Pesquisadores Encontram Motivo por Trás de Falhas nos Óvulos que Podem Prejudicar Fertilidade e Gestação

Em estudo publicado em fevereiro na revista científica Science, grupo de pesquisa descobriu que deficiência de uma certa proteína nos oócitos humanos pode resultar em alterações cromossômicas nos óvulos, responsáveis por infertilidade, abortos e doenças como Síndrome de Down.

As causas da infertilidade e de complicações durante a gravidez são extremamente diversas, podendo incluir, por exemplo, qualidade dos espermatozoides do homem, idade avançada e condições pré-existentes da mulher e até mesmo alterações cromossômicas do óvulo. E não é incomum que os óvulos humanos contenham um número incorreto de cromossomos, o que pode causar dificuldades de fecundação e implantação do embrião, abortos espontâneos e desenvolvimento de doenças como a Síndrome de Down. “Isso ocorre porque cada óvulo, que deve ter 23 cromossomos para, junto ao espermatozoide, formar um embrião com 46 cromossomos, é precedido por uma célula chamado de oócito, que contém duas cópias de cada cromossomo e, portanto, deve perder metade deles em um processo conhecido como meiose para que a fecundação possa ocorrer. Nesse processo, uma estrutura complexa chamada de fuso mitótico é responsável por separar os cromossomos e garantir que o óocito mantenha o número correto. O problema é que, em humanos, esse processo é altamente propenso a erros, resultando em óvulos com cromossomos faltantes ou em excesso”, explica o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime em São Paulo. Já era conhecido que esses erros estavam relacionados a frequentes instabilidades nesses fusos mitóticos, mas não se sabia até então qual era a causa dessas instabilidades, que não são observadas em outros mamíferos do reino animal. A boa notícia é que, agora, um grupo de pesquisadores parece ter encontrado a causa dessas instabilidades que levam a falhas nos óvulos. A descoberta foi publicada em fevereiro na revista cientifica Science.

Para descobrir exatamente o que causa essas instabilidades, os estudiosos compararam as proteínas presentes nos oócítos de diferentes mamíferos, incluindo, além de oócitos humanos, células de ratos, porcos e vacas. Após análise, descobriram que os oócitos humanos são deficientes de proteína KIFC1. “Essa proteína atua como uma espécie de motor molecular, servindo para estabilizar a maquinária que separa os cromossomos durante a divisão celular para evitar que ocorram problemas durante esse processo”, diz o Dr. Rodrigo. Em comparação com humanos, oócitos de outros mamíferos apresentaram uma quantidade significativamente maior dessa proteína, o que explicaria o motivo dessas falhas nos óvulos serem menos frequentes nos animais.

Para confirmar a hipótese, os pesquisadores investigaram em seguida se a manipulação dessas proteínas afetaria a estabilidade do fuso mitótico. Usando uma técnica que rapidamente degrada a proteína alvo em qualquer tipo de célula, o grupo esgotou os níveis da proteína KIFC1 nos oócitos de ratos e vacas, que, sem essa proteína, sofreram com instabilidade no fuso mitótico de maneira similar aos humanos, o que resultou em mais erros na separação dos cromossomos.

Os pesquisadores ainda suplementaram óocitos humanos com quantidades extras dessa proteína, que apresentaram fusos mitóticos significativamente mais estáveis e menos erros cromossômicos. Segundo o Dr. Rodrigo Rosa, os resultados sugerem então que a proteína KIFC1 é realmente um fator crítico para garantir que a distribuição de cromossomos ocorra sem erros durante o processo de meiose do oócito. “Essa descoberta é realmente animadora, pois abre a possibilidade de novas abordagens terapêuticas para reduzir as alterações cromossômicas em óvulos humanos, assim ajudando a aumentar a eficácia de tratamento de fertilidade no futuro”, finaliza o médico

FONTE: *DR. RODRIGO ROSA: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Instagram: @dr.rodrigorosa

Estudo: https://www.science.org/doi/10.1126/science.abj3944

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