Homeschooling: Ensino Domiciliar Requer Atividades Extracurriculares e Socioeducativas

Discussão entre Luana Piovani e Pedro Scooby sobre a educação dos filhos reacende debate sobre modalidade escolar; Especialista Camila Menon defende alterações no projeto de lei

O homeschooling precisa ser adequado à realidade brasileira ou prejudicará a educação e o desenvolvimento das crianças, segundo Camila Menon, do Educar é Preciso/ Foto de Drazen Zigic para Freepik

Na véspera da volta às aulas, a discussão sobre o homeschooling entrou em cena com o recente desabafo da atriz Luana Piovani, que diz que o ex-marido, Pedro Scooby, insiste em tirar o primogênito da escola para aplicar, de forma errada, o homeschooling. É preciso planejamento pedagógico, atividades extracurriculares e socioeducativas para que o ensino domiciliar funcione, segundo a educadora Camila Menon, do Educar é Preciso. A especialista em primeira infância analisa a viabilidade do projeto de lei que regulamenta a modalidade escolar no Brasil e as consequências que o entendimento e aplicação errada do método podem causar no desenvolvimento infantil. 

“O homeschooling não é, nem de longe, o que a maioria das pessoas imagina que é. Com a pandemia, o caos foi instaurado e escolas, pais e filhos tiveram de se adaptar. As pessoas acreditaram que o mínimo que elas faziam — colocando a criança na frente do computador — era o suficiente, mas fazer isso não é e nem caracteriza o homeschooling”, aponta a professora e diretriz Montessori. No caso do casal de famosos, a mãe de Dom, Bem e Liz critica justamente essa percepção errônea do surfista em relação ao modelo de ensino. 

A prática correta requer estrutura e planejamento pedagógicos, com conteúdo variado que apresente temáticas diversificadas para desenvolver o interesse do aluno. “Não é apenas conteúdo que atenda ao ano letivo ou simplesmente os temas que os pais julgam importantes; precisa atender às necessidades socioeducativas e ter atividades extracurriculares — como línguas, esportes e passeios — para que a criança construa a percepção do mundo, tendo contato com outros pares em situações diversas”, observa Camila. 

Muitos pais ficam presos ao currículo escolar e esquecem de observar os filhos, quando a proposta é reforçar o conhecimento, com variedades de temas e opções de estudos — e que podem ajudar também na conexão entre eles. A especialista do Educar é Preciso exemplifica: “Seu filho está interessado por carros? Explique as marcas, como funciona o motor, leve a criança em feiras para ver modelos diferentes, conte como o carro foi inventado. Evolua, então, para outros meios de transporte e assuntos relacionados. Quando há interesse, o aprendizado é maior — e não precisa tirar o aluno da escola para fazer isso”. 

Quanto mais individualizado o ensino, melhores os benefícios. Por outro lado, se for feito da forma errada, o homeschooling pode gerar problemas socioemocionais, atraso de aprendizado e desinteresse. “Para a maioria das crianças, ir à escola é sinônimo de encontrar os amigos. Sem isso, é imprescindível criar outros incentivos para que o pequeno mantenha o interesse pelos estudos”, diz a educadora. O acompanhamento de perto, portanto, é essencial. 

Lei que regulamenta homeschooling deve ser adequada à realidade brasileira

No Brasil, 11% das crianças e adolescentes entre 11 e 19 anos estão fora da escola — cerca de dois milhões — segundo o estudo do UNICEF “Educação brasileira em 2022 — a voz de adolescentes” realizado pelo Ipec (ex-Ibope). Outro levantamento, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia), revela que houve aumento de 171% na faixa de 6 a 14 anos longe dos bancos escolares durante a pandemia. 

Apontado como uma possível solução, o homescholing está em discussão no país, oficialmente, desde 2012, quando foi apresentado o Projeto de Lei 3179/12, que regulamenta o ensino domiciliar da educação básica. A proposta foi aprovada pela Câmara dos Deputados, passou para o aval do Senado e deve enfrentar resistências do novo governo, que já se mostrou contrário ao modelo em outras situações.

A medida precisa ser analisada com cautela, de acordo com a realidade brasileira, segundo a especialista da Educar é Preciso. “A lei tem de ser pensada e estruturada de forma muito clara, com regras de como, quando e quem pode fazer, para que não haja o risco de negligenciamento e que crianças que precisam ir pra escola pra sobreviver sejam afetadas. Isso porque, de forma geral, a elite tem como se beneficiar, já que tem condições financeiras de contratar tutores e manter a estrutura necessária com atividades extracurriculares diariamente. Já para as classes médias e baixas que ‘vão tentar o seu melhor’, não recomendo a adesão a esse método de ensino”, pondera Camila.

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