Quando a febre se manifesta nas crianças os pais entram em alerta e a maioria opta por medicar seus filhos. Isso está correto?
Entre os quadros que mais preocupam os pais e que mais os levam a uma consulta de emergência, talvez a febre ocupe um dos primeiros lugares, senão o primeiro.
A febre não é uma doença. A febre é um sintoma clínico que representa um aviso do nosso organismo de que há um processo de defesa contra alguma agressão em andamento.
E, em grande parte das vezes, os pais já medicam seus filhos para esse quadro, muitas vezes até sem medirem a temperatura, apenas pelo fato de seus filhos estarem um pouco mais quentinhos.
Muita gente se espanta quando algum homeopata acha que não é necessário e nem recomendável usar antitérmico para qualquer febre.
Sabemos que uma criança febril pode ficar mais amuada, alimentar-se mal, tomar poucos líquidos e, assim, ter uma interferência negativa na evolução de sua doença.
Dessa forma, quando um pediatra homeopata receita um antitérmico junto com o tratamento homeopático, a intenção não é “curar a doença” e nem “tratar a febre”. A ideia é melhorar o conforto dessa criança para que ela se alimente bem, se hidrate bem, durma bem e consiga usar suas energias no combate à doença.
Porém, mesmo nesses casos há crianças que não se abatem e, consequentemente, conseguem evoluir de forma bem favorável e satisfatória, usando apenas o tratamento homeopático.
Quando um homeopata age assim, e isso desde que se conhece e se usa homeopatia, as críticas aparecem de todos os lados.
A reviravolta
Em março de 2.011, foi publicado no Pediatrics, o Jornal Oficial da Academia Americana de Pediatria, um artigo chamadoFebre e o uso de antipiréticos em criançasque merece ser divulgado.
Nesse artigo, os autores explicam que a febre não é uma doença e sim um mecanismo fisiológico que tem efeitos positivos quando nosso organismo tenta combater uma infecção.
Ao contrário da preocupação dos pais, a febre, por si só, não agrava a doença e não determina a gravidade dessa doença, não causa agravações neurológicas a longo prazo e, baixar a temperatura tem mais a intenção da melhora do conforto geral da criança do que normalizar a temperatura do seu corpo.
Então febre serve para alguma coisa?
Aqui, acho que vale a pena transcrever na íntegra as palavras dos autores do texto, para que não haja nenhuma dúvida quanto ao seu significado.
Retirei do texto apenas as citações que comentam a ação de dois grupos de antipiréticos (acetaminofem e ibuprofeno) e a comparação de sua ação isolada ou em conjunto na ação antitérmica.
“A febre não é uma doença e sim um mecanismo fisiológico com efeitos benéficos no combate à infecção. A febre retarda o crescimento e reprodução de bactérias e viroses, estimula a produção de neutrófilos e proliferação de linfócitos T e ajuda na reação aguda do corpo. O nível de febre não está correlacionada sempre com gravidade da doença. Muitas febres são de curta duração, benignas, e podem realmente proteger o indivíduo. Dados mostram efeitos benéficos em certos componentes do sistema imune na febre, e alguns dados revelaram que a febre realmente ajuda o corpo a se recuperar mais rapidamente de infecções virais, mesmo que a febre possa resultar em desconforto na criança.
Efeitos benéficos em potencial da redução da febre incluem o alívio do desconforto do paciente e a redução da perda hídrica insensível, que pode diminuir a ocorrência de desidratação. Os riscos de diminuição da temperatura incluem um atraso na identificação do diagnóstico subjacente e o início do tratamento apropriado e toxicidade da droga. Não há evidências de que crianças com febre estejam em um risco maior de efeitos adversos como danos cerebrais. A febre é uma resposta fisiológica comum e normal que resulta em um aumento do “set point” hipotalâmico em resposta a pirogênios endógenos e exógenos.
O aconselhamento apropriado no manejo da febre começa por ajudar os pais a compreender que a febre, por si só, não aumenta o risco geral em uma criança saudável. Ao contrário, a febre pode realmente ser benéfica; dessa forma, a real meta da terapêutica antipirética não é simplesmente normalizar a temperatura corporal, mas melhorar o estado geral, o conforto e o bem-estar da criança.
Durante o aconselhamento da família no manejo de febre em uma criança, pediatras e outros cuidadores de saúde devem minimizar o medo de febre e enfatizar que o uso de antipiréticos não previne a convulsão febril.
Ao invés disso, os pediatras devem focar na monitoração de sinais e sintomas de doenças graves, na melhoria do conforto da criança pela manutenção da hidratação, e pela educação dos pais no uso, dosagem e estocagem segura dos antipiréticos.”
E ai? Medica-se ou não febre em crianças?
Essa é uma decisão que deve ficar a critério do pediatra que estiver acompanhando o caso, agirá embasado em seu conhecimento, nessas (nem tão) novas informações e em sua avaliação de momento.
Que fique bem claro que a medicação da febre não é uma obrigação e que ela não evitará a convulsão febril, complicação benigna, porém tão temida pelos pais.
A febre é apenas um indicativo de um processo em andamento e esse sim deve ser pesquisado, diagnosticado e tratado. Com a evolução e resolução desse quadro, a febre, juntamente com todos os outros sintomas, irá ceder.
Fonte:Clinical Report – Fever and Antipyretic Use in Children– Pediatrics – Official Journal of the American Academy of Pediatrics – volume 127 – nº 3 – março/2011 – pg 580-587.