O diabetes tipo 2 está intimamente relacionado com a obesidade, já que a pré-condição genética é predisponente.
O Dr. Clayton Macedo, Coordenador da Comissão de Endocrinologia do Exercício Físico da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e Conselheiro Honorário do Instituto Correndo Pelo Diabetes (CPD), organização sem fins lucrativos, que tem como objetivo promover a saúde integral e qualidade de vida das pessoas com diabetes e outras doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), explica abaixo a relação do diabetes com a obesidade, os avanços no tratamento, a importância da atividade física como prevenção e até remissão de doenças graves e faz um alerta: “Precisamos combater a inércia terapêutica”.
Existe relação entre obesidade e diabetes?
Sim… No diabetes tipo 2 há uma resistência à ação da insulina, o pâncreas até trabalha mais que o necessário, porém o defeito está no receptor, onde a insulina age para diminuir a glicose no sangue. Genética, sedentarismo e obesidade acentuam essa resistência à insulina.
Nesse contexto, temos a síndrome metabólica, que também tem uma predisposição genética e faz com que a pessoa ganhe peso, sendo a característica predominante a gordura abdominal. Quatro fatores estão envolvidos com a síndrome metabólica: hipertensão arterial, diabetes, colesterol (HDL baixo) e o triglicérides elevado. Essa doença tem um impacto enorme, pois aumenta os riscos de problemas cardiovasculares, como infarto e derrame vascular cerebral (AVC) por exemplo.
Há um risco maior para a saúde do paciente quando essas duas doenças estão associadas? Por quê?
Com certeza, principalmente, aquelas com a síndrome metabólica, pois aumenta muito o risco cardiovascular. Além do infarto e AVC, mais de 10 tipos de câncer estão relacionados com a obesidade. O paciente com diabetes e obesidade tem mais risco de doenças articulares e depressão. A classe médica já está usando o termo Diabesidade – junção de diabetes com obesidade.
Como deve ser o tratamento de um paciente com obesidade e diabetes?
A medicina está evoluindo muito tanto para obesidade quanto para diabetes. Hoje temos remédios que agem simultaneamente nas duas doenças, melhorando essa resistência à insulina, controlando o apetite, a saciedade a taxa metabólica, melhorando o controle do diabetes e o excesso de peso.
A mudança de estilo de vida é fundamental, porém, sabemos que mudar hábitos não é tão fácil. Quais as orientações?
Não é fácil, mas é possível. Alimentação equilibrada, exercício físico regular, qualidade do sono, manejo do estresse. E o que vem sendo muito utilizada é a terapia cognitiva comportamental, quando trabalhamos o entendimento dos nossos sentimentos, das nossas emoções, ou seja, o comportamento que as emoções geram frente à alimentação saudável e atividade física. Essa terapia tem um impacto muito importante tanto no diabetes como na abordagem da obesidade.
A dica que fica é que, cada vez mais, devemos trabalhar em equipe, unir as expertises e os esforços do médico, nutricionista, do psicólogo, educador físico, do enfermeiro para proporcionar ao paciente uma abordagem mais ampla. Um estudo chamado Direct mostrou que pessoas que perdem peso podem, inclusive, ter remissão do diabetes tipo 2.
Outros estudos já apontam que o estilo de vida saudável pode prevenir diabetes e obesidade e, se não é mais possível prevenir, podemos evitar as complicações que essas doenças trazem.
Além disso, precisamos combater a inércia terapêutica. O médico não deve dar tapinhas nas costas e pedir para comer menos. É preciso encarar a obesidade como doença, muitas vezes precisando de tratamento medicamentoso. Ainda existe um preconceito entre médicos. Para pessoas com diabetes precisa de medicamento, mas o paciente com obesidade parece que tem que ter uma fórmula mágica.
Como a atividade física pode contribuir no tratamento do diabetes e obesidade?
É determinante. Podemos considerar a atividade física como um remédio para obesidade e diabetes. Faz perder massa gorda, aumenta massa magra. Nosso músculo é a maior glândula do corpo humano e, quando contraído, faz aumentar a produção de vários hormônios chamados miocinas, que regulam todo o organismo, a termogênese, queima de gordura, transforma o tecido adiposo em um tecido mais metabolicamente ativo, melhorando o sistema cardiovascular, melhora os ossos e, principalmente, age no cérebro, melhorando o humor, a memória, diminuindo a depressão e prevenindo a demência como o Alzheimer. A atividade física regular também ajuda na prevenção do câncer. Para quem já desenvolveu a doença, o exercício físico pode ser um grande aliado na remissão.
O Instituto Correndo pelo Diabetes (CPD) é uma organização sem fins lucrativos, que tem como objetivo promover a saúde integral e qualidade de vida das pessoas com diabetes e outras doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), por meio do exercício físico, inclusão e garantia de direitos. Desde 2018, recebe o apoio da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e atualmente faz parte das ações do Departamento de Diabetes, Esporte e Exercício da SBD.