Os homens estão aprendendo a demonstrar seu afeto e a não se incomodarem com isso
Pais de primeira viagem, pais jovens, pais experientes, pais presentes, pais lutadores, pais que também aprendem como cuidar e orientar os filhos numa época de mudanças rápidas e importantes.
Qual é hoje o papel do pai nas novas famílias e na nova relação entre os gêneros? Como fica o lugar de autoridade e controle do pai, antes tradicional e inquestionável, e hoje em dia modificado diante dos novos espaços das mães que trabalham, e de filhos cada vez mais precoces e questionadores?
Nas últimas décadas muitas mudanças aconteceram na configuração familiar. E os homens e os pais reagem e se adaptam como podem, muitas vezes ainda sem compreender tão bem as emoções e sentimentos, como se não fosse permitido a eles ter contato tranquilo com a sensibilidade, fragilidade, dúvidas e afetos.
Há uma pequena história que ilustra um pouco como nossa cultura tem visto a afetividade dos homens.
“Era uma vez uma senhora mãe que encontra uma velha amiga, a quem não via há muito tempo. A amiga lhe pergunta:
– Olá, querida! Há quanto tempo! Não nos vemos desde que seus filhos se casaram. Eles estão bem? Fizeram um bom casamento?
– Olá, amiga. Muito tempo, é verdade. Minha filha teve muita sorte. Você acredita que meu genro é um marido tão bom e dedicado que leva o café da manhã na cama para ela, todos os domingos, sem falta?
– Puxa. Que bom! E seu filho?
– Ah, coitado! Meu filho não teve a mesma sorte. Você acredita que todos os domingos ele tem que levar o café na cama para a minha nora? Que pena que eu sinto dele”.
Essa historinha é de alguma forma familiar, não é?
Estamos acostumados a achar que as demonstrações de afeto e dedicação carinhosa nos homens é sinal de submissão ou fraqueza, perda do poder. Desde cedo é cobrado do homem a ser corajoso, ágil, esperto, competitivo, arrojado, ter espírito de liderança e certa dose de agressividade. Esses atributos são incentivados e esperados, associados à força, virilidade e capacidade de proteção.
Mas as manifestações de carinho, de medo, de afeto e o choro são censurados ou reprimidos. Quem nunca ouviu as frases “menino não chora” ou “menino não brinca de boneca”?
No entanto, na situação do choro o menino está descobrindo suas fragilidades e limites, e quando brinca de boneca, como uma família, é uma oportunidade de treinar seu envolvimento afetivo, treinar a tarefa de cuidar do outro, de preocupar-se, de amar e proteger.
No afã de conduzir o papel masculino heterossexual considerado apropriado, a educação tradicional muitas vezes exclui a possibilidade de um exercício mais pleno da afetividade.
Nas novas formas de relacionamento entre homens e mulheres é comum dar destaque para as conquistas femininas no trabalho, na política, nas finanças da casa. E nem sempre se valorizam o apoio e o compromisso dos maridos e dos pais dentro de casa. Seja socialmente ou dentro da própria família, os homens necessitam de auxílio diante do desafio de reinventar o papel de pais, pois mesmo diante de tantas mudanças da sociedade, o afeto masculino ainda é um terreno a ser reconhecido e conquistado, tanto pessoalmente quanto na rica experiência da paternidade.