O estado nutricional, o desbalanço no consumo de calorias, a genética e os hormônios são cada vez mais discutidos como fatores que, de forma conjunta, influenciam o crescimento e o desenvolvimento da puberdade.
É bastante comum crianças com obesidade serem maiores que as demais crianças da mesma idade, pois apresentam um crescimento acelerado e avanço do amadurecimento dos ossos. Dra. Ludmila Pedrosa, endocrinologista pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) explica que os adipócitos — as células de gordura – secretam várias substâncias com ação em todo nosso corpo, inclusive no sistema nervoso central. Essas substâncias, chamadas adipocinas, têm influência direta no crescimento e na puberdade.
Além disso, a influência do peso da mãe sobre o risco de a criança ter obesidade tem sido alvo de muita discussão. Um estudo de 2019 com dados de mais de 160 mil mães e bebês da Europa, América do Norte e Austrália mostrou que, em média, 2 em cada 10 crianças tiveram excesso de peso que foi influenciado pela presença de obesidade na mãe materna ou excesso de ganho de peso da mãe durante a gestação.
“Várias alterações típicas de pessoas com obesidade, como aumento de substâncias inflamatórias no sangue e pré diabetes, criam um ambiente desfavorável para o desenvolvimento do bebê dentro do útero, que influencia seu crescimento e até mesmo determina a expressão ou não de alguns genes. Resumidamente, o excesso de peso da mulher durante a gestação altera a “programação” do corpo do bebê e traz prejuízos que afetam, também, a vida da criança quando adulto,” explica a médica.
Crescimento pós-natal nos anos pré-puberdade em crianças com obesidade
O crescimento do bebê do nascimento até a fase da puberdade é influenciado pelo estado nutricional, os hormônios e a genética. Os mecanismos pelos quais a obesidade estimula o crescimento ainda não são totalmente esclarecidos.
Estudos mostram que várias substâncias que estão aumentadas no organismo de pessoas com obesidade têm ação tanto no estímulo do crescimento quanto na antecipação da puberdade e na aceleração do amadurecimento do osso, que faz com que a criança pare de crescer antes do adequado para sua idade.
Assim, isso explica o porquê de crianças com obesidade geralmente serem mais altas que o esperado na infância, mas não manterem essa altura maior na vida adulta. “É curioso pensar que crianças com obesidade têm uma menor secreção do hormônio de crescimento (GH) e que, além disso, tem seu tempo de ação no corpo reduzido, por ser filtrado mais rapidamente. Apesar disso, crianças com obesidade geralmente têm um crescimento dentro ou até acima do esperado (apesar da redução da secreção de GH). Isso provavelmente ocorre, pois outras substâncias que potencializam a ação do GH estão aumentadas na obesidade. Além disso, outras substâncias, como a insulina (que tende a estar aumentada na obesidade), também atuam como estimuladores diretos e indiretos do crescimento.” Explica Dra. Ludmila.
O efeito do excesso de peso sobre a antecipação da puberdade é bastante nítido, principalmente nas meninas, e parece que várias substâncias e hormônios contribuem para isso.
Em 2009, um estudo com meninas dos Estados Unidos confirmou o que tem sido observado ao longo dos séculos: o aparecimento das mamas e, assim, o início da puberdade nas meninas acontece mais cedo quando há excesso de peso. Além disso, garotas com excesso de peso, seja sobrepeso ou obesidade, têm maior chances de ter a menarca (primeira menstruação) em idade mais precoce.
Todos esses dados fazem com que um enfoque cada vez maior seja dado à importância do controle do peso em meninas com quadros de antecipação puberal. Em contraste, a relação do excesso de peso nos meninos com o início da puberdade ainda não é tão clara. Apesar disso, a endócrino pediatra explica que a obesidade no sexo masculino impacta na função reprodutiva, com redução do número de espermatozoides e piora de sua função.
O ganho de peso na fase da puberdade é influenciado, basicamente, pelo estado nutricional e pela genética. Alimentação equilibrada é peça-chave para evitar o sobrepeso e a obesidade e assim, garantir o desenvolvimento da puberdade no momento apropriado.
Fonte: . Dra. Ludmila Pedrosa, endocrinologista pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) CRM 165215 @draludpedrosa