A crise da angústia, a presença do pai e a erupção dentária.
A crise dos 3 meses
Com o tempo, o seio se enche e elimina o leite com mais facilidade e o bebê suga mais intensamente. Conclusão: a sucção fica mais eficaz e o tempo de mamada pode diminuir sensivelmente. Ao contrário do que a mamãe possa pensar, o bebê não está mamando menos, tanto que, quer seja por livre demanda (o ideal) ou não, o intervalo das mamadas se mantém ou até aumenta.
Além disso, aos 3 meses, quando o bebê começa a enxergar melhor, quem ele vê? Sua mãe. E ele se diverte assim; e ela também. Nesse momento, o bebê começa a ter a percepção que ele não é parte da mãe, mas sim um ser diferente dela, muito próximo dela, mas não é parte dela. Ou seja, o bebê tem a percepção do primeiro outro. Sua mãe.
E a “consciência” de que existe um ambiente visível, audível e palpável, além do olhar e do seio materno pode, por exemplo, distraí-lo durante uma mamada. Como se concentrar se há tantos estímulos, tanto para conhecer?
Mais um dado que contribui para a preocupação materna é que, associado ao menor tempo de mamada acontece uma diminuição do ganho de peso e um enchimento de seio não tão intenso quanto no início. E, muitas vezes, essa insegurança faz com que mães, pais, avós e até pediatras introduzam fórmulas infantis para complementação alimentar. Uma vez constatado que o bebê está clinicamente bem, vamos todos respirar bem fundo e raciocinar.
Se um bebê que nasceu com 3 kg (média) ganhar 1 kg todos os meses, ao final de 1 ano ele estará pesando… 15 kg. A média de peso esperada para 1 ano de idade é de 9 kg (em média, segundo a mais recente tabela de 2006 da OMS). Assim, em 1 ano, esse bebê tem que ganhar 6 kg. E se nos primeiros 3 meses ele ganhou 2 a 3 kg, sobram 3 a 4 kg para ele ganhar nos próximos 9 meses. Assim, fica matematicamente comprovado que o bebê deve diminuir (e muito) seu ganho de peso mensal para que ele não inicie, desde muito cedo, seu processo de obesidade infantil.
Mas, se durante o dia, essa situação nova, apesar de incomodar um pouco a mãe, é solucionada com o tempo e com as consultas e explicações do pediatra, as noites podem não ser tão inofensivas assim. Afinal, a criança que dormia quase a noite toda pode começar a acordar mais vezes e, na maior parte das vezes, as mães encontram apenas uma explicação: fome. E por quê? A criança chora algumas vezes. A mãe vai lá e ela para. A mãe sai e a criança volta a chorar e só se acalma quando, depois de muitas idas e voltas, ela mama. Mas isso é mesmo só e principalmente fome?
Nananinanão. Esta é a segunda crise de desenvolvimento e de angústia do bebê. O bebê vai sugar, sempre que o seio for oferecido, mesmo sem fome, porque isso representa estar novamente de volta à segurança do primeiro trimestre, quando mãe e bebê eram um só.
Se a mãe tiver a consciência de que isso é transitório, e tiver o suporte da família, e conseguir entender que é realmente ela quem tem que atender esses choros noturnos do bebê, e todos à sua volta a apoiarem nessa fase, em média, após 15 dias, a rotina tende a se restabelecer e todos poderão retomar suas vidas noturnas saudáveis, com um sono contínuo, sem que esse bebê tenha que ter sido medicado.
E aos 6 meses
Então, tudo segue bem até que entre 5 e 6 meses a criança tem dois fatores de crise importantes: o pai e a erupção dentária.
Como o pai, especialmente aqui no Brasil, tem uma licença-paternidade ridícula de 5 dias para “legalizar” a existência de seu filho (e não para dar suporte necessário em seu lar) e logo tem que voltar ao trabalho, seu contato com o bebê fica resumido ao período no qual ele mais dorme e, quando ele acorda, só quer a mãe para satisfazer suas necessidades básicas.
A partir dos 6 meses, quando o bebê começa a passar mais tempo acordado, a figura do pai começa a se tornar mais comum à criança, aos finais de semana, por exemplo, e um apego extra tem início. Muitas vezes, nessa fase, as mães não entendem porque o bebê, quando acordado, tem “vontade de estar com seu pai”. Mas aos poucos, o vínculo familiar favorece os papéis e pai-mãe-criança passam a constituir uma família equilibrada, compartilhando muito mais do que competindo pela atenção do filho.
Um pouco mais incômodo do que isso é que nessa fase costuma ser a época da erupção dentária. Algumas crianças nascem com dentes (dentes neonatais) e outras vão ter dentes após 1 ano de idade. Tudo isso é normal. Em média, nasce um dente por mês entre o 6º e o 8º meses de vida.
Apesar de não ser aceita por muitos pediatras, atualmente, uma grande parte dos profissionais, avós e pais já reconhecem esse problema é a crise da erupção dentária. Mais do que isso é que cada dente que vai sair tem sua história própria.
Alteração de humor, de sono, diarreia, rejeição ao alimento sólido, preferência por leite materno no seio materno e até febre podem fazer parte dessa “Síndrome de Erupção Dentária”. Esse é um quadro transitório que, após seu reconhecimento, também tem uma evolução benigna.
Próxima parte:
As Crises do Primeiro Ano de Vida – parte 3
A crise ou angústia da separação
E chegamos assim à mais conhecida crise infantil – a crise ou angústia da separação – que costuma acontecer por volta dos 8 a 9 meses, ou em algum momento no 3º trimestre de vida desse bebê, podendo ser a mais duradoura, com sintomas mais intensos quando a criança que dormia a noite toda chega a acordar 8, 10 ou mais vezes, apavorada, gritando, em desespero, chorando muito, assustando tanto os pais quanto a criança. E a falta, nesse momento, é mesmo da mãe (ou da “figura de apego”).