8 Mitos e Verdades Sobre a Imunização de Crianças e Adolescentes Contra a Covid-19

Médico epidemiologista fala sobre a importância da vacinação para o público jovem, além de alertar sobre as fake news

Desde de 16 de dezembro de 2021, a vacinação de crianças de 05 a 11 anos, com o imunizante da Pfizer, está autorizada no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).


De lá pra cá muito tem se discutido, e diversos pais e responsáveis têm ficado em dúvida se vacinam ou não seus filhos, contra a doença que já matou quase 6 milhões de pessoas ao redor do mundo. Para se ter uma ideia, segundo o governo de São Paulo, a maior metrópole do Brasil, somente no estado foi registrado um aumento de 61% na internação de crianças e adolescentes nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) nos últimos dois meses.


“Precisamos ter em mente que vacinar crianças e adolescentes contra a Covid-19 é uma questão prioritária de saúde pública. Já falamos sobre isso quando começamos a vacinar adultos e idosos, e ao longo desses meses podemos observar o quanto as vacinas têm colaborado para a diminuição dos casos mais graves e mortes”, comenta Mauro Cardoso, médico epidemiologista e cientista de dados da healthtech 3778


Para o especialista, não faz sentido irmos contra algo que a ciência mundial está recomendando, e devemos ter medo da doença, não do remédio. “Em tempos de um país polarizado e um mundo globalizado, acabamos sendo bombardeados por inúmeras informações, que nem sempre são verdadeiras. Vale ficar sempre atento às famosas fake news”, orienta ele.


Confira abaixo oito mitos e verdades sobre a imunização de crianças e adolescentes contra a Covid-19, separadas pelo médico:


1. A vacina é mais perigosa para crianças e adolescentes do que a Covid-19 – MITO


Um levantamento feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) revela que 4,7 milhões de crianças, com idades entre cinco e nove anos, tiveram Covid-19 em 102 países. Destas, 1.788 morreram.


Em contrapartida, não há nenhuma confirmação de morte causada pela vacina. E segundo informações do Center for Disease Control and Prevetion (Centro de Controle e Prevenção de Doenças, em tradução literal), foram aplicadas 8,7 milhões de doses da vacina em crianças de 5 a 11 anos, no mundo. Ou seja, as chances dos jovens virem a óbito em decorrência da doença é absurdamente maior do que pela vacina, cujas probabilidades são até mesmo difíceis de estimar, dado a ausência de eventos mensuráveis.


2. A vacina contra Covid-19 é segura para crianças e adolescentes – VERDADE


As vacinas que são aprovadas passam por testes de fase três, os mesmos que inicialmente foram testados em adultos.
Apenas quando esses testes são concluídos é que se aprova seu uso em faixas etárias ou grupos específicos como crianças ou grávidas. No caso da vacina da Pfizer, por exemplo, a empresa realizou estudo, que foi enviado à Anvisa, com quase quatro mil voluntários. Nesses testes, a vacina apresentou 90% de eficácia, número próximo ao valor de eficiência em adultos.


É assim que a Agência confirma que vacinas, como no caso da da Pfizer, são seguras na prevenção da forma mais grave — e até mesmo morte — da Covid-19 em crianças de 5 a 11 anos, quando administrada no esquema de duas doses.


3. É melhor que eles criem anticorpos, através da doença – MITO


A vacina impulsiona o sistema imunológico para produzir uma resposta ao vírus da mesma forma que a doença original, mas sem trazer riscos para a pessoa. A doença pode levar a inúmeras complicações, sequelas e até mesmo matar.

Tanto a vacina quanto a doença podem produzir anticorpos, mas a vacina é a forma mais segura, calculada e mensurável de se produzir boa resposta imunológica sem nenhum dos riscos da doença original.


4. A doença pode ser mais propensa a desenvolver miocardite nas crianças e adolescentes do que a vacina – VERDADE


As chances dos jovens desenvolverem miocardite — uma inflamação da camada média da parede do coração, geralmente, causada por uma infecção viral, que enfraquece o órgão, causando insuficiência cardíaca, frequência anormal dos batimentos e até a morte — após contrair a doença ou pós infecção viral é cem vezes maior, do que para aqueles que tomaram a vacina. Como eles possuem as vias respiratórias menores do que a dos adultos, qualquer secreção causada por essas infecções virais pode obstruir essas vias e levar até à morte.


De qualquer forma, é importante ressaltar que os riscos decorrentes da Covid-19 são muito maiores que qualquer risco associado à vacina.


5. Somente o Brasil está vacinando as crianças e adolescentes – MITO


Outros países também estão vacinando as crianças, como Estados Unidos, Colômbia, China, Reino Unido, Canadá, Israel, Cuba e Argentina e países da União Europeia, por exemplo. Países de várias orientações político-econômicas diferentes usam vacinação infantil para a Covid e outras doenças.


Eles têm usado diferentes imunizantes em diferentes faixas etárias, mas todos estão vacinando a população infanto juvenil.


6. A vacina aplicada nas crianças é diferente da dos adultos – VERDADE


Sim. De acordo com a Anvisa, a dosagem e composição da vacina da Pfizer, por exemplo, é diferente da que está sendo administrada em maiores de 12 anos. A dosagem é equivalente a ⅓ da aplicada em adultos. Mas a diferença é principalmente na dose, não no mecanismo de ação.


Além disso, há diferenças na apresentação, por exemplo, na cor da tampa dos frascos, para que haja uma melhor identificação, tanto para as equipes de vacinação, quanto para pais/responsáveis/cuidadores que levarão as crianças para se vacinar. Por exemplo: a cor da tampa da embalagem do imunizante para o público infantil é laranja, enquanto para maiores de 12 anos é roxa.


7. Os efeitos colaterais pode deixar sequelas – MITO


Isso é um mito. Os efeitos colaterais de uma vacina são as respostas normais do próprio sistema imunológico; são leves e significam apenas que o organismo reagiu. Não deixa sequelas, e os efeitos do imunizante contra a Covid-19 aplicados em crianças e adolescentes são os mesmos observados nos adultos. A doença pode sim deixar sequelas, e afetar a qualidade de vida, quando experimentada em suas formas mais graves. A vacina previne justamente isso.

É comum inclusive não haver esses efeitos colaterais mais leves, o que não quer dizer que a vacina não fez efeito.


8. Mesmo que crianças e adolescentes tenham casos menos severos da doença, a vacinação ainda é importante – VERDADE


Ainda que os jovens peguem a Covid-19 e apresentem quadros menos severos, eles continuam transmitindo o vírus para seu círculo de convivência. A vacina ajuda a diminuir a transmissão comunitária do vírus.


Fora isso, mesmo pegando de forma mais “leve”, não significa que não seja uma situação preocupante. De acordo com o Ministério da Saúde, ao menos 852 crianças de até nove anos morreram em decorrência da Covid-19, de fevereiro de 2020 a 15 de março de 2021. Entre elas, 518 eram bebês menores de um ano de idade.

Mauro Cardoso

Médico epidemiologista e cientista de dados da healthtech 3778

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