Prematuros: É preciso olhar para a família, que também é prematura

O sonho de ser mãe e/ou pai, muitas vezes, é antecipado pela chegada de um bebê que, por algum motivo, nasceu antes da data prevista.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), as crianças nascidas antes de 37 semanas são consideradas prematuras, acontecimento que para muitos pais, famílias e redes de apoio gera inúmeras dúvidas, medo, insegurança e preocupações. No centro de todas as questões estão a saúde e bem-estar do bebê.

Neste processo, os questionamentos são incontroláveis, mas o cuidar de todos que estão junto com essa criança é fundamental para que possam desenvolver seus elos de forma segura, sem culpa, e que todos tenham a oportunidade de viver esse sonho que acaba de nascer. “Com a chegada de um bebê prematuro, os planos são modificados, mas podem ser vividos e adaptados. Mesmo com todas as intercorrências e instabilidade emocional do momento, é de extrema importância que os pais possam contar com uma rede de apoio, e com o auxílio de familiares e pessoas próximas para suportarem a nova rotina e todo aquele misto de sentimentos que o momento propicia”, comenta Eneida Souza, enfermeira pediatra e consultora em aleitamento materno da Philips Avent.

Mesmo para aquele casal que não conta com parentes ou amigos próximos, existem grupos de apoios para pais prematuros. Inclusive, as próprias maternidades costumam dar suporte nessas ocasiões, tentando auxiliar a todos nesse momento tão delicado. “Com a chegada de um bebê prematuro, devemos nos preocupar com o bem-estar da mãe e da criança, mas não podemos deixar de olhar para o parceiro ou parceira. Ao entrar no universo da prematuridade, em alguns casos, muitos acabam deixando de lado as suas próprias emoções, para manter se forte, a fim de dar suporte para a companheira e familiares”, complementa Eneida. “A depressão pós-parto atinge pais de bebês prematuros com mais frequência do que se pensava e pode durar mais tempo nos homens do que nas mulheres, o que pode comprometer a construção parental positiva”, completa.

Segundo a especialista, para aqueles pais que vivem os primeiros momentos da paternidade e maternidade sem sequer poder tocar, sentir o cheirinho, ter contato direto, amamentar ou cuidar do bebê, lidar com as incertezas e as eventualidades nestas circunstâncias faz com que as emoções se transformem em uma verdadeira montanha-russa.

A especialista alerta, ainda, que para a mãe, que carrega consigo a produção do leite materno que atende as necessidades específicas do seu bebê, é muito importante insistir na estimulação da produção do leite mesmo sem estar amamentando a criança no momento. “A extração do leite a cada três horas, por exemplo, vai estimular a produção e evitar o ingurgitamento e, em alguns casos, o secamento. Além disso, a medida do possível, é necessário descansar”, finaliza Eneida.

Pensando nessa nova rotina, a enfermeira pediatra e consultora em aleitamento materno, Eneida Souza, elencou algumas dicas para os pais, famílias e redes de apoio de prematuros.

1 – A produção de leite materno está diretamente ligada a frequência de estímulo. Ter disponível um extrator manual ou elétrico é fundamental para que a mãe consiga manter a manutenção da produção do leite materno em dia.

2 – Na UTI Neonatal, o seu bebê é cuidado por uma equipe multidisciplinar, altamente capacitada para atendê-lo. Agora, sei que não é fácil pensar em si próprio, mas, se vocês se alimentarem e descansarem, vão ter mais energia para essa grande jornada.

3 – O tempo de permanência na sala de espera ou em alguns momentos na UTI Neonatal é grande, mas a mãe precisa se alimentar e descansar para manter a produção de leite. Coma a cada 3 horas e tome líquido com frequência.

4 – O uso da concha protetora e coletora de leite com pétalas distribui a pressão na região da aréola e ajuda a evitar o ingurgitamento proporcionando mais conforto nos primeiros dias. A cada hora, alterne o uso da concha com o absorvente para seios.

5 – Dependendo da estrutura do local em que estiver, nem sempre conseguirá extrair o leite materno, mas você pode somente estimular a produção utilizando um extrator manual ou elétrico por alguns minutos. Assim, você estimula a liberação dos hormônios e emocionalmente se sente melhor por continuar a produzir o seu leite.

6 – As emoções são como uma montanha russa. E, naturalmente, ficamos tensos com todas as mudanças na rotina impostas pela prematuridade. Para proporcionar um pouco de conforto, você pode usar uma bolsa térmica para relaxar. Basta aquecê-la em água quente e colocar na região cervical e lombar. Você logo sentirá uma sensação de conforto.

7 – Um banho um pouco mais demorado ou, até mesmo, trocar de roupa e lavar o rosto, pode ajudar a renovar as energias.

8 – Fazer um diário ou apenas escrever os seus sentimentos é uma oportunidade de desabafar e colocar as emoções para fora.

8 – Façam uma playlist e ouçam juntos. Quando possível, vocês podem colocar para o bebê.

9 – Procurem conversar sobre os momentos de vocês, importante um ouvir o outro, como cada um vive esse momento. Se possível, conte com ajuda de profissionais que caminhem nessa jornada junto com vocês.

10 – Cada bebê é único, por isso, cuidado com pesquisas excessivas. O mais recomendado é tirar as dúvidas com os profissionais que acompanham e conhecem o seu bebê.

11 – Aproveitem muito os momentos que forem chamados para ver o bebê, escrevam cartinhas, levem desenhos dos irmãos, conversem com o bebê, falem sobre vocês, sobre a casa e a família.

12- Quando for possível, participem dos cuidados com o bebê, como segurar, amamentar e dar banho, pois é um intenso preparo para o período pós-alta. Tirem todas as suas dúvidas, conversem com os profissionais sobre os medos e inseguranças.

13 – Em casa tudo é novo, dê um tempo para vocês conhecerem o bebê. Sempre que possível conte com profissionais que facilitem a adaptação, como pediatra e o terapeuta de família. Os medos pelo desconhecido são reais, mas não deixem que eles paralisem vocês. Vivam cada momento e cada dia dessa nova rotina.

14 – Vocês sempre terão a memória do hospital, mas continuem a escrever a história de vocês, com as memórias da mais nova família, de um novo momento, da casa e dos momentos que estão construindo juntos.

Eneida Souza

Enfermeira pediatra, consultora em aleitamento materno pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA-CA) e terapeuta sistêmica para fa...

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