À medida que o Brasil alcança os 60% de cobertura vacinal completa para a Covid-19, nos permitimos retomar várias das atividades que foram evitadas nos últimos 18 meses. A redução no número de casos diagnosticados e de óbitos provocados pelo SARS-CoV-2 impulsionam a retomada de reuniões entre amigos e familiares, de atividades culturais como cinemas, teatros e museus, além da retomada dos grandes eventos, como a Fórmula 1, que ocorreu em São Paulo no último final de semana.
Se por um lado nos sentimos mais confortáveis em aglomerar com outros desconhecidos já vacinados, principalmente em ambientes abertos e ventilados, por outro, as notícias do leste Europeu e mesmo da pequena cidade de Serrana- SP revelam aumentos abruptos no número de novos casos, nos fazendo lembrar que o vírus ainda circula entre nós. Mais do que isso, lembramos do potencial risco de surgimento de novas variantes e das crianças que, no Brasil, menores de 12 anos, seguem enfrentando a pandemia ainda sem a possibilidade de uma vacina.
Nessa semana o Ministério da Saúde divulgou o início da campanha de vacinação com a terceira dose para toda a população adulta vacinada há 5 meses ou mais. A decisão se baseia em resultados de diversas pesquisas que apontam uma relevante redução do título de anticorpos no período de 6 meses após a última dose das diferentes vacinas empregadas no país e no mundo. Somado a isso, o atual comportamento de parte da população que já não demonstra mais o receio para eventos e reencontros, além da proximidade do período de festas, permite classificar a decisão do Ministério da Saúde como adequada, coerente e, diferente de outros momentos, preventiva.
No entanto, precisamos relembrar que as vacinas não impedem completamente a transmissão do vírus. O seu benefício está associado principalmente à redução do risco de doença grave e óbito. Em meio à maioria de adultos imunizados, as crianças seguem convivendo com o risco de contaminação, esperando pela chamada para os postos de vacinação.
No mês passado, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) autorizou o uso da vacina comercializada pela empresa Pfizer para crianças a partir de 5 anos de idade. Do outro lado do globo, a China segue aplicando, em milhares de crianças e adolescentes, a Coronovac (Sinovac), afirmando tratar-se de uma vacina segura e eficaz, também para esta faixa etária.
Em vista a todas essas notícias, seguimos aqui nos questionando o que falta para termos uma vacina aprovada para nossas crianças. Recentemente, a Pfizer registrou pedido à ANVISA para autorização de uso da sua vacina de RNA em crianças com 5 anos ou mais. Do outro lado, o Instituto Butantan, que já havia solicitado a aprovação da Coronavac em crianças com 3 anos ou mais, recebeu em setembro uma resposta negativa da ANVISA, que justificou à época que os dados apresentados eram insuficientes para a comprovação de segurança e eficácia. Naquele momento, os dados se referiam aos estudos de fase 1/2, com cerca de 500 crianças. Na semana passada, o próprio Instituto Butantan noticiou que entregou à ANVISA os resultados preliminares dos ensaios de fase 3 em crianças, demonstrando a segurança e eficácia da vacina para esta população. Já a ANVISA continua a assegurar que não recebeu um novo pedido oficial para aprovação da Coronavac às crianças e adolescentes. É importante ressaltarmos que, desde o pedido inicial para o uso emergencial da Coronavac em adultos e idosos, a ANVISA relata o recebimento de dados incompletos nos relatórios enviados pelo Butantan.
Independentemente do fabricante ou do tipo de vacina, nossa torcida é para que os novos registros tragam informações satisfatórias para a aprovação e recomendação do uso em crianças e adolescentes. Na certeza de que nossa agência regulatória reconhece a importância da vacinação desse público e preconiza decisões baseadas em evidências, seguimos esperançosos e ansiosos, rumo à almejada marca de 95% da população brasileira imunizada contra a Covid-19.