Após o início da natação os resultados deverão ser observados pelos pais e profissionais comprometidos.
Conforme combinado na semana passada, vamos chegar aqui no Brasil e ver quais as posições médicas oficiais e reconhecidas por aqui?
Massss… e se sou eu sempre tem um mas… queria, adivinha? Isso mesmo.
Abre parênteses
Quando iniciei essa matéria, que já foi motivo de grandes e calorosos debates em meu facebook, já imaginava que seria abordado por profissionais da área de educação física. Lógico que aconteceu de novo.
Mas a abordagem foi tão educada, tão respeitosa, tão coerente, tão ética e tão útil que gostaria de trazer aqui, hoje, essa conversa.
Flávia Helena Valentini
“Bom dia dr.
Sempre acompanho matérias que escreve no site Guia do Bebê e li as duas últimas em que o assunto é natação para bebês quando iniciar!
Entendo e concordo com algumas colocações médicas no quesito infecções e problemas que podem ser evidenciados com a prática de aulas de natação, porém discordo quando você cita que para a maioria das academias e escolas de natação a indicação de se iniciar as aulas pode ser a partir dos 6 meses é feita sem qualquer argumento ou fundamento.
Sou educadora física e entendo que nenhuma criança irá aprender a nadar antes dos 6 anos (tecnicamente) porém iniciar a partir de bebê aumenta a vivência e suas habilidades no quesito psicomotricidade. E isso melhora muito o seu desenvolvimento como um todo.
É claro que com uma boa orientação (profissional que entenda do assunto e não apenas queira vender um modismo) o bebê acaba se familiarizando com o meio líquido e aprendendo a se virar, porém nunca devemos ter a falsa impressão que uma vez soltinho ou ambientado, o mesmo pode ficar só em piscinas sejam elas to tamanho e profundidade que for.
Cabe ao professor orientar os pais dos cuidados pois ao aprender a se virar muitas vezes os mesmo pensam “agora posso ficar mais tranquilo”…. e pelo contrário é preciso sempre estar por perto e atentos. Tanto é que os dados de afogamentos geralmente constatam a negligência nas proteções estruturais e de pessoas no momento do afogamento.
Então penso que seria legal que colocasse que nem sempre o profissional fala sem conhecimento ou preparo e que conhecer mais sobre os benefícios da atividade aquática desde pequenos é algo que às vezes faz médicos de uma maneira geral subestimar os seus efeitos e benefícios, reforço novamente quando bem orientados e por profissionais sérios e conscientes do seu papel. Gostaria que pudesse ler e se possível responder ok”
Minha resposta a ela
“Flávia, você já me conhece e sabe que eu leio e respondo todas as questões enviadas para mim. O que talvez você não conheça de mim é que eu NUNCA vou fazer qualquer afirmação ou qualquer artigo sem embasamento científico.
Essa não é só uma opinião minha. Aliás, no texto, até agora eu ainda não emiti uma opinião minha. Essa é a opinião da OMS, da Academia Americana de Pediatria, da Sociedade Brasileira de Pediatria, da ONG Criança Segura (essa é mais radical – eu mostro na próxima parte dessa matéria) e todas elas estão embasadas nas questões médicas.
E é nelas que eu me baseio. Não acho que nem você e nem eu temos condições suficientes de contradizer essas informações que são mundiais, gerando congressos da Organização Mundial de Saúde a respeito do tema (afogamento) com mudanças de conceitos.
Os links das matérias estão todos lá para você ler e tirar as suas conclusões.
Essa matéria ainda tem pelo menos mais duas partes. Na próxima eu pretendo colocar as posições oficiais médicas do Brasil.
E na última parte, aí sim, eu vou detalhar a minha opinião e a minha experiência. De antemão, adianto que existem vantagens e desvantagens. Você acompanha as crianças na prática e, com todos os cuidados da profissional consciente que é, projeta ações e resultados.
Não são poucas, ao contrário, as crianças com otites, rinites alérgicas, bronquites que pioram muito quando as aulas de natação acontecem precocemente. As crianças que adoecem não aparecem nas aulas. Elas procuram os consultórios médicos.
