O envelhecimento precoce dos ovários – Parte 1

A realização de dosagem hormonal é importante para avaliar a fertilidade.

Muitas mulheres só descobrem que têm uma diminuição precoce da função ovariana quando realizam dosagens hormonais para avaliar sua fertilidade. Aí descobrem que têm chances aumentadas de menopausa precoce e, além disso, algumas vezes, esse problema pode estar associado ao risco de ter filhos com problemas mentais. Normalmente, na idade fértil da mulher, os ovários produzem óvulos e hormônios em níveis satisfatórios, que indicam uma provável ovulação normal e boa capacidade de gerar filhos, desde que não haja outros problemas que impeçam a gravidez. Essa rotina deve ocorrer até a idade próxima dos 40 anos. Se os hormônios FSH, LH, Estradiol e o hormônio Anti-Mulleriano, que de algum modo comprovam o funcionamento equilibrado das funções reprodutivas estão normais, indicam nessa fase uma Reserva Ovariana compatível com a idade da mulher. Apenas será observado o envelhecimento natural dos cromossomos com o tempo, diminuindo a chance de ter filhos ao longo dos anos.

Quando a insuficiência ovariana ocorre precocemente, antes dos 40 anos, chamamos de insuficiência ovariana prematura, envelhecimento precoce dos ovários ou, em situações extremas, falência ovariana prematura, esta última também chamada de menopausa precoce. Nesses casos, mesmo nas mulheres que apresentam as menstruações normais, o ovário tem comportamento de envelhecimento antes da época esperada, assim, elas não ovulam adequadamente, têm dificuldade de engravidar, respondem pouco ou nada aos medicamentos que estimulam os ovários e têm níveis do hormônio FSH aumentados e do hormônio Anti-Mulleriano diminuído. Isso pode acontecer por vários motivos, mas entre todos o que mais preocupa é a alteração do gene FMR-1 (Fragile X Mental Retardation 1), situado no cromossomo X da mulher (lembrando que os cromossomos são 46XX para a mulher e 46XY para o homem). Esse cromossomo X tem uma aparência “frágil” sob o microscópio, um fenômeno que deu à síndrome o nome “X frágil”.

O Gene FMR-1 é formado por uma sequência de três substâncias chamadas nucleotídeos que se repetem. Cada sequência é abreviada pela sigla CGG: C (citosina), G (guanina), G (guanina). Uma mulher normal deve ter até 30 repetições dessa sequência. Quando existe uma expansão (um aumento) do número de repetições da mesma, chegando a acima de 200, o gene FMR-1 fica inativo e não produz a proteína FMRP, que é necessária para o normal desenvolvimento neurológico, provocando uma doença grave que leva à deficiência mental. É a Síndrome do X-FRÁGIL ou Síndrome de Martin Bell, uma desordem genética considerada a causa mais frequente de retardo mental herdado. São indivíduos desabilitados intelectualmente e com várias alterações físicas (orelhas proeminentes, rosto longo pelo excesso de maxilar vertical, palato arqueado e outras). Na população, apresenta uma incidência estimada de 1/4.000 em homens e de 1/4.000 a 1/8.000 em mulheres.

Repetições entre 30 e 200 não causam essa doença, mas provocam repercussões de gravidade variável. As mulheres são saudáveis, mas apresentam manifestações ocultas que só serão observadas quando houver sinais de insuficiência ovariana ou alterações hormonais detectadas quando solicitadas. São as situações Intermediária e Pré-mutação que são avaliadas pelo exame de sangue chamado PCR para X Frágil, que determina o número de repetições no gene desta sequência.

Como uma mulher pode saber se tem este problema de saúde? Por definição, todas as mulheres que têm FXPOI têm a pré-mutação FMR1. Se uma mulher tiver os sintomas da FXPOI, ela deverá recorrer ao seu médico para os exames hormonais e o teste genético para o FMR1. Se for confirmada a pré-mutação, será importante que os familiares próximos tenham ciência para identificar outros portadores na família que possam estar em risco de ter a FXPOI e suas consequências. Todas as mulheres portadoras FMR1 devem manter um registro de seus ciclos menstruais e anotar padrões incomuns como ausência de menstruações, ciclos anormalmente longos (mais de 35 dias) ou ciclos curtos (menos de 21 dias). Além disso, devem estar atentas a outras alterações físicas, tais como ondas de calor, insônia, ressecamento vaginal e/ou diminuição da libido, aumento da ansiedade, etc.

No próximo mês, trarei novidades sobre este mesmo tema, aguardem!

 

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Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi

Ginecologista Obstetra especialista em Reprodução Humana e Cirurgia Endoscópica Além de dedicar a maior parte de seu tempo ao conhecimento...

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