Romantização da Maternidade e os Impactos na Saúde Mental causados pela Idealização do Maternar

O Dia das Mães se aproxima e a médica psiquiatra Dra. Julia Trindade alerta para os perigos da romantização da maternidade que pode fazer com que mulheres criem expectativas irreais tendo como consequências burnout e depressão pós-parto

A maternidade é um dos momentos mais especiais para a mulher, mas, como em qualquer fase da vida, pode trazer desafios e exigir muito. Dra. Julia Trindade, Psiquiatra Membro da Associação Brasileira de Psiquiatria acredita que é muito importante identificar e prevenir o esgotamento emocional relacionado aos cuidados maternos, além disso é preciso ficar atento aos sinais de depressão pós-parto.

Pesquisa realizada no ano de 2020 pelo instituto Fiocruz (2021), tendo como tema as principais questões sobre saúde mental perinatal, aponta que no mundo cerca de 10% das mulheres grávidas e 13% das puérperas sofrem de algum problema de saúde mental, destacando-se a depressão. Já nos países com maior desigualdade de renda, tem-se altas taxas de mortalidade materna e infantil, essas taxas são ainda maiores – 15,6% durante a gravidez e 20% após o nascimento da criança.

O esgotamento materno pode ser causado por uma série de fatores, desde a falta de apoio do companheiro, da família e amigos até a pressão social para ser uma mãe perfeita, a romantização da maternidade. “Além disso, a rotina intensa dos cuidados com o bebê, as noites mal dormidas e a falta de tempo para si mesma podem contribuir para esse quadro”, reforça a psiquiatra.

A médica explique que o Burnout materno pode ser descrito como um esgotamento emocional causado pelo estresse prolongado relacionado aos cuidados maternos, combinado com as múltiplas obrigações cotidianas. Caracterizado por sintomas como: sentimentos constantes de culpa, estresse relacionado à administração do tempo, excesso de pessimismo, exaustão mesmo após um período de repouso, sentimento de fracasso e impotência, irritabilidade sem motivo aparente, falta de interesse ou prazer em cuidar do filho, baixa autoestima, tristeza, medo e insegurança.

“Apesar de não ser um termo ainda reconhecido no DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e CID (Classificação Internacional de Doenças), tem recebido uma atenção especial e foco nos estudos, especialmente após a pandemia, em que as mulheres além da demanda do trabalho, precisaram ficar com seus filhos e as tarefas domésticas relacionadas, tendo limitações dos momentos de autocuidado”. Conta a especialista.

 A Depressão Pós-Parto é uma condição que está “lado a lado” do burnout materno e pode ocorrer em qualquer momento no primeiro ano após o parto e requer intervenção médica imediata. É uma condição clínica com critérios e tratamento específico que pode afetar as mulheres após o parto. É caracterizada por sentimentos intensos de tristeza, desesperança e falta de interesse em atividades que antes traziam prazer. Também pode haver sintomas físicos, como alterações no sono e no apetite.

Cabe destacar que Burnout Materno e Depressão Pós-Parto são duas condições diferentes e é fundamental saber diferenciá-las, embora essas condições possam ter sintomas semelhantes, elas têm causas diferentes e exigem abordagens terapêuticas distintas. Por isso, é crucial que a mãe busque ajuda profissional para um diagnóstico preciso e um tratamento adequado”. Explica Dra. Julia Trindade.

Como evitar o Burnout Materno

A psiquiatra explica que algumas medidas podem ajudar na prevenção do Burnout Materno: a construção de uma rede de apoio, a realização de atividades prazerosas e a reserva de tempo para cuidar de si mesma. É fundamental lembrar que a mãe também precisa de cuidados e apoio emocional, e não apenas o bebê.

“Para ajudar uma mãe sobrecarregada, é preciso oferecer ajuda prática e emocional. Isso pode incluir evitar visitas em horários críticos, como a hora da soneca, oferecer-se para levar o lanche ou segurar a criança enquanto ela toma um banho tranquilo ou faz um cochilo e convidar a mãe para um momento de distração. É importante ouvir e validar os sentimentos da mulher e lembrar que ela não está sozinha”, destaca a médica.

A mulher precisa se sentir cuidada e apoiada, e não apenas cobrada para ser a supermãe que a sociedade espera. Ao reconhecer o burnout é preciso buscar ajuda o quanto antes: procurar um psiquiatra, terapia, a médica informa que algumas mulheres precisam ser medicadas.

“Ter um bebê é uma experiência individual e particular e quando se fala em maternidade, não existe uma maneira certa ou errada de vivenciar esse momento”. Finaliza a psiquiatra

Fonte: Dra. Julia Trindade | Psiquiatra – drajuliatrindade – Médica Psiquiatra – CRM 24363 – RQE 1489 Formada em Medicina pelo Universidade Federal de Pelotas, e Psiquiatra pela Universidade Federal de Santa Maria. Membro da Associação Brasileira de Psiquiatria. Pós-graduada em Neurociências do Comportamento pela PUCRS. Especialista em Terapia Dialética Comportamental. Certificada pela Harvard Medical School em General Pschychiatric Management for Borderline Personality Disorder. Possui formação em Mindfulness para saúde do Instituto BreathWorks. Especialização em andamento em autismo. Projeto Farmacologia Aplicada à Medicina para o tratamento de paciente com TEPT (Transtorno do Estresse Pós-traumático) Psiquiatra Geral e da Infância e Adolescência na Rede Municipal de Biguaçu de 2017 a 2019 Curso de manejo de pacientes na emergência psiquiátrica.

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