Com que Idade Posso Dar um Celular Para o Meu Filho?

Os caminhos para descobrir se a criança está preparada para essa responsabilidade e como as famílias podem ajudá-la a usar telas de forma saudável e segura

Em praticamente qualquer ambiente, ao primeiro olhar, é possível notar pessoas concentradas nas telas de seus celulares. E cada vez mais essa tecnologia passa a fazer parte também de outro espaço: a escola. Observando os amigos com seus dispositivos, e claro, os adultos, não raro a criança passa a sonhar em ter o seu também. Então, vem a pergunta de muitas famílias: “com que idade eu posso dar um celular para o meu filho?”
 

Para Luciana de Castro Diniz, pedagoga e consultora pedagógica do LIV, é importante que as famílias analisem se a criança está preparada para essa responsabilidade e reflitam se também estão preparados e disponíveis para acompanhá-la. “É certo que a internet pode trazer tanto benefícios quanto malefícios. Enquanto ferramenta, seu uso pode ser muito útil, mas também muito perigoso. Afinal, ela exige um filtro que, talvez, a criança ainda não seja capaz de fazer, o que acaba por demandar a vigilância do adulto. Então, é muito importante que as famílias tenham essa disponibilidade e mantenham diálogos com seus filhos e filhas. É através dessas conversas que as famílias vão estabelecer as regras, criar um espaço para que a criança se sinta segura para comunicar qualquer situação atípica e também aprender sobre como usar o recurso”, explica.

Efeitos do isolamento social

Durante a pandemia, com famílias trabalhando de casa e crianças confinadas, sem a opção de circular, de gastar a energia como estavam habituadas, de brincar com amigos e explorar outros lugares, muitas passaram a ficar mais tempo em contato com telas.

 

Segundo a pedagoga, essa é uma das grandes preocupações das famílias atualmente. “A recomendação da Organização Mundial da Saúde é de não utilizar nenhuma tela até o primeiro ano de vida da criança e, até os cinco anos de idade, a recomendação é de 60 minutos diários. Mas, ainda sim é importante pensar em quem é essa criança, na sua individualidade e avaliar esse tempo de uso diário. No momento atual em que estamos vivendo, isso pode ser um grande desafio. Para tentar diminuir esse efeito, o ideal é estimular as crianças a fazerem atividades junto com as famílias, até mesmo as de rotina da casa, como ajudar na organização, no preparo dos alimentos e também incentivá-las a explorar os ambientes e brincar sozinhas. É importante lembrar que existe o que é ideal e o que é real=possível. Nem todos os dias vão funcionar como desejamos. Uns dias vão ser melhores, outros vão ser piores. Vai ser preciso flexibilizar as regras e refazer acordos”, aconselha.

Formas saudáveis de usar as telas
 

A geração que cresceu nos anos 80 e 90 tinha, muitas vezes, suas rotinas organizadas pelos horários da programação de TV. Hoje, muita coisa mudou. Surgiram canais só para crianças e plataformas como Netflix, YouTube, Amazon Prime, entre outros, que oferecem uma vasta programação e temas específicos para esse público. Mas, apesar de existir uma grande oferta de programas direcionados para eles, nem sempre são programas adequados, algumas vezes estimulam a violência, o consumismo, ou apresentam conteúdos vazios.

Pensando nisso, será que podemos, então, utilizar as telas de formas mais saudáveis? “Hoje em dia existe uma variedade de programas infantojuvenis e, uma questão que preocupa a todos, é o fato da criança passar horas seguidas emendando um episódio no outro, por exemplo, sem sair de frente da tela. Mas, há sim formas saudáveis para as crianças utilizarem as telas. Por que não procurar, por exemplo, desenhos que apresentam realidades diversas? Existem animações de todos os cantos do mundo, e muitas brasileiras também. E se aproveitarmos esse momento para incentivar algum novo aprendizado acessando plataformas de ensino de língua estrangeira? Há muitas opções lúdicas online”, incentiva Juliana Hampshire, educadora brincante e coordenadora pedagógica do LIV.

Além disso, pensando nesses recursos como aliados, as famílias precisam se certificar sobre como estão expondo o conteúdo para as crianças. A educadora dá algumas dicas valiosas: “Selecionando esses filmes, séries, animações, é muito importante que os responsáveis pensem em segurança na internet também, já que nem sempre conseguirão estar ao lado da criança acompanhando. Alguns métodos que podem ajudar são restringir por idade, bloquear conteúdo e fazer download para que os programas não acabem derivando para canais inapropriados”, ensina.
 

Outra sugestão interessante dos especialistas do LIV é criar um calendário de atividades junto com as crianças com temas para cada dia. “Podemos incentivar as crianças a fazerem visitas virtuais a museus com os mais diversos acervos, assistir também a peças de teatro online, shows nacionais e estrangeiros. Podemos, ainda, subverter a lógica da passividade das telas. Um dos argumentos para a restrição de tempo que a OMS estipulou é o significativo aumento dos índices de obesidade infantil. Mas, se estamos tão habituados a sentar contemplativos diante da TV ou do computador, por que não buscar uma parceria corpo-tela? É possível procurar por jogos de dança e interagir com outras pessoas remotamente, para além de canais de karaokê e até de práticas corporais como yoga para crianças. Podemos recriar jogos de mímica, STOP, Imagem e Ação, e muito mais.”, finaliza Juliana.

– Laboratório Inteligência de Vida – O LIV é o programa que desenvolve o pilar socioemocional nas escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e de escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo. Está presente em 500 instituições de ensino em todo o Brasil, alcançando 200 mil alunos.



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