Maternidade não é Olimpíada e Mães também Erram

Especialista fala sobre a competição que é a maternidade nos tempos modernos

E entre uma série de tarefas diárias, existe sempre a cobrança de que a mãe deveria fazer mais pelo desenvolvimento do seu filho. De acordo com a pesquisa “Mommys e Saúde Mental” de 2022 as mães estão mais sobrecarregadas, enfrentam maior insegurança profissional e têm menor tempo dedicado a lazer e atividades físicas. O levantamento mostra que 34% das mães realizam as tarefas domésticas sozinhas. Quando questionadas sobre a saúde mental, 62,7% afirma que têm sensação de vazio. 

Segundo Adriana Drulla, mestre em Psicologia Positiva pela Universidade da Pensilvânia e especialista em parentalidade consciente e autocompaixão, ser mãe nos tempos modernos tornou-se uma Olimpíada. Mas enquanto as mães encararem a maternidade como uma prova olímpica – uma avaliação sobre a capacidade de seguir as melhores práticas – a maternidade será apenas sobre a própria performance. Assim como o atleta, ela ficará tão preocupada em seguir a rotina recomendada (banho-jantar orgânico fresco-livro-xixi-cama às 7:59) que se esquecerá de olhar nos olhinhos da criança e perceber o que ela precisa naquele momento. 

“Se enxergarmos nossos filhos meramente como resultado do nosso trabalho – provas da nossa competência, ou falta dela – faremos de tudo para que eles se adequem às expectativas e se tornem a medalha das nossas Olimpíadas. O que o seu filho mais precisa para se desenvolver bem é ter um vínculo profundo com você. Ele precisa te sentir como um porto seguro, alguém que dá segurança para que ele possa explorar o mundo à maneira dele, e que o acolha quando algo não vai bem. Ele precisa sentir segurança de que você o ama e valoriza exatamente do jeito que ele é. Ele precisa sentir que ele não precisa se transformar no menino perfeito”, completa a especialista.

Filhos humanos são seres falhos, portanto, precisam de modelos imperfeitos. Mais do que isso, precisam de modelos resilientes, que conseguem cair, levantar e ter a coragem de tentar de novo. Quando há o entendimento que os erros fazem parte do pacote, que eles vêm com o genoma, e que todos os pais e mães que já caminharam por esta terra são imperfeitos também, fica mais fácil aceitar as próprias limitações, em vez de se atacar por causa delas. 

“Pedir desculpas para os nossos filhos, em vez de culpá-los dizendo ‘eu só gritei porque você não me escuta’. Quando enxergamos nossas dificuldades como naturais, fica mais fácil conviver com elas. Fica mais fácil tentar novas rotas, comunicar as suas limitações com clareza. Fica mais fácil ser um modelo de autocompaixão e resiliência para o seu filho”, completa Drulla. 

Quando as mães deixam de brigar contra si mesmas, superam coisas que antes eram difíceis superar. Quando não é preciso provar o seu valor o tempo inteiro, avaliar a própria performance deixa de fazer sentido. A pessoa já se sente boa o suficiente por ser quem é, defeitos inclusos. Segura do seu próprio valor, as suas atitudes não serão motivadas pelo medo e pela insegurança, mas pelo desejo de ajudar e cuidar de quem você ama. Sim, para melhor ajudar e cuidar do filho, a mãe precisa primeiro amar, respeitar e reconhecer o seu próprio valor. Mudar os padrões pela força do amor. Chama-se autocompaixão. 

Adriana Drulla

Mestre em Psicologia Positiva pela Universidade da Pennsylvania (EUA), e pioneira no Brasil em Terapia Focada em Compaixão pela Universidade ...

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