A questão é que não há como saber de antemão quem terá ou não terá problemas. Mas eu sou um profissional de saúde responsável. Qual deveria ser a minha recomendação?
O que você talvez já tenha lido entre as coisas que eu escrevo é um comentário assim:
Nem todo mundo que fuma tem câncer de pulmão, nem todo mundo que bebe bebida alcoólica tem cirrose e nem todo mundo que tem relação sem preservativos tem AIDS. Mas há uma chance maior de isso tudo acontecer. Nem por isso, deixamos de orientar a forma que se julga adequada (não fumar, não beber e ter relações sexuais sempre com proteção).
Assim, nem todas as crianças que usarem andador terão acidentes e serão internadas, nem todas as crianças que estiverem em um carro fora das cadeirinhas vão morrer em acidentes, nem todas as crianças que consumirem mel abaixo de um ano de idade terão botulismo, e nem todas as crianças que tomarem sucos terão obesidade ou diabetes tipo 2. Mas há uma chance maior de isso tudo acontecer. Nem por isso, deixamos de orientar a forma que se julga adequada (não usar andador, no carro, sempre na cadeirinha, não oferecer mel abaixo de um ano de idade e não oferecer sucos abaixo de um ano de idade e dar preferência para as frutas in natura).
Se é assim, minha função e minha missão é orientar e prevenir. Os pais tomarão a decisão que julgarem melhores de acordo com a informação ética e coerente e consciente ouvindo os dois lados da questão. Você não acha isso justo?”
Flávia Helena Valentini
“Muito justo e preconizo sempre a importância de conscientizar os pais, pois antes de tudo somos educadores formadores de opinião, não dá para fingir ou não considerar embasamentos científicos e o que preconizam organizações tão antigas e de referência.
Apenas acho que cabe a nós, que temos mais conhecimento por formação, cuidarmos da forma como levamos um assunto em questão. Você, melhor do que eu, sabe que muitas vezes o que médico fala é lei e nem todos são conscientes como você e o mesmo acontece em todas as áreas.
Na minha experiência prática em piscinas em 13 anos de atuação vi muitas coisas tanto positivas como negativas na iniciação de bebês e crianças na natação e embora não tenha realizado nenhum estudo de dados da população que a escola atendeu em seus mais de 19 anos de trabalho na área, acredito que não seria adequado rotularmos algo como 100% negativo ou positivo.
Mas agradeço o contato e a preocupação em responder. É a primeira vez que faço um questionamento até porque aprendo todos os dias com diversos profissionais que posso ter contato, sigo muito suas matérias, algumas posto no meu grupo de mães, já escutei algumas entrevistas e fico feliz por saber que não se importa em trocar experiências com mães assim como eu sou. Vou acompanhar as demais matérias.”
Fecha parênteses
Achei essa conversa tão esclarecedora, completa e importantíssima, que estou dividindo a autoria da matéria dessa semana com a Educadora Física (isso mesmo, merecidamente com letras maiúsculas) Flávia Helena Valentini (pedi permissão a ela para citar nossa conversa e o nome dela e ela, muito prontamente e gentilmente, permitiu).
Quem dera tivéssemos sempre a possibilidade de trocar ideias com profissionais e pessoas do tipo da Flávia. Não conheço pessoalmente, mas já gosto e já indico. Mas, por enquanto, só acima de um ano de idade. Rsrsrs.
Paro hoje por aqui, mas prometo retomar na próxima semana com as informações que eu prometi para essa semana. Estou parecendo alguns políticos em campanha, não é (prometo, prometi … e não cumpri. Kkkkk)?
Mas valeu a pena.
E pra seguir a rotina, trago o último parágrafo da parte 2 para passar pra frente na semana que vem.
Qual a posição oficial no Brasil, entre nós?
Semana que vem eu trago essa posição aqui.
Até lá.
Esse artigo faz parte de uma série, para ver as demais partes, acesse: