O hipertireoidismo é menos comum do que o hipotireoidismo mas também pode afetar o desenvolvimento do bebê e requer os mesmos cuidados rigorosos.
As doenças que levam à redução dos hormônios tireoideanos na mulher são muito mais frequentes do que aquelas que causam a produção excessiva desses hormônios. A gestação não foge à regra. Temos muito mais gestantes com hipotireoidismo e recebendo reposição com hormônios tireoideanos do que com hipertireoidismo necessitando reduzir a produção excessiva desses hormônios. Em ambos os casos, a condição materna de desbalanço hormonal pode afetar o bebê e deve ser corrigida com muito cuidado.
Os níveis hormonais de uma maneira geral sofrem alterações fisiológicas na gestação. A glândula tireoide da gestante geralmente aumenta de volume para atender a demanda fetal, pois nos primeiros três meses, o bebê vai depender do hormônio materno, principalmente para o desenvolvimento neurológico. Quando o excesso hormonal decorre de uma doença da glândula, o diagnóstico pode não ser tão claro, pois sintomas de calor, sudorese, cansaço, ansiedade e taquicardia são frequentes na gestação e sem nenhuma relação com doenças. Por outro lado, a perda de peso na gestação ou até um ganho de peso aquém do esperado, associado a aumento do volume da tireoide pode denunciar a doença.
As dificuldades no diagnóstico não param por aí. A confirmação laboratorial do hipertireoidismo na gestação muitas vezes é difícil devido às alterações que normalmente ocorrem com os hormônios tireoideanos nessa fase interessante da vida da mulher. No primeiro trimestre, 15% das gestantes têm exames sugestivos de hipertireoidismo, apesar de serem perfeitamente normais. Precisamos saber definir essas variações do normal dos quadros de doença tireoideana verdadeira.
A principal doença tireoideana que causa hipertireoidismo é a Doença de Graves, uma condição auto-imune causada pela produção anormal de anticorpos estimuladores da tireoide. O curso natural da doença é mais intenso no primeiro trimestre da gestação, com melhora relativa na segunda metade da mesma, voltando a se agravar após o parto. Quando a doença é diagnosticada na gestação e é leve, pode até prescindir de medicamentos. Nos casos graves, temos que recorrer a eles. O objetivo sempre será controlar o excesso de hormônios da mãe, lentamente, evitando causar a deficiência do hormônio no bebê.
Há dois medicamentos disponíveis para o tratamento do hipertireoidismo. Na gestação, a preferência recai sobre o propiltiuracil. Essa droga atravessa a placenta em menor proporção e tem menores efeitos sobre o bebê. O outro medicamento disponível, o Tapazol, tem sido relacionado a mal formações fetais, principalmente a chamada aplasia cútis, a ausência de uma parte da pele ao nascimento. Mesmo assim, ambas as drogas podem causar hipotireoidismo e bócio fetal e devem ser utilizadas na menor dose possível, suficientes para controlar o hipertireoidismo da gestante e manter os hormônios tireoideanos no limite superior do normal ou até levemente elevados.
Após o parto, muitas vezes a doença se agrava e a produção dos hormônios atinge níveis mais elevados do que na gestação, obrigando-nos a aumentar a dose do medicamento. A decisão sobre a amamentação vai depender da gravidade do quadro de hipertireoidismo e da dose de medicamentos usados pela mãe. Muitas vezes a amamentação é possível, embora essa decisão ainda divida os profissionais e não seja consenso. Para nós, mesmo as mulheres que necessitam continuar usando os medicamentos anti tireoideanos podem amamentar, desde que as doses dos mesmos sejam mantidas dentro da margem de segurança já conhecida e seus bebês sejam observados pelo pediatra e façam avaliações hormonais regulares.