Crianças Cegas Aprendem o Alfabeto Brincando  

Programa Braille Bricks Brasil, da Fundação Dorina em parceria com a Unesp, capacita mais de 800 professores para alfabetização de crianças com deficiência visual com kits do Lego Braille Bricks.

Imagine um cenário no qual crianças com e sem deficiência visual são alfabetizadas juntas de forma lúdica e divertida. Por meio do Programa Braille Bricks Brasil isso já é uma realidade. Desde 2018, a Fundação Dorina Nowill para Cegos (FDNC), em parceria com a Universidade Paulista Estadual Júlio de Mesquita Filho (Unesp) representada pelo Centro de Promoção para a Inclusão Digital Escolar e Social (CEDIP), forma educadores para auxiliá-los na alfabetização de crianças de 4 a 10 anos com peças do Lego e faz a distribuição de kits do Lego Braille Bricks com o brinquedo, para diversas instituições.

Agora, em 2022, o programa se expandiu: desde abril, mais de 840 profissionais da educação estão sendo capacitados em 23 municípios, de quatro estados brasileiros (São Paulo, Bahia, Minas Gerias e Mato Grosso do Sul).   Além do curso de formação, o programa distribuiu 1.886 kits do Lego Braille Bricks para 385 escolas brasileiras.
 

O intuito é sensibilizar o educador e gestor público para a importância do Sistema Braille na alfabetização de crianças com deficiência visual e apresentar a eles um recurso lúdico e inclusivo para a aprendizagem do Sistema Braille: o Lego Braille Bricks. Composto por mais de 300 peças que apresentam letras e números em Braille e do alfabeto convencional, o material foi desenvolvido para que todas as crianças possam aprender e brincar juntas.

 

“A alfabetização ajuda a vencer desafios. Nosso programa, além de promover a educação inclusiva, ajuda a formar cidadãos que respeitam as diferenças e mostra que a deficiência não limita as crianças”, explica Regina Lopes, Coordenadora do Programa Braille Bricks Brasil.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), em 2019, cerca de 28 mil alunos com deficiência visual estavam matriculados na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental no Brasil. Dentro desse cenário, o único sistema que alfabetiza as crianças com deficiência visual, é o Braille.
 

Silvana Seixas é uma das educadoras que participou do processo de formação. Moradora de São José do Rio Preto ela acredita que a educação inclusiva transforma a sociedade. “Os processos formativos sempre são importantes para refletirmos sobre nossas práticas pedagógicas, às vezes ficamos parados na nossa zona de conforto. O curso nos despertou sobre a importância de atuarmos pensando na inclusão”, avalia.

 

Atualmente, participam do programa os seguintes municípios: Amparo (SP), Valinhos (SP), Americana (SP), Suzano (SP), Itatiba (SP), Diadema (SP), Osasco (SP), Jandira (SP), Barueri (SP), Bauru (SP), Poá (SP), Campinas (SP), Ribeirão Pires (SP), Guararema (SP), Vinhedo (SP), Limeira (SP), Sud Menucci (SP), Bataguassu (MS), Campo Grande (MS), Nova Andradina (MS), Corumbá (MS), Paraisópolis (MG) e Salvador (BA).
 

Está é a quarta vez que o programa capacita educadores. Em 2018, o projeto piloto formou profissionais em Franco da Rocha, município de São Paulo. Nos anos seguintes alcançou cidades como Presidente Bernardes, São José do Rio Preto, Presidente Prudente e Salvador. O programa já formou, ao todo, 6.880. educadores.
 

Lançado mundialmente em abril de 2019, o programa ajuda crianças cegas e com baixa visão a aprender Braille de maneira divertida e lúdica, usando as peças LEGO® customizadas para o Sistema. Totalmente inclusiva, as peças apresentam também o alfabeto convencional para que todas as crianças possam aprender juntas. Destaque nacional e internacional, a iniciativa da Fundação Dorina Nowill para Cegos conquistou, em junho de 2019, um Leão de Prata na categoria Inovação do renomado Festival de Cannes.

 

A Fundação Dorina participa ativamente do projeto desde 2016, sendo uma das primeiras instituições no mundo a incentivar seu desenvolvimento. O projeto chamou a atenção do Grupo Lego e da Lego Foundation em 2018.
 

Vale ressaltar que o material está disponível em outros seis países: Alemanha, França, Dinamarca, Estados Unidos, Noruega e Reino Unido. Assim como a Fundação Dorina no Brasil, cada país tem suas instituições parceiras auxiliando no desenvolvimento e aplicando a metodologia Braille Bricks.
 

Cenário da deficiência visual e da educação no Brasil
 

Estima-se que no mundo exista cerca de 36 milhões de cegos, e 216 milhões de pessoas com visão subnormal e que 90% dos casos de cegueira ocorrem nos países emergentes e subdesenvolvidos. No Brasil, dados do IBGE mostram que 6,5 milhões brasileiros com deficiência visual.

 

Desse total, segundo o INEP, 28 mil alunos com deficiência visual estavam matriculados na Educação Infantil e no Ensino Fundamental no Brasil. O Nordeste é a região brasileira com maior número de crianças matriculadas, 9.914. A região é seguida pelo Sudeste (7.659), Sul (4.318), Norte (4.099) e Centro-Oeste (1961).
 

Bahia (3.796), São Paulo (3.297) e Minas Gerais (2.599) são, respectivamente, os estados brasileiros com mais matrículas nessas fases educacionais. Amapá (268), Distrito Federal (187) e Roraima (81) são os que apresentam o menor número. “Defendemos uma sociedade inclusiva e acreditamos que a educação é a melhor maneira de transformar nossas crianças cegas e com baixa visão em adultos autônomos. Aos poucos, nossa ideia é que esse Programa conquiste o Brasil inteiro”, finaliza Regina Lopes

Fonte: A Fundação Dorina Nowill para Cegos é uma organização sem fins lucrativos e de caráter filantrópico. Há 76 anos se dedica à inclusão social de crianças, jovens, adultos e idosos cegos e com baixa visão. A instituição oferece serviços gratuitos e especializados de habilitação e reabilitação, dentre eles orientação e mobilidade e clínica de baixa visão, além de programas de inclusão educacional e profissional.



 

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