ambiente através de um novo layout”, sugere.

Para Gabi, quartos planejados nem sempre são a melhor opção. Segundo a arquiteta, o universo de projetos e ambientes é bastante amplo, principalmente para as crianças. Com elas, as possibilidades são ainda mais infinitas, já que é possível criar ambientes muito bem elaborados funcionalmente, bonitos e atraentes esteticamente, sem gastar muito.

Por fim, a bagunça é sempre ruim? Segundo as especialistas, não. As arquitetas explicam que, para o pequeno, a bagunça tem um papel que pode trazer diferentes sensações às pessoas, como angústia, estresse ou ansiedade. No entanto, para crianças em específico, ambientes extremamente funcionais, minimalistas e estéreos podem fazer com que, na idade adulta, isso gere um efeito inverso.

Conforme as especialistas, a ideia não é que o ambiente seja bagunçado, mas que tenha “vida” e “personalidade”, o que pode não ser tão simples em espaços muito minimalistas ou extremamente organizados.

“A criança precisa ter o máximo de elementos que despertem o pertencimento, algo que normalmente será levado para a vida adulta, assim como as demais experiências que vivenciaram durante a infância.”

No entanto, Gabi explica que, assim como é feita com os adultos, para que a aplicação da “neuroarquitetura” em ambientes infantis atinja seus reais objetivos, é importante que o profissional entenda para quem está projetando, e quais os anseios dos pais e tutores dentro daquele ambiente para com seus filhos, seja ele, estimular, tranquilizar ou acolher aquela criança, entre outros

“Devemos sempre saber quem são as crianças para as quais estamos desenvolvendo os ambientes. Casos de crianças “neuroatípicas”, como transtorno do espectro autista, síndrome de aspenger, ou crianças que possuam algum tipo de deficiência, seja ela física ou Intelectual nos exigem diferentes abordagens amparadas em amplo conhecimento nas necessidades de cada diversidade. Cada situação deve ser avaliada de forma individualizada para que o real objetivo com o espaço projetado seja realmente alcançado”, finaliza.

Fonte: NEUROARQ® AcademyGabriela Sartori é arquiteta e urbanista, certificada em Neuroscience and Architecture –Priscilla Bencke é arquiteta e urbanista, certificada em Neuroscience and Architecture,

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