Inclusão Não é Sobre Aceitação, mas Respeito

Como crianças podem colaborar com a inclusão de colegas neurodiversos

Já ouviu falar na Lei nº 12.764/2012, que fala sobre a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista e que prevê o direito a acompanhante especializado para os alunos autistas incluídos em classes comuns de ensino regular? Se você é mãe ou pai de uma criança com TEA, certamente sim. Se não é, nunca é tarde para entender um pouco melhor sobre o assunto, já que, habitualmente, há crianças dentro do espectro na maioria das salas de aula.

De fato, muito se fala sobre empatia e inclusão em relação às crianças atípicas. Porém, na prática, não é exatamente o que acontece – inclusive, é muito comum pais de crianças com TEA falarem sobre preconceitos vividos por seus filhos que partem até mesmo dos pais de crianças neurotípicas. “A pessoa com algum tipo de necessidade específica deve ser tratada com respeito e empatia, sendo incluída nas atividades, fazendo as adaptações necessárias, mas, ao mesmo tempo, sem que os outros sintam pena ou diminuam o potencial delas. As pessoas costumam achar que inclusão é sobre aceitação, mas não. É respeito às diferenças e possibilidade de adaptação de acordo com a necessidade individual de cada um”, explica a neuropsicóloga Bárbara Calmeto, diretora do Autonomia Instituto.

Mas de que forma os pais podem orientar seus filhos a agir para que as crianças com TEA se sintam integradas à turma? O primeiro passo é ensinar seu filho a respeitar e observar as necessidades do colega. “Seria importante, também, cobrar da escola que promova uma orientação para as crianças da turma sobre o transtorno do colega e quais as dificuldades e potenciais dela. Assim, os pequenos entenderão e não ficarão com dúvidas. Sem explicação e orientação, as crianças típicas não conhecem o transtorno e, logo, não sabem como lidar”, pontua Calmeto. E complementa: “Acredito que a informação é o principal aliado da inclusão verdadeira. Quando chega uma criança com deficiência ou transtorno, a escola deve promover um processo de conscientização de acordo com entendimento cognitivo da turma e com foco no potencial, em como os colegas podem dar apoio e ajudar”. E mais: além da inclusão de fato, essas ações também diminuem o processo de bullying, que é muito comum nesses ambientes.

Pais de crianças neurotípicas podem, ainda, conversar com seus filhos sobre como ajudar um colega que esteja em crise, apresentando sinais como TOC ou desconfortos diante de sons altos dentro de sala de aula. “O primeiro passo é não ficar em cima do colega, como ficar perguntando o que está acontecendo, nem ficar rindo ou zombando. Deve também chamar algum adulto responsável, como o professor da turma, que vai direcionar melhor as estratégias de controle de crise. Mas se for alguma situação de desconforto mais simples, um colega que é mais próximo pode ajudar com controle respiratório ou uso de brinquedos sensoriais, por exemplo”, esclarece Bárbara.

Quanto aos pais de crianças com TEA, é preciso que esses também fiquem atentos ao comportamento e sinais dados por seus filhos, a fim de perceberem se suas crianças estão sendo incluídas na rotina da sala de aula. Dentre esses sinais normalmente apresentados por essas crianças estão: se mostrar desinteressadas pelas atividades e dinâmicas escolares e/ou manifestar comportamentos inadequados ou agressivos por não conseguirem acompanhar as demandas escolares da turma. E é por isso que o processo de informação, alinhamento das dificuldades e escolhas das estratégias de apoio são tão importantes para a inclusão.

Atuação da escola é essencial

Além das famílias, a escola tem papel fundamental nesse processo de inclusão, não apenas por ser o ambiente onde as crianças começam amizades como também por contar com profissionais capacitados para essa interação. “É nas escolas que as crianças começam seu processo de socialização, que aprendem na prática sobre respeitar as diferenças do outro. E por isso é essencial que esses locais estejam preparados para esse dia a dia”, afirma Bárbara Calmeto. 

Abaixo, a neuropsicóloga dá 10 sugestões de práticas importantes na escola para criar um ambiente diverso e respeitoso. 

1-    Estude sobre o diagnóstico do aluno, saiba as principais características do transtorno e as dificuldades específicas do aluno;

2-    Faça um trabalho educativo de conscientização sobre o transtorno do aluno em toda a escola, desde o porteiro, auxiliares de limpeza, alunos, professores e outros. Naturalize as diferenças! Se o aluno com deficiência tiver possibilidade, peça para ele mesmo participar desse processo;

3-    Escute o aluno com deficiência, olhe para ele, observe seu dia a dia. Dê voz para que ele te mostre seu potencial e suas necessidades;

4-    Anote as dificuldades específicas do aluno e trace estratégias de adaptação e ajustes dessas necessidades;

5-    Crie dicas visuais, organização da rotina escolar, adaptações curriculares para conteúdos e provas;

6-    Organize um “canto da calma” na sala de aula com materiais que possam ajudar no equilíbrio sensorial do aluno;

7-    Escreva um Plano de Ensino Individualizado (PEI) com as metas específicas e estratégias necessárias para que o aluno consiga ampliar seu conteúdo pedagógico durante o ano;

8-    Vá aumentando as possibilidades de participação do aluno com deficiência na rotina escola, conte com apoio dos próprios colegas para os apoios;

9-    Busque reunião com a família e com os profissionais que acompanham o aluno para trocas e ajustes de como ajudar melhor;

10-  Seja empático! Respeite! Inclua! Somos diferentes e tudo bem!

Autora: Neuropsicóloga Bárbara Calmeto, Diretora do Autonomia Instituto

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