Leo era um bebê lindo. Desses cujas covinhas nas bochechas atraiam todos os olhares.
Precocemente, alguns aspectos de seu comportamento pareciam fugir do convencional, mas, à princípio, nada que chamasse muita atenção. Desde muito novo, era capaz de passar horas envolvido com o mesmo brinquedo, se divertindo quietinho. Principalmente, àqueles com cores fortes e muitas luzes. Esses verdadeiramente o encantavam.
Nem tudo era perfeito, contudo. Possuía desafetos profundos por instrumentos que emitissem sons muito altos ou agudos. Também não gostava quando alguém lhe forçava a olhar nos olhos. Nem quando mudavam sua rotina sem aviso ou explicação prévia. Aliás, se tem algo que ele valorizava era organização. Lembro de seus carrinhos agrupados por cor, tamanho e tipo e coitado de quem tentasse sugerir uma nova ordem.
Certo dia, a mãe dele foi chamada pela diretora do colégio. Leo havia escalado a estante e ela havia caído em cima dele. Criança, sendo criança. Porém, a diretora pediu assertivamente que ele explicasse em alto e bom tom o porquê de o móvel ter caído. E ele, certeiro, respondeu sem pestanejar que havia caído por não estar devidamente pregado no chão. Simples assim. A diretora emudeceu. A mãe gargalhou. Leo continuou fazendo o que aspirava fazer.
Com o passar dos anos, algumas limitações na escola foram surgindo.
Acontecia de diferentes formas, como quando ele se aproximava demais do rosto de um amigo e era mal compreendido ou quando não conseguia fazer com que sua letra diminuísse ao ponto de caber nas linhas da prova. Seus pais, sempre atenciosos, seguiram buscando meios para que ele conseguisse se expressar nos mais diversos ambientes.
Leo é hoje um pré-adolescente incrível. É brilhante no teatro, desenha como ninguém e é dotado de uma criatividade impossível de superar. Ama música – baixa – e deseja ter uma banda. Tem muitos amigos e é querido por onde quer que passe. Como toda criança ele segue sonhando, fantasiando, planejando, construindo. Em seu tempo muito próprio. E uma de suas maiores alegrias – bem como de seus cuidadores – é perceber-se aceito tão qual é. De forma singular.
Bruna Richter:
Psicóloga graduada pelo IBMR e Bióloga graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Possui pós-graduação em Psicologia Positiva e em Psicologia Clínica, ambas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Também é formada em Artes Cênicas pelo SATED do Rio Janeiro, o que a ajudou a desenvolver o Grupo Grão, projeto voluntário que atende pessoas socialmente vulneráveis, onde através de eventos lúdicos, busca-se a livre expressão de sentimentos por meio da arte