Natação para bebês e crianças, quando iniciar? – parte 2

A idade correta para inicio da natação deverá levar em conta a segurança e a saúde da criança

Pelas perguntas aqui e no meu site (através dos e-mails que recebo de pacientes e não pacientes) e na minha página e em um grupo com mais de 4.000 mães que eu tenho no facebook (FILHOS: CADÊ O MANUAL DE INSTRUÇÕES), frustrei algumas mães e agucei a curiosidade em pais.

Nem sei se a matéria acaba hoje e nem se vou satisfazer a curiosidade e esclarecer todas as dúvidas a respeito do tema.

Então vamos lá, tentar responder a pergunta deixada na parte -1 da matéria.

Então não seria melhor ensinar as crianças mais cedo para elas não se afogarem?

O tema é muito controverso inclusive em relação à idade ideal para natação.

Se colocarmos um bebê submerso na piscina ele pode sair “nadando” ou aprender a “nadar”? Sim isso pode acontecer.

A questão não está em ensinar um bebê a nadar pela sua capacidade.

A questão está nos riscos envolvidos e nas consequências imediatas e tardias possíveis à saúde desse bebê.

E uma das nossas “missões” como pediatras é a prevenção dos problemas.

Segundo matéria publicada no blog da Sociedade Brasileira de Pediatria, pelo Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da SBP, em crianças menores de 4 anos, o afogamento está entre as principais causas de óbitos externos no Brasil.

Crianças menores que 4 anos de idade devem ser afastadas de qualquer reservatório de líquidos (baldes, banheiras, vaso sanitário, tanques e piscinas) que deverão ser esvaziados após uso. Nesta mesma faixa etária aulas de natação não são a prova de submersão e nunca deverão permanecer sozinhas na banheira. A criança maior deve aprender a nadar e conhecer regras de segurança de piscinas, assim como, de parques e esportes aquáticos.

A conclusão da matéria aponta que “crianças pequenas podem se afogar em camadas líquidas de 5 cm. A presença de um adulto responsável sempre será fundamental. Embora não se comprove a eficácia das lições de natação em prevenir afogamentos, todo esporte é saudável e deve ser incentivado.

Até 2010, a posição oficial da Academia Americana de Pediatria (AAP) era para evitar aulas de natação antes dos 4 anos de idade.

Essa posição era baseada em alguns pontos:

  • Falta de dados necessários para determinar se os programas de natação para crianças e bebês aumentavam ou diminuíam as chances de afogamento;
  • Preocupação que esses programas causassem nos pais uma falsa sensação e segurança e os induzissem a uma supervisão inadequada quando a criança estivesse perto da água;
  • Evidências de que iniciar aulas de natação precocemente não resulta em desenvolvimento mais precoce nas habilidades da natação.
  • Preocupação que os programas de natação pudessem diminuir o medo da criança de água e involuntariamente as encorajasse a entrar na água sem supervisão.

E cá pra nós, essas são preocupações justificadas. Ou não?

O que mudou então?

Um estudo publicado no Injury Prevention, realizado na China (2007) e outro publicado no JAMA Pediatrics (2009), nos Estados Unidos, fizeram a AAP rever sua posição, publicada em 2010, porém com ressalvas importantes.

O estudo na China, que incluiu os pais e crianças de 1 a 14 anos que morreram afogadas entre 2002 e 2004 em 20 distritos rurais, comparando-os com grupos controle, concluiu que as causas principais dos afogamentos foram:

Entre 1 e 4 anos: saúde pobre do cuidador, não estar com equipamento de flutuação (boias) e não ter recebido aulas apropriadas de natação

Entre 5 e 14 anos: criança não tinha experiência em brincar regularmente próximo ou dentro da água e falta de supervisão próxima.

Assim, concluíram que programas educacionais seguros (foco em supervisão constante do adulto e o uso de aparelhos de segurança de flutuação) poderiam prevenir o afogamento.

Já nos Estados Unidos, análise de 611 crianças que morreram afogadas entre 2003 e 2005, de 1 a 4 anos, mostrou que só 3% dessas tinham recebido aulas formais de natação contra um grupo controle de crianças (26% tinham recebido aulas).

Assim, atualmente, de acordo com a nova posição da AAP, a idade recomendada para iniciar a prática de aulas de natação é 1 ano de idade (pronto, já matei a curiosidade da maioria. Mas continuem a leitura porque ela é muito importante).

Masssssssss………….

Ainda segundo a AAP, as evidências desses estudos não são suficientes para recomendar que todas as crianças entre 1 e 4 anos de idade recebam aulas e natação. Deve ser enfatizado que, mesmo uma grande habilidade em nadar nem sempre previne o afogamento, e que as aulas de natação devem ser consideradas apenas no contexto de ampla segurança com supervisão constante e capacitada.

Além disso, deve-se pesar muito cuidadosamente os benefícios de uma instrução de natação precoce contra os possíveis riscos como hipotermia, doenças infectocontagiosas, problemas pulmonares, alergias, otites e até afogamentos, mesmo com conhecimento das técnicas de natação.

Nos últimos anos, criou-se a informação e a habilitação de crianças menores de 12 meses, com a popularização de cursos para esse fim, tanto nos Estados Unidos como em outros países, inclusive o Brasil, através de filmes de bebês que foram ensinados a mergulhar e nadar embaixo da água e outras situações. Apesar desses relatos até de crianças se “salvando de morrerem afogadas”, não há nenhum estudo científico reconhecido que demonstrou claramente a segurança e a eficácia de programas de treinamento para bebês nessa faixa etária (abaixo de um ano de idade).

Tá, já entendi. Muito legal.

Mas eu moro no Brasil e não na China e nem nos Estados Unidos.

Qual a posição oficial aqui, entre nós?

Já está muito comprido esse aqui. Semana que vem eu trago essa posição aqui. Até lá.

 

Esse artigo faz parte de uma série, para ver as demais partes, acesse:

Dr. Moises Chencinski

Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com título de especialista em pediatria pela Associação Médica Brasileira (AM...

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